terça-feira, 28 de junho de 2011

Lua

toda a luz do sol
cabe no corpo pequeno
da lua cheia.

Responsabilidade

É talvez a expressão mais sagrada da biblia liberal. A responsabilidade individual. Já que a liberdade está garantida (há campanhas, elições, não há censura nem polícia política, a justiça é independente,...) pode-se descarregar responsabilidade nos ombros dos indivíduos. " Tens opção, por isso se estás assim é porque usaste mal a tua responsabilidade e a liberdade que te foi dada". Pobre Zé Ninguém depois de tudo o que aconteceu ainda é por sua culpa...
Lembrei-me desta reflexão ao constatar que todo o o nosso aparelho democrático que elege os nossos deputados, presidente, etc. está vergonhosamente dependente das tais agências de "rating". Diz-se "Não os enervem, não os chateiem senão é pior!". Mas quem são essas agências? Quem elegeu os seus directores? Quem sufragou as suas opções? Ninguém. Elas são o poder nú, real e impiedoso do dinheiro sobre a política. E aqui vemos a armadilha da liberdade e da responsabilidade. E temos que fingir que acreditamos que é verdade...


detrás do cenário
os barrotes e as ripas -
seguram um jardim.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O tempo ainda

Duas citações: uma da Rainha Vitória no leito de morte a suplicar "Só mais um minuto"; a outra de José Saramago a responder à questão: "O que é que ainda precisa depois de uma vida tão cheia de sucesso?". Ele respondeu "Tempo".
Quando nos apercebemos que o nosso tempo é finito e breve e que a vida tal como a conhecemos teve uma longa existência sem nós e terá uma longa existência também sem nós, percebemos o quão precioso é o nosso tempo de vida. Cada texto desproveitado, cada espera sem resultado, cada momento que consumir as nossas energias e que não produziu nada de útil ou prazeiroso para nós ou para os outros, é um tempo desperdiçado.
Mas o mais dramático é o seguinte: mesmo que tivessemos aproveitado cada segundo da nossa existência o tempo fugir-nos-ia da mesma forma. Talvez mesmo mais porque sabendo o quanto ele pode render saberíamos melhor o que é perdê-lo. O tempo - agora mais que o espaço - está no centro da nossa limitação como humanos e, por isso, tentamos tão afincadamente (e tão inglóriamente) lutar contra a sua passagem.


queima a partida
suga a chegada...
que caminho resta?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Como diria o Sérgio Godinho

Hoje fiz um novo amigo: Reinar Oschewsky: um educacdoer alemão que como eu é formador da École Superieure D'Éducation Nationale (Poitiers - France). Famos longamente sobre o tempo a própósito de um artigo publicado na revista GEO sobre o mesmo tema. Ele perguntava que se há tantas concepções de tempo porque é que vivemos e sujeitamos as nossas crianças na escola e na vida a um ritmo que nos torna doentes e escravos de um aparelho (o relógio pessoal) que só foi inventado no sec. XIX?
Quanto tempo leva a comprar um selo em Portugal? E na Alemanha? Quanto tempo leva a percorrar 100 metros em Nova Iorque? E em Lima? E há povos para quem o futuro e o passado não fazem sentido porque o tempo é circular.
E eu que pareço o coelho da Alice "sempre atrasado!...sempre atrasado!", lá vou ouvindo e falando a ver se alguma vez isso se converte em atitude.

estou atrasado
para as três horas de espera
no médico.

sábado, 11 de junho de 2011

Hoje há estética

Falava ontem com o meu amigo e compositor João Nascimento. Falavamos da valorização da obra (de arte) que se produz. Perguntava ele: quem é que é qualificado para sancionar alguma produção como boa, "artística", original, etc.
1)A história está recheada de enganos clamorosos que levaram a incensar mediocridades e a esquecer obras geniais.
2)Também não é muito de confiar no "tempo". Quantas camadas de terra lançou este "tempo" sobre obras que mereceriam fazer-nos assídua companhia?
3)E a crítica? Bom disso é melhor nem falar... Quantas vezes a crítica do tempo falha cruelmente as suas apreciações em nome de interesses ou gostos locais e mesquinhos?
- Em quem repousar pois? - perguntava o meu amigo.
E eu acho que é em nós, nos criadores sejam eles do tamanho que forem. Cada um é o melhor avaliador da sua obra. E, se não for megalómano ou deprimido, fará uma avaliação do que faz muito perto do que a obra vale. Quem poderá melhor julgar as intenções, as dificuldades, a mensagem, as ambiguidades? É o autor. E se não for ele... a obra fica à deriva, à espera que alguém lhe dê um sentido que o autor não lhe conseguiu dar.


escolhido pela abelha
o alho porro olha
as violetas.

Hoje

um chapéu de jornal
e a criança é um general -
feliz...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tempo

cresce o vento -
as folhas do calendário
voam rápidas.


parado -
agora vê-se que o pião
está partido.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

De hoje...

alba de Verão -
o dia já parece
curto.


o cruzeiro
entra no porto
frente ao sol nascente.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Yvette Centeno de frente para o Mar

Não adianta sublinhar a grande admiração que tenho pela postura humana, crítica e académica de Yvette Centeno. Yvette é uma daquelas pessoas de quem sempre se espera o melhor e que sempre nos surpreende porque é melhor do que o que nós esperávamos.
No seu blog (literaturaearte) publicou em Novembro de 2010 (faz agora 6 meses) um texto sobre o livro "De Frente para o Mar" que eu organizei e que Yvette honrou com a sua participação. E aqui fica o texto (Obrigado, Yvette!)



Este livro, concebido e coordenado pelo poeta e orientalista David Rodrigues, com o belo título que nos faz olhar de frente para o mar, seja na vaga inquieta da emoção ou num embalar mais suave de alma, é a minha escolha de momento.
Precisamos da meditação que a arte do Haiku japonês nos ensina : olhar atento, distância, aprofundamento, na era de vertigem que é a nossa.
Encontro, junto de David, amigos de outrora e de sempre.
Também o reencontro é algo de benéfico: fala da vida continuada.
Abrir o livro e ler, em páginas de acaso, permite descobrir como a escolha foi cuidadosa, como a unidade é íntima, é perfeita, em todos os elementos.
Uma tal sensibilidade e elegância merece, da nossa parte, o destaque e a gratidão.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palmas

Palmas: o sonho dos artistas. O sonho de todos os que gostariam que o seu trabalho fosse reconhecido. Trabalhar só para as palmas é uma preversão, encher-nos com uma salva delas, é uma recompensa.
"Ele há tantas palmas": palmas jovens, estaladas, frequentes e ávidas. Há outras maturas, sapudas, esparsas e algo distantes. Umas e outras sabem bem a quem sabe que as palmas mais verdadeiras são aquelas que irrompem na nossa cabeça quando sentimos que fazemos algo de bem ou de bom. O resto é "a espuma dos dias"...


acabou a música
voaram os pombos
o cego agradeceu.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sol e sombra.

teu corpo de sol:
tudo gira à tua volta
à sombra do plátano.


your sunny body:
everything turns around you
at the plane tree shadow.



debaixo da torneira
a relva é mais viçosa -
tardinha de verão.


under the tap
the grass is more green -
Summer afternoon.

sábado, 21 de maio de 2011

Tá na hora do Jacarandá!

Todos os maios, pontualmente, Lisboa fica roxa de flores do jacarandá. Avenidas inteiras, grupos de três ou quatro, árvores a assumar a rua, eles lá estão. Pontuais, fieis, esperençados na regularidade e embaixadores da beleza. Não há elo mais espalhado que ligue Lisboa, a cidade das descobertas ao Brasil o país das descobertas...


manhã de Maio -
o carro está coberto
de flores de jacarandá.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Haikus Brancos

a flor branca
só depois da noite
sabe a cor que tem.


na espuma da praia
por baixo no branco
todo o arco íris.


um ponto na folha branca -
não consigo
ver mais nada.


vi no catálogo
quantos brancos
tem a tua pele.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Trovoadas

sobre a pele húmida
as primeiras gotas -
eu e céu aliviados.


as árvores paradas -
sob o céu de chumbo
esperamos a chuva.


á chuva
parte as protecções do trovões
depois, soam soltos.


começa ao longe
como um restolho -
a labareda é aqui.


abre as fontes
e grita por mim:
oh trovoada!

sábado, 14 de maio de 2011

Monica Martinez

Monica Martinez, haijin brasileira de mérito, autora do blog espacodohaicai.blogspot.com (a visitar!) escreveu o seguinte sobre o livro "De Frente para o Mar":


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Livro traz haicais de Portugal

Ao abrir a caixa de correspondências hoje tive uma surpresa: um envelope A5 vindo de Portugal. Nele, o livro De Frente para o Mar – poesia haiku contemporânea, organizado pelo professor universitário, músico e poeta David Rodrigues, de Lisboa, e lançado pelo selo Palimage, de Coimbra.

A capa elegante, vermelho sobre negro, chama a atenção. Na hora do almoço, li o conteúdo do princípio ao fim. Descobrir o haicai feito hoje em Portugal é uma experiência encantadora.

Ela me lembrou da vez que fui participar de um congresso na Ilha da Madeira. Além da paisagem exuberante, recordo-me da sensação muito peculiar de se visitar um país do mesmo idioma. Há uma familiaridade gostosa, afinal várias palavras e hábitos são os mesmos. Vários, mas não todos. Assim, ocorre uma sensação de se estar em casa e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, de se estar em uma deliciosa viagem. Qual o sentido da palavra nortada? E da expressão rasa à água? Algo como expresso pelo filósofo e crítico literário alemão Walter Benjamim (1892-1940) quando ele fala das duas famílias de narradores, representadas pelo camponês sedentário e pelo marinheiro comerciante.

Em pouco tempo, percebi que a emoção foi mais forte que a razão. Não importava desconhecer o significado desta ou daquela palavra. A experiência poética ultrapassava estes limites da linguagem e as imagens puras e cristalinas que haviam impressionado os dez autores desta antologia atravessavam o mar e me atingiam em cheio.

Tomo a liberdade de compartilhar uns poucos haicais da coletânia. Alguns são próximos dos haicais puristas japoneses, a moda de Bashô, como praticamos no Grêmio Haicai Ipê de São Paulo, com sua métrica precisa:

A escarpa agreste –
Malmequeres amarelos
Respirando o mar
Leonilda Alfarrobinha

pôr-do-sol no mar!
Só o olhar fica para cá
Do horizonte.
David Rodrigues

Anoitecer de Setembro:
Um casal abraçado
Na varanda
Yvete Centeno

Outros, libertos da métrica, flutuam como o do poeta Albano Martins, professor da Universidade Fernando Pessoa, do Porto:

Diz o vento
Ao mar: sem mim,
não podes voar.

Ao terminar a leitura, fica o deslumbramento pela produção destes poetas portugueses que buscam a difícil arte de forjar em palavras o essencial, como pedem os haicais.

Por fim, lembrei-me que Benjamim falava que o sistema corporativo medieval contribuiu para a interpenetração das duas famílias narrativas, uma vez que o mestre sedentário e os aprendizes migrantes trabalhavam juntos na mesma oficina. Para o alemão, haviam sido os mestres artífices que haviam aperfeiçoado a arte da escrita. Fiquei a imaginar como seria uma mistura de haiku brasileiro e português contemporâneo, dos haikais de lá com os haicais de cá. Mas isto é conversa para outra hora, que agora vou reler este livro com a merecida calma, pois vale muito a pena!

Monica Martinez

sexta-feira, 13 de maio de 2011

World Anthology About War

O poeta Dimitar Anakiev da Eslovénia está a organizar uma antologia mundial de poesia Haiku sobre a guerra. Convidou-me para participar e eu mandei-lhe alguns poemas do meu livro "Gaza" que vão integrar a antologia. Quando ela vir a luz do dia, dou aqui a informação.
E fica aqui um destes haiku:

previsão do tempo -
alguém sabe o futuro
em Gaza.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O raio dos hábitos

"Raio dos hábitos" é como poderíamos traduzir em linguagem popular o conceito sociológico de "naturalização". "Naturalização" quer dizer em duas palavras que nós. pelo hábito, assumimos como naturais coisas que, se pensarmos bem nelas, são profundamente absurdas.
Ontem tive o exemplo da validade das certidões. Todas as certidões que se pedem têm uma validade (normalmente de 3 ou 6 meses). Isto é normal e natural para nós mas ficam três perguntas:

Uma certdão de nascimento caducada quer dizer que o indivíduo regressou ao ventre da mãe?
Uma certidão de casamento caducada significa que o indivíduo ficou solteiro (ou divorciado ou viúvo)?
Uma certidãode óbito caducada quer dizer que o indivíduo ressuscitou?


A viver assim na companhia de absurdos como é que nós podemos ser melhores do que o que somos?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

3 ideias sobre livros

Tanto se escreve nos livros e sobre os livros que estas 3 ideais correm o mais que previsto risco de serem banais. Mesmo assim...
1. Um livro, seja qual for, vive para quem o lê. Sem leitores o livro não é mais um maço de folhas de função desconhedida. O livro é um objecto intrinsecamente incompleto. Recentemente visitei nos Açores um "outlet" de livros. Foi uma visita muito perturbadora: num armazém estavam milhares, muitos milhares, de livros a que vulgarmente se chama "monos". Livros novos, lindos, bem encadernados e com um design atraente: mas nunca abertos. Podem crer que fiquei verdadeiramente triste.
2. Mesmo quando vive o livro é intrinsecamente efémero. Ao ler o leitor salta páginas, parágrafos e às vezes capítulos. Mas este livro adquire no final o estatuto de "lido". Quantas vezes relemos um livro já "lido"?
3. Apesar de incompleto e de efémero o livro é um poder. É o poder de saber o que ele diz, o poder de o ter (e poder vir a saber mais tarde) o poder de guardar e ter o conhecimento que ele tem.



castanheiro em flor -
quantos livros
estão em ti?


tento adivinhar
o que vai ficar escrito
no tronco do eucalipto.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Os nós e os laços

É este o belíssimo título do romance de António Alçada Batista. Um título tão inspirados que continua a ser usado quando se pretende falar de afectos.
Aqui fica mais uma variação:

Nós somos os nós e os laços
Temos laços e temos nós.
Os nós são caroços de afecto,
o amor em grumos que não se dissolveu.
os laços são os nós do querer
os que se dão por vontade
e que enlaçam.

Quando entardece
passamos os dedos pelos nós
e perdemo-nos no olhar
a fazer e a desfazer laços.
Laços provisórios
que ficam ou de partem.
Mas são eles, os frágeis
que mais resistem e mais amparam.
É que a esperança dos nós
resume-se à lâmina.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Computhaiku

Já sei que este blog se publica em português. Mas não resisti a publicar esta notícia saída no jornal inglês "The Independent". Não resisti e tive perguiça de a traduzir.
Mas vale a pena let e visitar o site. Basho deve levantar suavemente a sobrancelha ao ouvir que os computadores já nos podem ajudar a escrever um haiku!!!






Web-only Haiku Laureate
By Matilda Battersby
Arts
Tuesday, 3 August 2010 at 5:31 pm

Haiku is a form of Japanese poetry consisting of 17 syllables (or moras) in three lines of 5,7 and 5. Poetry lovers reading this will no doubt conjure quotes from Bashō and enjoy quibbling as to whether “syllable” in English is the correct translation of an “on.”

But now there is plenty more to be quibbled with from a website calling itself the Haiku Laureate which generates the strictly formatted verse via internet algorithms and not through inspiration of truth or beauty.

The site’s concept is this: users can type the name of a place or an address into a text box, click “go” and a perfectly formed Haiku will be delivered after the system has used Flickr to find images near that location and skimmed through the titles of those images to form a list of words associated with it.

I typed in High Street Kensington, where The Independent’s offices are located and this is what it came up with:

kensington the street
high london of gardens roof
whisper and no church

Apart from the fact that there are several churches on High Street Kensington the poem is pretty evocative. And the reference to “gardens roof” has more to do with the posh members club than any actual gardens on roofs in the vicinity.

I typed in “Outer Hebrides” in an attempt to confuse the Haiku laureate, and within seconds it produced:

the lewis sunrise
and snow mountains majestic
of harris cairn wire

Poets beware.

domingo, 1 de maio de 2011

CC Zero

Parece ser do senso comum que se vende um produto por aquilo que ele tem ou que faz. Digo "parece" porque as preocupações ambientais e de saúde começam a deixar de publicitar artigos "com" e começam a anunciar artigos "sem" (sem corantes, sem sulfitos, sem açucar, sem..., sem...,)
Mas agora atingiu-se um novo paramar: ia comprar um refrigerante que se chamava "zero"! E zero porquê? Porque não tinha açucar, não tinha cafeina, enfim não tinha nada o que tinha tornado conhecido esse refrigerante. E custava um euro e 35 cêntimos. Eu pensei "Vou pagar este dinheiro por um artigo que se anuncia a si próprio como um zero?".
Passada a primeira decepção lá me dirigi à caixa do supermercado com dois zeros debaixo do braço...


ar da montanha -
o que não vem no programa
é o melhor.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril

37 anos depois do primeiro 25 de Abril quero celebrar e comemorar todas as realidades e utopias que o 25 de Abril soltou. Talvez nada melhor para resumir este sonho que a última canção que José Afonso editada no disco "Como se fora seu filho" em 1983. Aqui fica como meu estremecimento e com a minha "pele de galinha" quando a leio:


Utopia


Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?

domingo, 24 de abril de 2011

Domingo de Páscoa

Até os evangelhos são prudentes: quando o corpo de Jesus não é encontrado no túmulo,aventa-se a hipótese: "Será que o roubaram?". Trata-se de uma pergunta "de efeito" só para tornar mais forte a conclusão que o corpo de Jesus não foi roubado: ressuscitou. A ressureição de Jesus tornou possível, ainda que simbólicamente a grande esperança do cristianismo: a vida eterna e com ela a justiça sobre os nossos actos. Já S. Paulo escrevia: "Se Jesus não ressuscitou, é vã a nossa fé".
Claro que a ressureição dos mortos levanta problemas incompreensíveis para a nossa diminuta inteligência e, tal como a re-incarnação, coloca um sem número de questões sobre o possível modo com pode acontecer. Mas adiante...
Hoje, Domingo de Páscoa de 2011 quero celebrar duas coisas:
1. O facto de se celebrar a "ressureição" do Jesus que disse "Bem-aventurados os mansos de coração porque deles é o reino dos céus" ou ainda "Fazei aos outros o que gostariam que vos fizessem a vós". É uma grande esperança pensar que um Homem destes e sobretudo os seus valores, não morreram.
2. Quero ainda celebrar a vida. A nossa vida. Tão curta, tão incerta, tão desperdiçada, mas mesmo assim tão única e tão preciosa. É lógico que não nos conformemos com o seu fim: ela é tudo o que realmente conhecemos, ela é tudo o que podemos ter alguma evidência que existe.
A morte e a ressureição de Jesus tornou-se uma fantástica parábola sobre o nosso tempo e continua a ser uma das estreitas janelas por onde pode escapar a nossa esperança.


há mil anos
a oliveira ressuscita.
todos os anos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma variação

O carácter espentâneo do haiku verifica-se quando se capta o indizível discernimento sobre "aquele" momento. Depois desta captação, traduzir o que se intuiu para palavras, não tem muito de espontâneo: na minha opinião é um trabalho de relojoeiro (do tempo em que os relojoeiros não só vendiam relógios mas que os sabiam reparar). Por vezes transportamos connosco uma ideia que pode ser um haiku durante muito tempo. Mesmo depois de o escrever, ficamos em dúvida. Eu fico sempre em dúvida mesmo depois de ter escrito a décima versão...
Aqui fica uma segunda versão de um dos haiku de ontem. Que se ganhou? Talvez um ambiente mais perguiçoso e de crepúsculo, talvez uma maior sensualidade, talvez uma indeterminação que pode estimular o pensamento do leitor (os dedos são de quem?)
Aqui fica:

tarda a noite -
os dedos lentos
à volta do copo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

3 de hoje

devagar para longe
ou rápido para perto?
tartaruga ou lebre?



fim de tarde
lento, à volta do anel,
o teu dedo.



das tuas mãos
recebo o livro de filosofia -
nem sei o título.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O tempo e a passadeira rolante

Durante a nossa vida
temos a andar, ao nosso lado,
uma passadeira rolante.

Quando nascemos,
não a conseguimos acompanhar:
não fossem os adultos
e ficaríamos
lá,
muito atrás.

Depois crescemos.
Ficamos fortes e rápidos.
Tão rápidos
que até pensamos
que a passadeira
de tão lenta
nunca vai sair do sítio.

Mas...
mais tarde, quando os anos passam
a passadeira volta
a andar mais depressa.
Já não a acompanhamos:
andamos ao seu lado
a passo
e, mais lentos,
aproveitamos para olhar
o nosso caminho
e o dos outros.

É da natureza da passadeira
ser constante
e nunca parar.
Pertence à nossa natureza
ser irregulares
e ter de parar...
um dia.

sábado, 9 de abril de 2011

Adília Lopes

No livro "Resumo - a poesia de 2010" editado pela FNAC e que custa (oh excepção!) 4 Euros, estão publicados alguns poemas da poeta(isa?) Adília Lopes. Não tendo a forma de haiku são poemas que estão impregnados da filosofia do instante, da síntese e da natureza. Com a devida vénia, transcrevo três deles:


À noite
com a iluminação pública
as sombras dos choupos
nas cortinas das janelas
da minha sala


Na vida e no poema
dar menos um passo.


A minha varanda velha
com quatro gerânios velhos.


Muito lindo!

Caracóis...

- Foge! Vem aí a águia!
- Se me tivesses dito ontem...
disse o caracol.

O ninho da garça

"The Heron's Nest" a excelente revista de haiku editada nos Estados Unidos vai publicar um haiku meu. E ele aqui fica em lançamento exclusivo:

dry leaves--
between each step
a silence

quinta-feira, 7 de abril de 2011

De hoje...

desde que nasceu
que o robusto castanheiro
ouviu falar de crise.


as papoilas
esperaram todo o Inverno -
e aí estão.


campo de Primavera!
Quanto da terra
são sementes!


onde estavam
todas estas flores
quando eu estava triste?


o ar cheira a mel -
as abelhas correm
a guardá-lo.

domingo, 3 de abril de 2011

Livre Circulação

"Livre Circulação" é o nome de uma exposição com obras da Fundação de Serralves no Centro de Arte Manuel de Brito em Algés (Oeiras). Trata-se de uma exposição de arte contemporânea que, como de costume, nos procura surpreender e mostrar que fazemos circular o nosso olhar, o nosso gosto e as nossas ideias sobre carris.
Alguns trabalhos chamaram-me a atenção por procurarem de forma deliberada imitar a Natureza. Imitá-la sem sobranceria mas desnudando os pobres maquinismos que dispomos para representar ou simular a Natureza. Os trabalhos sobre as ondas do mar, o vento nas palmeiras e as nuvens eram muito ilustrativos tão pouco que o homem é capaz quando quer representar ou recriar a Natureza.
E fica as perguntas: onde é que nos perdemos para precisarmos de representar a Natureza para nos lembrar o mar, as palmeiras e as nuvens de verdade? Onde é que as podemos voltar a encontrar?


linda foto do mar -
e o vento? A maresia?
- Ficaram lá.

sábado, 2 de abril de 2011

Lançamento do Livro



Aquelas paredes respiram, transpiram e aspiram por literatura. O Grémio! Foi mesmo ali que nos juntamos para lançar o livro "De Frente para o Mar". Cada autor presente (e estiveram 5 ) apresentou uma reflexão sobre o haiku e sobre a sua forma de escrever haiku. Foram momentos especiais e muito ricos.
Esteve também presente o editor Jorge Fragoso. Retenho, para reflectir a frase que ele pronunciou "A poesia não serve para nada". Não serve para nada? Ai serve, serve. Mesmo na era em que nos pretendem impingir que a economia é tudo. (Isto é: é toda a nossa desgraça!)
Querem escrever um comentário a dizer para que é que a poesia serve?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Nelson Savioli

Divulguei há pouco tempo a publicação do livro do poeta (ou melhor, haijin) brasileiro Nélson Savioli "Insistente Aprendiz".
Mas faltava divulgar alguns dos seus haicais.
E aqui estão com um aceno amigo:



Mãos flutuam
Garimpando sons.
Ah, primavera!

Manhã outonal.
Os primeiro sons da manhã
vêm pelo rádio.

A orquestra destoa —
maestro com uma mosca
na ponta do nariz.

Passa o caminhão,
olhos fitos no horizonte,
o cão viaja.

terça-feira, 29 de março de 2011

Vergonha

Eu sei que este blog foi feito para falar de poesia. É quase uma infracção falar de outra coisa que não seja disso mas...
Lá vêm os "mas"...
Tenho que dizer que nunca como hoje senti vergonha de ser português. Uma anónima e perversa agência de "rating" escreveu hoje que "Portugal estava no bom caminho, mas devido à instabilidade política, baixou dois níveis na confiança dos empréstimos".
O quê? Estavamos no bom caminho (equilibrando-nos numa corda instável) e abrimos uma crise política que desbarata a pouca confiança que ainda tinham em nós? Que políticos são estes que descaradamente preferem "ir ao pote" do que salvar os salários, as pensões, a riqueza e o país? Com que cara vou ao estrangeiro e dizer "Sou português!"?
Hoje sinto vergonha de ser representado por políticos gananciosos, estúpidos e patriotas hipócritas. QUE VERGONHA!!!

domingo, 27 de março de 2011

Guimarães e as Cabras

Saiu nos jornais de ontem esta formidável e criativíssima notícia: Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012, vai usar cabras para aparar as relva e para limpar os espaços públicos. Como é que ninguém se tinha lembrado disto antes?
Mas... (Ah... os mas...)
Um dos argumentos que foi mais convincentes para a disseminação do automóvel foi o seu carácter anti-poluidor. Imaginem, quando se viam as ruas cobertas de bosta de cavalo, de burro e de boi, o "limpíssimo" que o automóvel pareceu aos nossos antepassados... Passados 100 anos o automóvel alcandorou-se em "poluidor mor".
Está-se a ver a relação: se as cabras aparam a relva e comem o lixo, quem é vai apanhar a "poluição mérdica" que elas vão deixar pelo caminho? (Será que vão com uma fralda que diz "Guimarães - Lugar da Cultura 2012"?

as cabras
trocam o lixo da rua ~
qual era o melhor?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Workshop de Haiku




Fiz na semana passada um workshop sobre poesia haiku no Instituto de Odivelas. Tudo correu naquele ambiente que nos redobra a confiança no presente e no futuro.
O grupo das alunas (ver foto) revelou-se interessadíssimo e, convidadas a escrever um haiku, só nos presentearam com excelentes textos. A Profa Carmo Dias foi a desencadeadora do processo que teve também a presença de outros professores.
Obrigado pelo convite!

E fica a lembrança:


em Odivelas
os brotos da Primavera
são vermelhos,

terça-feira, 22 de março de 2011

100 anos da Universidade

Alguns haiku que escrevi depois de assistir à cerimónia comemorativa dos 100 anos da Universidade de Lisboa:


rola pelo corredor
uma cascata de música
e risos de criancas.


cem anos
e a oliveira só pensa
na Primavera.



o rio encontra
guiado só pelo seu peso
outras águas.



chegar aqui
foi um caminho -
nem mais nem menos.



e a minha vida?
valeu a pena?
Disseram que sim!!!



tardinha:
- Dormimos aqui
ou chegamos?

domingo, 20 de março de 2011

Os protagonistas

Nem sempre são as pessoas mais indicadas, com melhores condições aquelas que encabeçam e sustentam iniciativas de inovação. Muitas vezes o que deve ser feito é iniciado e consumado por pessoas que parecem à partida ser absolutamente incapazes de empreender as tarefas e missões em que se comprometem.
Processos humanos desenvolvidos por humanos... a perfeição é um ponto lá longe... para onde caminhamos.


levantou-se o cego:
- Está a chegar a noite,
vou acender a luz.

ou

cai a noite -
o cego levanta-se
para acender a luz.


ou ainda...


foi o cego
que lembrou que era preciso
a acender a luz.

sábado, 19 de março de 2011

Salamanca

Lua maior
na Plaza Mayor -
só eu ainda pequeno.


no dia do pai
a grande lua
parece mais mae.


tanto luar!
as fachadas douradas
debruadas a negro.


Deus è grande demais
para caber
nas enormes catedrais.


sem folhas
as árvores da Primavera:
só flores.


mesmo quem ganha a paz
pinta com sangue
o "victor" de vencedor.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Odivelas

as filhas dos samurais
fazem versos de paz -
chega a Primavera.


o anjo de azulejo
ri-se com o teatro
das raparigas.


um computador
na sala gótica -
ah.. o tempo...


as arcadas
desenham gomos de sol
nas amrelinhas.


Agnus Dei à porta -
o único juvenil
entre os santos velhos.


pela janela
entram com o sol
os gritos do recreio.



olhos adolescentes
navegam para longe -
à palavra "paixão".

domingo, 13 de março de 2011

Vazio

aquela flor de trevo!
Agora. Aqui.
Mais nada.


um dia
pensarás só no presente -
como uma erva.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Japão, hoje.

tudo treme
economia, tu, eu -
e agora a Terra...


o ronco da terra -
os senhores são só poeira
na crosta.



rolam as placas
para ficarem mais firmes -
óbvio!



ainda acesa
tremeu a faúlha -
(não estava apagada?)

terça-feira, 8 de março de 2011

Algo se perde...

as águas do rio
separam-se para sempre
no delta.



bem guardada
a caneta Mont Blanc
junto às que perdi.

sábado, 5 de março de 2011

Vida: "mode d'emploi".

Sabes meu rapaz:
Pra não andares aos "ais"
faz o que és capaz,
nem menos nem mais.
Mas...
o mais difícil
nesta vida
é saber qual
é a medida.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Categoria

É muito interessante esta palavra: "categoria".
Originalmente parece ter o significado de designar um grupo com características iguais. Todos os que estão dentro da mesma categoria são iguais entre si e diferentes dos que estão em qualquer outra categoria.
Mas tem também o significado de pertencer a um grupo seleccionado, de elite, enquanto outros não têm esse pervilégio. "Aquele tipo tem muita categoria. O outro? Não tem categoria nenhuma...".
As categorias estão no âmago da discriminação sobretudo quando, pela sua própria natureza, não vêem as óbvias continuidades entre o que está fora e o que está dentro. (Falamos de gente, claro!) ...


Já que
deitamos fora a
solidariedade,
a justiça e
a inclusão
(o amor foi junto...)
criamos categorias
para ver
os pobres,
os deficientes,
os idosos, (...)
Ah... assim já os vemos
e podemos
ter assegurar-nos
que eles ficam
lá... no seu lugar.




procurei um alvo
só então vi
o tronco da árvore.

quarta-feira, 2 de março de 2011

31 de Março no Grémio Literário (18h00)

Neste dia (ver título) vai-se realizar a apresentação do livro "De Frente para o Mar". A entrada é livre mas precisamos de ter uma estimativa do número de participantes. Podem deixar uma mensagem sobre este assunto nos "comentários" a este post.
Nesta apresentação estarão presentes a maioria dos autores que lerão os seus haiku e dirão certamente algumas palavras sobre o seu processo de criação.
Dia 31 de Março é um grande dia para a divulgação do haiku em Portugal. Divulguem, apareçam e tragam amigos.

Singularidades

O que é que está certo (porque é "da nossa natureza") e o que é que está incompleto (o que falta à nossa natureza)? O que é um estilo e o que é um defeito? O que é que temos de conservar e o que é que temos de mudar?
Tantas questões que desafiam o conhecimento da Psicologia, da Educação, da Ética, enfim de todo o conhecimento que se (pre)ocupa com o humano.
Dois tercetos "haikulike":

qualquer adjectivo
junto de "natureza" -
dá mau haiku.


parecem-me tortos
alguns ramos da árvore:
fotografo ou podo?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Insistente Aprendiz


Nelson Savioli um conhecido e qualificado haijin do Brasil, acaba de editar o livro "Insistente Aprendiz" (Qualitymark Editora, 2010).
É um livro para se acariciar bem na palma da mão de tão útil e sensível que é: útil porque para além das poesias apresenta textos de grande valia para entender a confecção de um haiku, sensível porque o autor escreve poemas de finíssimo recorte e em que a discrição, a leveza e o recato estão sempre presentes.
Parabéns Nelson! E continue a aprender que só pode ensinar quem aprende.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

World Haiku 2011


Acabou de me chegar à mãos vindo do Japão a antologia "World Haiku 2011" editada por Ban'ya Natsuishi e publicada pela World Haiku Association. Como se diz na capa é uma vibrante prova da vitalidade do haiku uma vez que publica poesia de 181 poetas de 41 países do mundo.
41 países entre os quais Portugal. Nesta antologia para além de mim há poesias de Leonilda Alfarrobinha, Casimiro de Brito e de Lucília Saraiva.
Deixo aqui um haiku destes três mosqueteiros (que afinal são quatro, tal como na história de Dumas):

entre a blusa e a pele
a lua e a mão -
ambas cheias

between the blouse and the skin
the moon and the hand -
both full.

David Rodrigues



na palma da mão
o peso de uma laranja -
nasce a madrugada.


in the palm of my hand
the weight of an orange -
dawn's birth

Leonilda Alfarrobinha



Lua cheia.
Cuidado com as unhas,
podes rebentá-la.

Full Moon.
Watch your nails
You can bust it.

Casimiro de Brito


Chuva e vento
numa dança lenta
as gaivotas seduzem o mar


Pluie et vent -
dans une danse lente,
les mouettes séduisent la mer

Lucília Saraiva

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ainda a neve

charrete turística -
atrás dela o Porsche
só com um cavalo.


turistic carriage -
behind it the Porsche
with a single horse.


um avião -
uma luz voa
as outras ficam.


an airplane -
a light flies away
the others stay.


não ouço passos
ouço o silêncio entre eles.
Ah, a neve!


I don't hear steps
only the silence between them
Ah, the snow.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Fabricação" de um haiku

Alguns amigos têm-se mostrado incrédulos sobre a possibilidade de resumir um texto longo num haiku. Eu não diria que TODOS os textos se podem resumir a haiku. Longe disso: acho que cada texto tem a sua forma e o haiku não é a mais perfeita delas - é uma mais.
Mas também é certo que me acontece (realço a primeira pessoa do singular) gostar de reduzir textos a haiku. Compartilho uma destas experiências:

Estou numa estância de desportos de Inverno para umas curtas férias e ontem escrevi o seguinte texto:

queria que o silêncio
se colasse aos meus passos
e que, ao olhar para trás,
não visse as minhas pegadas
nem à frente
se me acenassem destinos.
Só a neve.
Como se eu tivesse caído do céu
e dali só saísse
sugado por ele.


Hoje, procurei fazer um haiku a partir deste texto. Eis o resultado:

no meio da neve,
sem pegadas nem destinos
olho o céu.


Que acham?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Haiku da neve

uma bola de neve
soltou-se do Monte Branco -
Ah... a Lua.


"skieur" principiante:
- Se soubesse andar de ski
não me agarrava a ti.


neve fofa ~
a leveza esmagada
pelas botas.


é para onde se olha
que vamos -
como sempre.


o teu destino
é para o lado
que tens menos peso.



rente à neve
voa uma gaivota
(ou um esquiador?)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Noite

procuro.
na noite só ar fresco:
tu não estás.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Should I stay or should I go?

seguro as calças
nas pernas abertas
aperto a camisa.


digo à camisa:
- Passa o dia comigo,
quem sabe à noite...


couves amarelas -
porque não chegaram
à panela?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Recato

Faz-te mula,pá!
Sempre de novas:
- Ai sim? A sério? Não acredito!
Unta-te com o óleo fino do recato
Diz muitos "talvez", "vamos ver"...
Só debaixo do lençol
abre a boca muda para gritar "yes".
Faz-te mula!
Se andares a bater o badalo
mostras mais do que és.
(És um exagerado!)
Eu sei que és humilde mas
encena a humildade.
É bom pra toda a gente:
não tentas os outros para o Inferno
e se calhar até tu escapas...
Faz-te mula! Faz-te mula, pá!

Sol

o sol de inverno
entra pela janela -
e o gato?

gardénia indecisa
entre o sol de inverno
e os dois graus.


passa um avião:
uma luz voa para o céu -
as outras ficam.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TNT - "Tento na Tecla"

Uma pessoa que muito considero, pessoal e literáriamente, fez uma critica muito desfarorável a este blog. Segundo esta opinião este blog "usa um péssimo português que mais se assemelha a um criolo do que à língua de Camões".
E sabem que eu concordo, pelo menos em parte: quase sempre não tenho tempo, mesmo para reler o que, num impulso entre compromissos profissionais me "apetece" escrever. Assim há falta de virgulas, erros de dactilografia, frases mal construídas, etc. etc. Isto para já não falar na qualidade das ideias...
Agradeço a crítica e vou tomar mais cuidado.
E o que é que eu alego em "minha defesa"? Quase nada. Mas talvez e só, o carácter espontâneo da escrita, o escrever como se pensa e como se fala sem esculpir e rever a frase. Procurar um pouco do perfume de espontaneidade do "haiku" mesmo quando se escreve em prosa.
É isto. E não é novidade! Os meus poucos leitores sabem, desde que leram os meus primeiros posts, que eu pertenço à APII (Associação dos Pequenos e Ínfimos Intelectuais). Portanto nada de esperar grandes coisas...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Kepler - 11a

Foi descoberta uma estrela com este nome: Kepler- 11a. Está a 2000 anos luz da Terra e que tem, gravitando à sua volta, seis planetas.
Aposto que pelo menos num deles não há as misérias que afectam o terceiro calhau a contar do Sol... É uma forma de transcendência a "astrocendência": como o número de planetas é infinito, o bem matemáticamente existe (o mal também)


será esta a estrela
que tem o bom planeta?
- Olha de novo!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ano novo 1

nos cromados do carro
as luzes correm para trás -
e eu vou em frente.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Ano Novo

Novo ano -
o que deixei atrás
mantém-me no ar.


New Year -
what I left behind
keeps me flying.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Publish!

Acho que os universitários nunca tiveram tanta pressão para publicar trabalhos científicos. Nunca foi tão verdadeira a máxima "Publish or Parish" (Tradução: "Ou publicas ou morres"). É a escolha.
A minha é:

Publish or Parish!
(I prefer Parish
speciallysh in Spring)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ambiguidades

luzes, perfumes,
música e glamour -
mas aquelas meias...


só quebra o escuro
a brisa do suspiro
pelo meu pescoço.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mais três de Inverno

está decidido!
Por acima do aquecedor
o ar treme.


núvens com sombra -
hoje o céu
imita Margerite.


folhas secas -
o silêncio vem comigo
mas entre os passos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Mais um

renda negra fria -
contra o sol do crepúsculo
um pinheiro.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O normal e o terapêutico

Retomo um pensamento de Nélson Mendes - meu excelente professor de há muitas décadas - sobre o que é normal e terapêutico: para uma planta a água é normal ou terapêutica?
Diria eu: o normal torna-se terapêutico quando o normal não funciona. O riso é terapêutico para quem não ri mas o natural é que ele existisse sempre na nossa vida; uma tarde sem pensar no trabalho é terapêutica porque o trabalho tomou a nossa vida de tal maneira que já não é normal não pensar no trabalho... E quando falta o saudável, o normal, o natural, então o que devia ser natural torna-se terapêutico. Tudo o que faz bem, tudo o que é terapêutico não devia, nunca, de ter saído da nossa vida


a planta
toma água
por receita médica.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Janeiro

céu de Janeiro -
agora com as nuvens
vê-se o sol.


a chama da vela
aquietou-se
quando chegaste.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

3 haiku

cheguei
à manhã de um novo dia -
agora é partir.


frondoso pinheiro:
toda a vida lhe bastou
a terra e a água.


o plátano e eu
à espera da Primvera -
um nú, outro vestido.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Chão dos Pinheirais


O poeta José Marins, teve a amabilidade de me enviar a antologia de Haicai editada pelo Grémio de Haicai "Chão dos Pinheirais" (Irati, Paraná, Brasil). Trata-se de uma antologia organizada por Dorotéia Miskalo, José Maria Orreda e Tereko Oda.
Para além de poetas adultos esta antologia inclui também poemas de crianças e jovens. Trata-se de uma antologia intergeneracional e assim proporciona um encontro que talvez só a poesia haicai seja capaz de fazer: juntar diferentes gerações numa base de efectiva igualdade.
Na capa lê-se:

Entre seus morros
Caminham centenas de sonhos
Cidade de Irati.

Parabéns aos organizadores e autores! Bom caminho!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Valer a pena

A letra de um antigo fado de Coimbra rezava assim: "fui ao Mondego lavar/as penas das minhas mágoas". As "penas" que querem dizer os desgostos, os sacrifícios, as tristezas.
E nós dizemos: "Vale a pena?". Literalmente o que se vai fazer vale o sacrifício, vale o esforço penoso? É interessante esta associação entre a actividade e o trabalho com a "pena". "Fui ver tal concerto e valeu a pena". Mesmo no Brasil quando se quer dizer que algo foi bom diz-se "Valeu!"
(Ai esta vida é um vale de lágrimas...)
"Valeu a pena!". ("Valeu a alegria" também serve?)

miar do gato -
está alegre
ou triste?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sobrojetivo

Palavra curiosa esta! Objeto - de concreto; objetividade como qualidade daquilo que é sólido, palpável, real, existente. Um objeto. E não só o os palpáveis também os números, as demonstrações, os fatos.
Objetividade a qualidade do que não é treta: é objetivo mesmo. Mas...
Ah, os mas...
Quantas mentiras temos visto em nome da objetividade? Quantas manipulações? Objetivo é o que se mostra. E o que se esconde?... Objetivo é... uma visão que, amparada pelos dados "convenientes" mostra indiscutivelmente uma realidade objetiva.
Daí que o que é inferior ao objetivo seja Subjetivo (Sub-objetivo).
Eu acho que o sub-jetivo não deveria ser escrito como sendo abaixo (prefixo - "sub") do objectivo. Por isso proponho que se diga SOBROBJETIVO (prefixo sobre - por cima) Exemplo: "A sua opinião é muito sobrobjetiva"
É quando somos sobrojetivos que somos verdadeiramente humanos.


PS. Escritos sem os "cês" por casa do acordo ortográfico. I hope it's correct...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

2 haiku de ano novo

da casca de plátano
brota um rebento -
é cedo ou tarde?


Aaron Copland -
o grande céu de inverno
baço e luminoso.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Liberdade

Ah... a liberdade do duche...
O espaço é o mesmo todos os dias
o shampô e o sabonete
raramente mudam,
A sequência dos movimentos é a mesma
cada dia que passa
A toalha segue sempre
os mesmos percursos
e pela mesma ordem...
Isto é que é liberdade!

Receita

RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha ...
...Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Opostos

Tantos apelos à Paz e à Concórdia que se fazem pelo Natal, não podem deixar esquecer porque é que eles se fazem. Fazem-se porque vivemos rodeados de inúmeras guerras. Poucas guerras grandes e muitas pequenas.
A guerra é certamente a experiência-limite mais radical que a humanidade pode passar. Andar a fugir com medo de ser morto ou torturado; perseguir os outros para os matar ou torturar, para lhes matar os filhos, destruir as suas casas, queimar-lhes o sustento, envenenar-lhes a água... Não há certamente nada de tão limite como este terror e procura da morte. Matar ou ser morto. O ódio absoluto.
E por trás de cada um destes terríveis actores há ternura, há afagos, lágrimas, há saudades. Lá longe...
A guerra é também matar quem ama o assassinado: os pais, a mulher, a namorada, os filhos, os amigos, as suas ideias, o seu país...


Vejo atrás dos monstros
mãos que se dão, almoços de domingo
crianças que correm
e têm as suas cabeças afagadas.
Atrás deles vêm todas estas lágrimas
Todos os gritos impotentes
Todo o mal irremediável.
E meto a bala na câmara:
quantas lágrimas vai ela custar?
Disparo de olhos abertos
para não ver. Não posso ver!
Disparo de longe
para só ver os vultos simiescos.
Quero lá saber!
Quero lá saber!
Se matar talvez chegue a casa
para almoçar no domingo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

40

São 40 (quarenta) os livros que se publicam POR DIA em Portugal.Nem todos de ficção certamente. De poesia quantos serão? Se forem 5% são 2 por dia o que prefaz 730 por ano. Serão tantos? Se for só um por dia? Faz 365 por ano. E se houver destes 365 10% que valha a pena ler? São 36.
E eu quantos livros de poesia portuguesa li no ano passado? Talvez 16. (E o resto... sem ser em Portugal?
Raio de vida curta!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Mais dois de Inverno

o vento e o Sol
vêm da terra -
encaram a onda.


madrugada na praia -
aquele quebrar da onda
só eu vi.

E ainda...

um velho
caminha no cais -
rangem os barcos atracados.


que pesada a gaivota
quando se eleva da areia -
mas depois...

sábado, 25 de dezembro de 2010

E mais dois ainda...

risco preto
mancha branca -
pontapé no muro.


vento de terra:
a onda anuncia-se
por um véu de espuma.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E mais dois de Inverno

véspera de Natal
de madrugada, ainda acesos
o farol e a Lua.


a primeira marca
da pata da gaivota
na pele da areia.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Três haiku de Inverno

manhã de Dezembro
na praia as ondas
correm para o Sol


dabaixo da estátua
um jardineiro varre folhas
à chuva miúda.


o vento e os meus olhos
chegam ao quintal vazio
pela frincha da porta.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ser natural

A poesia haiku está ligada à Natureza. E o que significa "estar ligado à natureza?". Por um lado significa que Natureza (o mundo natural) deve estar presente na poesia: as montanhas, o sol, a lua, os lagos, o mar, a terra, os pássaros, a água, o fogo, etc. etc.
Mas significa também que a poesia deve ser natural no sentido de não ser pretenciosa, afectada, diletante, artificial. Uma poesia desta só pode ser escrita se o poeta for "natural". E regressa a questão: "Que é ser natural?".
Ser natural é não se motivar pala opinião que os os outros têm de nós. É certamente aprender com a vida e com os outros mas não deixar que as opiniões, os planos ou as expectativas que os outros têm sobre nós nos determinem a vida. "Sermos nós próprios". Aprendendo tudo mas na hora de decidir agir só de acordo com o que achamos que está certo. Isto é agir de forma "natural".

lindo o caracol!
e não se viu
ao espelho.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pressão

Como ela tem aumentado! A pressão arterial, a depressão...Que me perdoem os estudiosos da depressão mas eu diria que a depressão está intimamente ligada à alienação. Já Karl Marx dizia que a alienação é um processo que separa o trabalhador do seu trabalho, isto é, da fruição, do prazer de fazer o seu trabalho.
A pressão que actualmente, em nome da "crise", se abate sobre os trabalhadores tem muito a ver com o facto dos ritmos, dos procedimentos não permitirem que cada pessoas controle o trabalho que faz, se satisfaça em o ver feito e possa usar o trabalho para aquilo que ele devia ser: uma actividade humana e como tal completa e realizadora.
Separar as pessoas da fruição do seu trabalho, comprometê-las em trabalhos dos quais não se tem controlo, desumaniza o trabalhador e deprime-o.

o roupeiro da equipa
nunca pode ver o jogo
de futebol.

5 máximas

1. Dança como se ninguém te visse
2. Dá como se ninguém soubesse
3. Tem compaixão como se não tivesses mais nada que fazer
4. Fala como se o que dizes fosse útil
5. Ama como se não soubesses que vai acabar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Bambu

O escritor António Lobo Antunes publicou há alguns anos um livro (que eu não li...) com um título sugestivo: "Que farei quando tudo arde?". A pergunta á muito pertinente agora que parece que os valores, os hábitos, as práticas, as rotinas, etc. se estão a alterar tão rápida e radicalmente que podemos pensar que "tudo arde". O que arde e se vai esfumando são os processos e os pressupostos com que se fazia quase tudo desde a economia, à educação, passando pelas relações humanas. Lembrei-me de responder à pergunta do António Lobo Antunes. Que fazer?
Encharca-te, pá! Não te incendeies só porque tudo arde. Mantem-te molhado. Não digas que agora não vale a pena. Sempre vale a pena a tua actuação e pensamento. Mesmo que não seja para prevalecer serve para contrabalançar o incêndio. Vai dizendo e fazendo e analisando com a tua consciência o que és e o que fazes. E deixa para lá os pirómanos...

um pardal:
no mais firme nos bambus
batidos pelo vento.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pensar à volta do "click"

A publicidade aos computadores assenta em dois pilares: a memória e a rapidez. Claro que uma está ligada à outra: quando a memória está muito carregada a informação anda mais devagar... Mas hoje queria falar da rapidez.
Já trabalhei nesses computadores super rápidos: ao menor "click" aparece outra janela e os diferentes ambientes sucedem-se vertiginosamente. Isto é que parece ser o bom, não é?
Eu faço a apologia dos computadores lentos; aqueles que depois de clicar ficam uns exasperantes dez segundos até mudarem para o programa ou que pedimos. E porquê? Porque é que na idade da rapidez eu louvo os computadores lentos?
É para ver se temos tempo de pensar... Já avaliaram quantos "clicks" frenéticos e inúteis (raivosos ?)damos ao nosso computador? Com um computador mais lento talvez tenhamos uma oportunidade de pensar "à volta do "click": "Era mesmo isso que eu queria?", "O que é que vou escrever?", "Vale a pena?" "Será este o "tom"?
Vivam os computadores lentos! Os únicos próximos do nosso ritmo! (Mesmo assim ainda talvez mais rápidos que nós...)


Dança:
o pensamento flui
ao ritmo do corpo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Bolsos

Há pouco tempo fui a uma conferência na Gulbenkian sobre arte japonesa em que se falou sobre o "inro" japonês - aquela pequena bolsa suspensa ao pescoço. Visitei depois a (fantástica) exposição de pintura no Museu Nacional de Arte Antiga sobre os "primitivos Portugueses".
E que tem uma coisa a ver com a outra?
É que reparei que nos numerosos quadros pintados entre 1450 e 1550 não havia bolsos no vestuário nem pinduricalhos atados à roupa. E pensei...
Durante muitos séculos não precisamos de trazer nada connosco, depois vieram os bolsos (sempre cheios de "coisas"), depois as pastas (cheias de papéis que muitas vezes passeamos sem precisar) e agora trazemos o "portátil" com as nossa músicas, as nossas fotos, a nossa enciclopédia virtual, os nossos ficheiros, etc. etc. etc.
Cada vez precisamos de transportar mais coisas connosco. Porquê?
Talvez: 1. porque o que nós somos depende cada vez mais do que temos e 2. porque passamos para os bolsos e para "o portátil" o que devia estar na nossa mente e no nosso coração. Talvez...

A idade da água.

barulho de água
sentado no banco um velho -
um novo e uma velha.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O triste de aprender

Quanta conotação de tristeza e de punição está ligada ao sublime acto de aprender! Pune-se o outro "para que ele aprenda": a omissão, o castigo verbal, o cinismo, a humilhação são quantas vezes justificadas pela "aprendizagem"? ´"É para aprender!"
Aprende-se com a dor? Tenho dúvida.
Com a dor sofre-se, com a dor evita-se, não se faz, não se volta a fazer. Mas fazem-se coisas novas? Não.
Aprender é ligar o que somos com coisas novas e que não suspeitavamos que eramos capazes. Aprender é ser, fazer, poder coisas novas.
E isso consegue-se com castigos? De certo não.


um caracol
no passeio depois da chuva -
abriga-te na relva!

O Ruy e eu.

Quantos cabelos é preciso perder
para ser careca?
Quantos centímetros é preciso ter
Para ser "alto"?
Quanto tempo tem de passar
para ser demais?
Quanto amor deve de ser negado
para ser pouco?
Quando é que já chega?
Quando sobra?
Quando falta?
Quantos amores têm de morrer
Para abalar tanto as raízes da nossa vida
Que se nos torna natural partir?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Soltei o corpo:
a água do rio
balançou-o para o mar,
para o largo mar.

Não levei saudades
da terra:
nem o frio da água
me fez pensar
em voltar

Só foi comigo
uma tristeza fina como seda
macia, fria e quase afago.

Gaivotas de vidro azul
volteiam no céu leitoso
e os reflexos já laranja
nas suas asas
anunciam a noite.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Investimentos desiludidos

Breve lição de Economia

1 Se em Janeiro de 2007 tivesse investido 1.000 euros em acções do Royal bank of Scotland,um dos maiores bancos do Reino Unido ,hoje teria 29 euros
2 Se em Janeiro de 2007 tivesse investido 1.000 euros em acções do Fortis,outro gigante do sector bancário hoje teria 39 euros
3 Se em Janeiro de 2007 tivesse investido 1.000 euros em vinho Tinto do Douro e o tivesse bebido todo e vendesse apenas as garrafas hoje teria 46 euros

Conclusão - No cenário economico actual perdes menos dinheiro sentado bebendo um bom vinho

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Yingato e Yangato

Concurso Internacional de Haiku / International Haiku Contest

Em Janeiro a Associação de Amizade Portugal-Japão vai organizar um Concurso Internacional de Haiku. O concurso estará aberto até 31 de Março e aceitará poesia em português e em inglês. O regulamento já está pronto e muito em breve estará a correr nas páginas da internet.
O tema do concurso é o Mar e a Viagem.
Podem começar a preparar os haiku...


January 2011, the Friendship Association Portugal-Japan will organise an International Haiku Contest. This contest will accept applications till the 31rd of March in Portuguese and in English. The Rules of the Competition will be soon on Internet.
The main theme is the Sea and the Voyage.
You may start preparing your haiku...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Workshop de Haiku

O animador de uma workshop de Haiku raspou duas pinhas uma na outra.
- O que lhes lembra este som?
Várias respostas: "uma peça a encaixar", "um ácido", "um abandono"...
Até que um dos participantes disse:
-A mim lembra-me sexo!
- É a resposta mais original que eu ouvi até hoje! Pode explicar porquê? - perguntou o animador.
- É que eu não penso noutra coisa...

domingo, 28 de novembro de 2010

British Museum


Só anteontem comprei o livro "The British Museum Haiku" de 2002 (The British Museum Press). Vi-o quase por acidente na livraria de um museu de Lisboa. É um livro lindíssimo: a ideia é juntar xilogravuras japonesas da colecção do Museu Britânico com poesias haiku dos mais famosos poetas japoneses: Issa, Bashô, Buson, etc.
Quem organiza este livro - e que cuidadosa é a edição... - é David Cobb poeta, grande divulgador e estudioso de haiku e Presidente da British Haiku Society.
Fica aqui a capa do livro feita a partir de uma xilogravura de Eishosai Choki (c.1795). Linda, não é?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Fé

E ainda falam da crise dos valores imateriais na nossa sociedade... Em plena crise, quando parece que tudo se resume a balanças de pagamento, taxas de juro, individamento externo, mercados bolsistas, etc. etc. acho que nunca a Fé e a Confiança estiveram tão presentes.
Afinal o que faz subir e baixar a Bolsa? É a Confiança. Confiança em quê ou em quem? Não se sabe... é a Confiança... guiada por ténues e desconhecidos indícios. Querem maior metafísica que esta?
E a Fé? Quando as pessoas mais capazes do país nos juram opiniões opostas sobre assuntos tão objectivos como dinheiro, execução fiscal ou orcamentária, que nos resta a nós? É mesmo a Fé. A Fé neles, a Fé no partido, a Fé que, por muito mau que esteja, "isto" vai melhorar. Mesmo quem acha que vai piorar tem Fé que não piore muito...
A Confiança e a Fé. Antes com as Igrejas, hoje com os mercados. Nunca houve tanta.

Haiku Diário

Quando se escreve poesia? Ora aqui está uma pergunta que teria as mais singulares (e por isso inusitadas) respostas. Há mesmo quem esteja em estado permanente e diário de produção poética. Recomendo a este propósito o excelente blog:
www.joo-dailyhaiku.blogspot.com

no céu de Inverno
um buraco azul:
um balão de criança!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dentes...

chega a noite
lá longe as badaladas -
Lateja o siso.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dentro do vento

vozes silenciosas
dentro do vento de Inverno -
de longe pra longe.


silent voices
inside the Winter's wind -
from far away to far away.