terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fim

acabei o trabalho
ou foi o fim que me encontrou?
um longo cipreste...

da árvore ao chão
a primeira e última vez
que voa a folha.

Manoel de Barros

Há muito que a poesia de Manoel de Barros, poeta brasileiro nascido em 1916, me interessa por três razões: a primeira pela enorme liberdade que tem de abusar da língua levando-a até às portas do erro, em segundo lugar pela ligação que tem à natureza sobretudo aos animais de "ao pé da porta" e por fim pela filosofia "Caeiriana" que embebe os seus versos. É um poeta que sempre recompensa o seu leitor com a visão de uma aresta que ainda não foi limada pelo lugar comum.
E aqui deixo um pedaço que gostei particularmente:


-Para entender nós temos dois caminhos:
o da sensibilidade que é o entendimento do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento do espírito.
Eu escrevo com o corpo
Poesia não é para compreender mas para incorporar
Entender é parede: procure ser uma árvore


Manoel de Barros

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

2012

2012
tem um ar redondinho
o número deste vizinho:
simétrico e todo par
e uma dúzia para terminar.

Que fofinho vem no bojo!
Mas que trará no estojo?

Será uma escavadora
Feita mala de senhora?
Será que se fez par
para melhor nos escachar?
Ou será que nos quer dar um sinal
que afinal nada vai correr mal?

Ano Novo:
Que terá dentro o ovo?

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Málaga

ficou uma paleta de pintor
esquecida nesta terra...
e hoje o crepúsculo explodiu em cores:
vermelhos, verdes, azuis, cinzentos...
o céu é enorme e leva a todo o mundo.
Pablo: a tua terra era pequena para ti
e tu, apesar de tudo,
fizeste-a crescer

Natal 2

- Ainda dizem que os amigos são raros... eu estou farto de receber mensagens de Natal. E este ano ainda mais que o ano passado que já tinha sido bem bom. Até agora já me mandaram os desejos de calorosas, santas, felizes, fantásticas e prósperas festas um batalhão de amigos do peito. Cito só alguns para saberem: a EDP - Energia de Portugal, a Digal, a Worten, a Rádio Popular, o IKEA, o Corte Inglês, o Corte Fiel, o Giovanni Galli, o Continente, o Pingo Doce,... enfim já nem me lembro bem quantos mais.
Oxalá que não me cortem muito no salário... se mantiver o meu nivelzinho de vida posso continuar a consumir e, enquanto for consumidor, não me faltam amigos. Viva a cidadania pelo consumo! Com sumo?

desfeito o feito
tamborilo na mesa
um fado chinês.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

De hoje

levanta-se o sol -
também debaixo da concha
o caracol espreita.

O primeiro deste ano...

Todos os anos (e já lá vão quatro...) escrevo neste blog sobre o Natal. Quem poderá ficar indiferente a este conglomerado de emoções?...
Hoje vi uma imagem do Pai Natal ajoelhado em frente à manjedoura onde estava Jesus. Fiquei estarrecido com a cena! O Pai Natal (o da Coca -Cola) é colocado no estábulo de Belém, pedindo certamente a bênção de Jesus para o sucesso de vendas. É o paganismo mais grosseiro e o corte com qualquer referência ao Jesus histórico e simbólico.
Recebi há dias pela net a foto de uma linda mulher abundantemente despida mas ostentando alguns símbolos de Natal. A legenda era "ou você prefere aquele velho barbudo?". Não há dúvidas: eu fico com a menina e a resposta é óbvia: o que ela quer vender está à vista e não precisa de fazer o teatro de se ajoelhar à manjedoura...

lágrima viúva
ainda por detrás do sol
toca um clarim.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Senryu

sento-me para jantar -
o cinto de segurança
onde está?

lento o tempo -
é preciso rapidez
para acabar!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sentir de novo

Sentir de novo, etimológicamente seria, ressentir. "Estou ressentido contigo"... Hummmm ndada de bom!
Ressentimento será repetir um sentimento? Um sentimento passado, requentado, vivido, estafado, murcho? "Esta atitude é de ressentimento"... Hummmm nada de bom!
A etimologia parece explicar-nos que o sentir e o sentimento são bons quando são espontânenos, frescos, procurando o novo. Cada vez que queremos sentir o mesmo de antes, ter os mesmos sentimentos de antes, dá asneira... sai ressentimento...

o bom não cansa
tu não me cansas -
eu é que estou cansado.

domingo, 4 de dezembro de 2011

eusices

sentir ao lado quando todos sentem no meio,
olhar o caroço quando só se vêm cascas,
querer sair quando todos querem entrar,
mexer quando é para ficar quieto
pensar quando é para sentir...
voltear em emoções quando é preciso pensar...
Cheira a teimosia
mas talvez também insegurança ou vaidade.
Para mim é o oxigénio da liberdade.