sábado, 30 de outubro de 2010

Ainda o Tsukimi...

No dia 23 de Setembro a Associação de Amizade Portugal-Japão organizou um Tsukimi . contemplação da Lua de Outono. A seguir ao jantar no Hotel Altis, os participantes escreveram alguns haiku que foram lidos e comentados em grupo.
Aqui ficam alguns deles:

Lua de Outono:
todas as núvens
se afastam.


Lua aveludada
acaricia
o silêncio da noite.


o vento
a soprar
nas minhas lágrimas.


estrela
a lua está ao pé de ti
não te preocupes.


Um espírito:
a Lua por trás
da chuva


É fácil de ver que foi uma noite linda!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Criatividade brasileira

Agora é sobre nomes de casas comerciais:

Lavandaria Moderna:
25 anos bem passados

Distriboi
Comércio de Carne

Casa a Caso
Imobiliário.

shopping

janela no shopping:
um jacarandá!
Enfim algo diferente.

sábado, 23 de outubro de 2010

Octobre - Paris

a caminho de Orly
a Lua cheia de um lado
e o Sol do outro.


cresce a Lua
declina o sol -
A noite vai ser linda?


A Lua e o Sol
a caminho de Orly -
O Sol e a Lua.

sábado, 16 de outubro de 2010

De Frente para o Mar

Parece que é desta!!! Parece incrível mas este livro, tão sonhado por mim, sofreu tantos reveses para a sua edição que várias vezes pensei em desistir. Só mesmo uma vara de determinação que às vezes encontro dentro de mim me fez insistir que este livro tinha de ser editado por vezes contra toda a racionalidade. Quando se olha os factos de forma "objectiva" não parece muito difícil: há empresas a patrocinar, poetas a escrever e uma editora a editar. Parece fácil, não é? Mas não foi. Não foi mesmo e este livro custou muito mais esforço do que era preciso.
Mas as boas notícias é que em meados de Novembro estará "cá fora". Ver para crer ou melhor ver para ler. "De frente para o Mar" a primeira antologia de poesia haiku de poetas portugueses. Parece impossível!!!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Amanhã

Amanhã é outro dia
virá branco como este chegou
e, de certo, não sei
onde vou ver o entardecer.

porque amanhã é outro dia
e a luz da alba
iluminará jornais que escrevem
o que nunca foi escrito.

enquanto amanhã for outro dia
há sempre a esperança de um afago
de um cimento que cole a jarra
partida e dispersa pela mesa e pelo chão

é certo que é outro dia, amanhã.
E que é possível que o musgo
suba à altura dos castanheiros,
que a curva da face fique seca
e só os olhos brilhem ao sol.

Vento

nas árvores
já não se vê o vento -
o sol longo da tarde.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A Crise

Hoje ouvi a explicação mais simples e mais certeira sobre a crise dada pelo economista Carlos Carvalhas antigo secretário-geral do PCP.
Diz ele que a crise foi originada no sistema financeiro que para a ultrapassar contou com chorudos milhões dados pelo Estado. Agora é o sistema financeiro que põe o Estado de joelhos ao comprar o dinheiro no Banco Central Europeu a 1% e a vende-lo ao Estado (juros da dívida) a mais de 6 %. Disse também que a especulação já escolheu a sua vítima (Portugal) e não vai larga-la facilmente.
O capitalismo é como um grupo de caçadores a seleccionar quem na manada parece mais frágil...depois é uma questão de tempo...


o leão
tirou a comida ao filho -
cresce e aparece!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Executivos eficintes

Andam por aí: a sanear e "encolher" empresas, enfim a ver e a discernir o que mais ninguém era capaz de ver e de fazer. São os "yuppies" os executivos que "dão um jeito" no que está encalhado. Para eles não há passado, o presente é só uma etapa a ultrapassar para chegar ao futuro.
As linhas seguintes são para eles:

olhar o presente
e só o presente
sem saber de onde vem
e para onde quer ir
é a base para julgar
injustamente.

Tudo é mais que o seu presente
mesmo que este presente
seja triste, arruinado
e pareça sem futuro.

sem memória
tudo parece mais simples
mas também
irremediavelmente inútil
como uma jarra de flores
num quartel.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ferreira Gullar

Ferreira Gullar é Prémio Camões 2010. Este notável poeta brasileiro deu uma entrevista ao Jornal de Letras (22 Setembro) em que fala do seu processo criativo. Acho que o que ele diz tem muito a ver com a escrita de poesia haiku, sobretudo aquele "insight", o discernimento que se tem num dado momento. No Brasil dir-se-ia uma "sacada"...
Como Gullar diz que é assim que escreve poesia:

"Dá notícia do que acontece: um osso que bateu noutro ou, de repente, o cheiro a tangerina. O meu filho abre uma tangerina na sala, evidentemente muitas vezes senti esse cheiro na vida, mas nesse momento leva-me para um estado diferente e passa a ser qualquer coisa que não sei o que é. Aí, começo a refletir sobre o cheiro da tangerina, envolvo-me e o poema nasce. Não é uma explicação científica nem filosófica (...) O poeta é incoerente (...) pode revelar coisas que não sabia um minuto antes e muito do que o filósofo não sabe explicar. Às vezes até me pergunto se poesia é Literatura".

sábado, 2 de outubro de 2010

O que é um haiku

Ora aqui está uma pergunta que originou inumeráveis respostas. Por todo o mundo se procura estabelecer, delimitar o que é um haiku. E porquê este frenesim de saber se é ou não é? Eu acho que é para frear os novatos que, logo que escrevem um texto curto em três versos lhe chamam isso. Nós as pessoas que querem (e nem sempre conseguem...) escrever haiku sabemos que um haiku é muito mais do que três versos. Pessoalmente eu acho que também o haiku tradicional só uma das formas que o haiku pode assumir. Temos os exemplos de Kerouac (EUA) e de Leminski (Brasil) para mostrar até onde pode ir o haiku.
Esta discussão sobre as fronteiras do haiku fica para outra vez.
Hoje gostaria muito brevemente de dizer o que eu acho que o haiku deve ter (de certa forma aquilo que eu mais aprecio quando leio um destes poemas). São fundamentalmente 3 aspectos:
1. Antes de mais que evoque algo. Algo de real, concreto, talvez presente.Que se ligue a uma realidade activa no pensamento do poeta.
2. Que seja compacto, isto é, que se sinta que nada a mais está no poema. Um haiku que nada perde se lhe for removida uma palavra, não é um bom haiku.
3. Que seja narrativo. O que eu quero dizer com isto é que um haiku tem de se projectar para além de si. Temos que ver naqueles três versos uma expansão, uma projecção para uma realidade, para um pensamento maior. Há haiku que na sua modéstia contam uma história inteira. É destes que eu mais gosto.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ainda a Lua de Outono

em cima do rio
enorme, a Lua de Outono,
encolhe a noite.


above the river
the large Harvest Moon
shrinks the night.