segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mestre José Marins: mais um texto.

A gente lê algumas vezes que o haicai proporciona ou é fruto


de um momento de iluminação, ou, numa linguagem ocidental,

um insight.



Eu tinha receio de dizer que nunca atingira esse estado de

iluminação na minha atividade de poeta do haicai. Até que

numa entrevista o haicaísta Ban´ya Natsuishi afirmou o

seguinte:



"Parece-me que no Ocidente enfatizam demasiado o satori e os



outros elementos budistas. Compor haicai é uma coisa, a iluminação é outra.

Bem separadas. Por mim escrevi mais de três mil haicais e, infelizmente,

nunca alcancei o satori. Penso, no entanto, que na escrita de um haicai pode

haver, escondido, algo semelhante ao estado de satori, mas de um modo menos

perceptível do que se julga entre vós. (...)"



Embora Natsuishi, com quem troco vez ou outra correspondência,

não seja um haicaísta preocupado com a tradição do gênero, pratica

o que chama de haicai contemporâneo, admite algum "estado de satori"

na prática do haicai.



Talvez ninguém mais pratique haicai como um "dô", um caminho.

Posso, mais uma vez, estar enganado.



O que percebo, todavia, é a existência de uma Educação Pelo Haicai.



Compreendo assim, haver alguns elementos da meditação na prática haicaística.

Por exemplo a contemplação da natureza, a educação dos sentidos para

observá-la,

o conhecimento de alguns aspectos das estações, a aceitação da impermanência.



Para mim, também, é uma meditação a sequência da realização do haicai:

vivência, haimi, escrita do haicai. (E incluo ainda as vivências

passadas, esse direito que cada poeta tem às suas memórias.)



A prática do haicai é uma meditação.



Um abraço,



ah, manhã de inverno

enquanto busco a quietude

agita-se o gato

-

josé marins