segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O de hoje...

já não vejo as pontes
que cruzei para aqui chegar -
e à frente, neblina...

sábado, 26 de setembro de 2009

Futuro

empurrado pelo futuro
olho o presente
como uma vertingem.


o fututo nas costas
o passado na frente -
que pôr-do-sol!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Geografias emocionais

Foi este o nome que um investigador canadiano deu aos estudos que desenvolveu de forma a melhor conhecer as teias de emoções, de relações, de inter-relações que existiam numa sala de aula. Conhecer que está mais perto de quem e porquê, em que circunstâncias, com que solidez, é , sem dúvida, um desafio que procura desocultar as origens da controversa, instável e por vezes paradoxal "vida em sociedade".
Todos temos a nossa geografia emocional e procuramos de certo cultivá-la de modo a que à nossa volta não fiquem montanhas inóspitas mas sim planícies com rios generosos e florestas benignas. Que tal (às escondidas, é claro!) desenharmos a nossa geografia emocional?

Aquele deserto
esteve sempre ali
ou moveu-se?

sábado, 19 de setembro de 2009

Fios

Era bem curioso que pudessemos ver (ver mesmo) os fios (os fios mesmo) afectivos que nos ligam às coisas e às pessoas. Um espécie de cordoaria afectiva. E aí veriamos quantos fios cada um de nós tem, qual a sua espessura, quais as suas cores, qual o material de que são feitos... Esta geografia de afectos pensando bem, é melhor que continue a existir só no engodo das palavras... Seria quase insuportável (e inútil ?) ter esta "prova dos nove".


entre as rochas
o mar procura o caminho -
ai as palavras...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Outono / Autumn

no chão já frio
folhas torradas -
crepúsculo de Outono.



on the cold ground
roasted leafs -
Autumn twilight.

Um pássaro / A bird

o pássaro
atravessou a tua cabeça -
de longe, sorriste.


the bird
passed through your head -
from far away, you smiled.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O acaso e a necessidade

Muitas pessoas se lembrarão do livro com este título da autoria de Jacques Munod. O tema é muito aliciante: qual o motor da evolução? (E por extensão, qual o motor da criação?) Será o acaso que vai permitindo responder e acertar nas necessidades ou são as necessidades que dão sentido ao acaso?
Sobre a evolução não me pronuncio "por falta de cacifo" mas gostaria de comentar o processo de criação.
Nada vem por acaso: alguma ideia que se assome e que pode parecer fortuita é só uma recombinação inédita de material (anterior, presente ou sonhador) de que dispomos. Por isso é tão importante "pensar al revés" como se diz em Espanha: ao pensar do avesso chamamos novo material, novas representações, novas realidades que nos podem trazer alguma originalidade. Assim eu acho que o acaso serve as nossas necessidades. Tenho dito!


a girafa
tem o pescoço curto
para chegar às folhas.

sábado, 12 de setembro de 2009

Lilian

Na minha recente viagem à Colombia conheci uma professora da Universidade de Illinois (EUA) com quem tive mais conversas que o costume em congressos científicos. Lilian é uma amante de arte, de toda a arte, mas em particular de música clássica da qual é uma excelente conhcedora. Quando falmos de passagem em religião, ela disse-me que não segue nenhuma e que se considera uma "breathtakist". Poderíamos, numa penosa tradução, dizer que é um estado em que a pessoa fica sem fôlego frequentemente. Não sei se "isto" é uma religião mas já somos dois: eu também sou um "breathtakist"!

montanha azul
bordada de sol poente
chegou o Outono.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Druskininkai

Druskininkai é um lugar lindo na Lituânia. É um lugar de férias cheio de hoteis, esplanadas, parques, fontes e imensos relvados. Quando visitei pela primeira vez foi por causa de um museu impressionante que guarda as recordações da época soviética e que fica muito próximo. Documentos de repressão, de ocultação de violência simbólica e de todas as outras violências sobre as pessoas. Visitei este museu com duas colegas lituanas que viveram a época e que mal se conseguiam rir... o sofrimento foi muito. Como a noite do dia, ao lado, existe Druskininkai o lugar da eterna felicidade, do sol, da despreocupação.
Em Outubro vai-se realizar o Festival de Poesia do Outono, o evento maior nesta vila. Cerca de 40 poetas de haiku de treze países do mundo: o Japão à frente em número logo seguido da Lituânia.
E eu.
O único de língua portuguesa.
Não me vou esquecer que não sou só eu: são os muitos e bons poetas que escrevem haiku na língua de Wenceslau de Moraes.

Lua cheia no mar:
a lua olha o reflexo
e o reflexo a Lua.

De Cuba

O interesse pela poesia haiku é um fenomeno mundial. Desde que se procure bem, encontramos em todos os países que escreva, leia e se interesse por poesia haiku.
Desta vez deixo aqui o site de um poeta cubano - Jorge Bráulio - que é um valioso lugar onde se escreve, traduz e comenta poesia haiku. O site chama-se "En clave de haiku" e o endereço é este:

http://www.jorgebraulio.wordpress.com/

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"É a vida..."

morreu um amigo.
"É a vida..."
(é isso, a vida)...

domingo, 6 de setembro de 2009

Dor

que boa esta dor
está quase a acabar -
é o fim do Inverno.

sábado, 5 de setembro de 2009

Novo dia

que fazem
as formigas à noite?
Também não dormem?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

As grandes e as pequenas razões:

Há gente que se rege por pequenas razões e gente que se rege por grandes razões. Exemplos das grandes: "Não cheguei a tempo por causa da política do Governo" (houve uma manifestação); "Não almocei por causa do José Sócrates" (o meu subsídio de refeição está atrasado). Mas também há as pequenas "Perdi o emprego por causa de uma bolha" (cheguei atrasado à entrevista"; "Não creio em Deus por causa do padre da minha terra" (o homem vivia como... homem"
As grandes e as pequenas razões...

o caminho
sobe e desce
e eu com ele.

Fim do dia

Sete árvores, um renque de sete árvores ainda jovens plantadas a distâncias regulares. O sol projecta para norte as sombras finas dos seus troncos. Ao meio dia as sombras estão longe umas das outras mas, à medida que o dia avança, elas vão-se deitanto no chão e cada vez mais inclinadas pelo sol poente, ficam mais juntas.

sombra das árvores
só à tarde as alcanço
com os meus passos.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um texto sobre terminologia...

Um participante da lista de discussão virtual haicai-l - André Bessa - postou um texto que me parece interessante e que aqui transcrevo, citando a fonte e com a devina vénia:



Apenas um pequeno adendo no que concerne a origem da palavra haiku.Muito já se foi escrito neste particular, porém, a maioria dasfontes – tanto orientais quanto ocidentais – concorrem nosentido de que o termo haiku surgiu em fins do século XIX,provavelmente inventado pelo escritor japonês Masaoka Shiki((1867-1902) a partir da palavra hokku. Esta designa a primeira estrofede um renga, que mais tarde derivou em renku, chamado também dehaikai no renga. O hokku, como poemeto independente, foi a formautilizada por Bashô, à qual incorporou-se uma combinação deprosa (haibun) e de pintura (haiga). No entanto, o termo haiku é hojeaplicado de forma retroativa a todos hokku que aparecem de formaindependente, ou seja, não ligadas a um renku ou a um renga.No Ocidente, foi através do artigo "Uma Proposta aos PoetasAmericanos" publicada na revista Reader de fevereiro de 1904, escritopelo poeta japonês Yone Noguchi (1875-1947) que se deve a primeiraaparição desta forma poética deste lado do mundo, chamada ainda dehokku neste artigo. Sómente pouco mais de um ano depois, é quesurgiram os primeiros haiku em francês pela mão do poeta efilósofo Paul-Louis Couchoud (1879-1959). Fato curioso,diferentemente das traduções inglesas, que adotaram a grafia hokku(já anacrônica) de Noguchi, Couchoud utilizou o nome haikai quandoeste poemeto era já então conhecido em todo o Japão pelo nomede haiku! Couchoud esteve por pouco tempo no Japão (de setembro 1903a maio 1904) e é pouco provável que tenha aprendidosuficientemente a língua nipônica a ponto de fazer traduçõesliterárias, como o querem certas fontes francesas.A primeira publicação de haicai (ou haiku) em francês se deuatravés do livro anónimo "Au fil de l'eau" (julho de 1905) –um pequeno formato de 15 páginas e impresso a trinta exemplaresapenas – e que contém 72 haikai (na grafia de P-L Couchoud).Estes foram compostos durante um cruzeiro em barcaça (péniche),feito poucos meses antes, através de canais na França, porPaul-Louis Couchoud e dois de seus amigos, o escultor Albert Poncin e opintor André Faure. Não se sabe bem o porque de Couchoud ter usadoo nome de haikai ao que já era então conhecido como haiku noJapão, e hokku nos países ocidentais de língua inglesa.Na verdade, haikai (que em japonês quer dizer cômico,excêntrico) é o nome dado a todo gênero poético que seencontra dentro da estética do haikai no renga, e que inclue formastais como o haiku, o haibun, o renku, o haiga e o senryu. Haikai (que setornou haicai em português do Brasil) é também usado com aforma abreviada de haikai no renga.
Um abraço,
André Bessa