quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Numa aldeia

Diz-se que o haiku tem de ser completado pelo leitor. Não deve dizer tudo. Encontrar o ponto de equilíbrio entre o dizer tudo e escrever uma charada que ninguém entende. Enfim sugerir.
Aqui fica uma tentativa para sublinhar o carácter sugestivo e incompleto do haiku:

atrás da janela
a begónia e a mulher.
Os olhos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Coragem

Recebi uma apresentação por e-mail com frases de Fernando Pessoa. Todas falsas e a tresandar a livros baratos de auto-ajuda. Mas... até com estas frases falsas se pode aprender (se estivermos para aí virados, digo eu).
O tema fundamental era a esperança; a importância da esperança como antídoto ao envelhecimento. A esperança que há algo a fazer, alguma coisa a mudar, um passo a progredir, uma causa para nos convocar. E eis que vi a ligação desta esperança (quase sempre apresentada como seráfica e passiva) com a coragem (a força interior, a determinação). Afinal, para que serve uma sem a outra? (Coragem desesperançada? Esperança desencorajada?)
A esperança é o destino e a coragem o caminho para lá chegar. Mas cada passo do caminho precisa de esperança e é necessária a coragem para levantar os olhos para lá. Lá longe.

tudo caiu!
a criança recomeça
com um sorriso.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Coração

Quantas funções foram atribuidas a este músculo trabalhador que nos faz circular a energia no corpo. Apesar de hoje sabermos que há órgãos com uma essencialidade semelhante, o coração continua, pelo menos no nosso vocabulário a ser o centro (o "core") do nosso eu.
Queria hoje lembrar a palavra "coragem". Que vem de "coração". Ter coragem = ter coração. Não é uma questão de inteligência, de interacção ou de força física: ter coragem é ter a virtude do coração, aquela que nos faz superar o medo, assumir riscos (nem que seja o risco de remoer o tédio).

como ontem -
o pardal acordou
sem saber o que ia comer.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Brasil

Quando se sobe de avião no Brasil pode-se procurar S. Paulo olhando para cima (os mais místicos) ou olhando para baixo (os mais pragmáticos). Eu olhei, desta vez para o S. Paulo "lá de baixo" a partir de Congonhas para Uberlândia...


do alto da noite
linhas brancas e vermelhas
e o céu no chão.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Post Scriptum

Hoje, dia 16 de Agosto de 2011, depois de ouvirmos toda a retórica sobre a conservação da natureza, a poupança de recursos naturais, a pureza do ar, a exaustão dos recursos do planeta, as alterações climáticas, os gazes de efeito de estufa, a poluição, a iminência de catástrofes humanitárias e ecológicas devido à sobre utilização dos recursos dos combustíveis fósseis,.... depois de tudo isto...

1. Li os 3 maiores jornais do Brasil. Estão repletos de publicidade de página inteira aos novos SUV e outros automóveis e... NÃO HÁ UMA ÚNICA REFERÊNCIA AO CONSUMO DOS CARROS NEM AO CO2 QUE ELES LANÇAM PARA A ATMOSFERA.
2. Dizem-me que um destes SUV lançados recentemente (O "carro da moda") faz 4 km por litro, isto é 25 litros aos 100 km.

Estão mesmo a gozar connosco!!! Incrível, não é? É só para acreditarem mesmo naquela questão das linhas paralelas que falei no post anterior...

Brasil again 1

As linhas paralelas. As tais que nunca se encontram (só na nossa errada percepção confluem, lá no fundo). Linhas paralelas entre uma sociedade que fala de direitos, de cuidados, de respeito, consideração, de tratamentos preferenciais ,de dignidade, de humanização , de direitos inalienáveis, etc. Isto é uma linha. Na outra está a desigualdade, o egoismo, o preconceito, o trabalho quase escravo, a escola péssima ao lado da escola dos ricos, os gigantescos fossos entre as pessoas. Linhas que nunca se encontram. E até, apesar da boa vontade reconstrutiva das nossas imagens visuais, não se encontram. Cada vez se afastam mais.
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?

sol no horizonte.
Perguntam-me:
Que estás a fazer?

Brasil again.

Hoje num parque urbano em Jundiaí, estive a dar de comer a saguis que andavam lá por cima de uns pinheiros num parque de merendas. E de repente, num cenário urbano aparece uma realidade tão estranha a um europeu que não deixamos de nos sentir exóticos. Como dizia Miguel Torga a respeitos dos alentejanos, é preciso ser uma pessoa de grande estatura para se enquadrar e dominar os grandes espaços. É isso que se sente nos brasileiros cuja simpatia e afabilidade não deve fazer esquecer a grande dimensão que têm para conseguir ocupar e habitar harmoniosamente espaços desta dimensão.


o sagüi
era a única coisa pequena
à vista.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os de hoje

no recreio da escola
o pinheiro tem as pontas
verdes, verdes.


O castanheiro
espalhou no chão o alarme
para o seu sono de Outono.