segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dizer o suficiente...

A poesia haiku procura a frugalidade das palavras. Um exagero e um erro seria considerar que qualquer forma menos frugal seria redundante ou inútil... Cada coisa no seu lugar...
Vem isto a propósito de um poema que escrevi e do qual saiu um haiku. Neste caso, parece que o essencial ficou plasmado no haiku. Mas, nada como ler:

Na última noite
em que o sonho era
ainda possível,
quiz atrasar a chegada do sol.
Mas recebi a inexorável manhã
como um jorro de água
limpa e óbvia
que embebeu o chão
e o preparou para receber
o próximo sonho.


E agora leiam o haiku que foi postado ontem.

sábado, 27 de setembro de 2008

Ontem

o húmus
para o sonho de hoje
é o sonho de ontem.


the humus
for today's dream
is the dream of yesterday.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ver o mundo através de... To look at the world through...

Aprendi que na medicina tradicional chinesa o doente quando encontra o médico não aponta para o seu corpo mas para um boneco para lhe dizer onde se situam as suas queixas.
Lembrei-me disto a propósito do haiku. No haiku reforça-se a sugestão em lugar da descrição. O poeta de haiku usa a Natureza tal como o doente usa o boneco: para falar de si, para desenhar uma distância que o impeça de se confrontar com as suas emoções num estado mais primitivo. Falo de mim através da Natureza e ao falar dela, a minha dor, o meu amor, a minha alegria ou tristeza já vão embrulhadas numa representação que (quem sabe...) melhor me ajudará a lidar com elas...

neste caminho
ladeado de árvores mortas
tanta gente apressada.


I learned that, in the Chinese traditional medicine, the patient never points to his/her body: shows the doctor the simptoms pointing to a puppet. I remembered this about haiku. When one writes an haiku we use Nature as a intermediate to speak about ourselves, like the Chinese patients use the puppet. Using a intermetiate, the joy, the pain, the sorrow and the hapiness, appear already elaborated. And through such an image(maybe...) will be easier to live those emotions and feelings.

on this road
flanked by dead trees
so many people in a hurry.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Bambu

Crescem e vergam
lado a lado e sem partir
os bambus.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Haiku e Educação

São inumeráveis os trabalhos de haiku que têm sido desenvolvidos com crianças no âmbito de várias matérias educativas. O ensino da Geografia, Ecologia, Poesia, Literatura, etc. têm-se servido da estética haiku para incentivar os jovens a comprometerem-se na aprendizagem de forma mais activa. Queria só lembrar uma excelente antologia de Haiku produzida pelos alunos do "Externato da Torre" (Lisboa) e o trabalho "O caminho do Haiku" feito por Maria Kodama, viúva do escritor Jorge Luis Borges.
Desta vez o exemplo vem do Brasil. Um professor - João Toloi - ganhou um prémio no Concurso Paulo Freire com os haiku escritos pelos seus alunos. Pode conferir a entrevista com este professor em:

http://www.youtube.com/watch?v=tHCJY0_twbc

domingo, 21 de setembro de 2008

Tejo

Correm para mim
as pequenas ondas do Tejo
como poodles felizes.

Run to me
the little waves of the Tagus
like happy poodles.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Espera...

Esperando a queda
olhei todo o Verão para o figo
mas ele mirrou.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sintra

Sintra no Verão -
há sim o negro entre o verde
mas azul entre o branco.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Yao Jingming (Pequim, 1958)

Do livro "Na Barca do Coração" de Casimiro de Brito. respiguei este poema de Yao Jingming, que me evoca algumas "dificuldades" democráticas na China


Na minha pátria


Na minha pátria
a porcelana tem mais de dez mil formas
mas qualquer delas é tão frágil
como a incurável ferida.

Na minha pátria
todas as sedas são pele de água
tecida pela morte do bicho da seda
no inumerável cair das folhas.

Na minha pátria
quase todos têm ao peito um bule de chá
mas o chá tão milenar
mesmo em gesto de alquimia
nunca torna o tempo num reino tranquilo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Mais uma contribuição da Melissa (3 anos)

Já tinha publicado textos dela e este acaba de jorrar espontâneamente enquanto brincava sozinha com os seus bonecos de príncipes e princesas...



Abriu a porta do castelo
e toda a Primavera
estava lá.



Boa, Melissa!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Espaço Publicitário

Caros amigos:

Como já tinha dito aqui, dia 8 de Outubro na Sociedade de Geografia de Lisboa e no âmbito de um ciclo temático sobre "Portugal ao Encontro do Japão", vou realizar em colaboração com a Leonilda Alfarrobinha um worlkshop de haiku.
Era muito bom que aparecessem para estreitar laços.
Aqui segue o texto introdutório do workshop:


Oficina de Haiku

Dia 8 de Outubro, Sala convívio, 18:00hrs ~19:30hrs – 20 a 30 participantes
Orientada por David Rodrigues e Leonilda Alfarrobinha

A origem da criação poética no Japão perde-se na noite dos tempos, mas diz-se que tem as suas raízes no coração humano. Um dos géneros poéticos tradicionais, o haiku ou haikai, surgiu no séc. XVI, tem sido cultivado até aos nossos dias e salienta-se na literatura universal pela sua forma de expressão breve e concisa. O poeta deve expressar-se em apenas três versos evitando repetições e palavras supérfluas. A Natureza desempenha um papel importante nesta forma de poesia. A simplicidade e a serenidade são valores estéticos essenciais.
Nesta oficina pretende-se dar a conhecer um pouco da história e das características deste género poético, apresentar obras e poemas e motivar os participantes para a escrita de textos originais.
David Rodrigues é professor universitário, investigador e poeta de haiku. O seu livro Estações Sentidas – 111 Haiku, é uma das poucas obras do género publicadas em Portugal.
Leonilda Alfarrobinha, professora de Português e estudante de língua e cultura japonesa, é também poeta de haiku e publicou recentemente o livro, O Respirar das Flores, ilustrado por uma pintora japonesa.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Cheguei

Estou de regresso. Quando se escreve num blog não sabemos para quem. Talvez seja muitas vezes mais um organizador interno do que uma comunicação... bom. mas o certo é que cheguei (whatever it means...).
Venho de sentidos a transbordar de realidades surpreendentes e belas. Elas vão lentamente vazar para o teclado.
Claro que visitei a Grande Muralha. Fui com o meu sobrinho que usa cadeira de rodas. E aqui fica:

cadeira de rodas
cruza a Grande Muralha
o vento também

sábado, 6 de setembro de 2008

From China, with love...

Hoje em Beijing tentei comprar poesia chinesa em versão bilingue. Não tive sorte. Mas a poesia está muito presente na forma como o Homem organizou o olhar para a Natureza. Fala-se em raízes chinesas do haiku. É impossível não as crer depois de passear, por exemplo, pelos jardins da Cidade Proibida ou do Palácio de Verão.

livre
o cedro cresce
na cidade proibida.