Andavamos a fazer que não viamos mas as livrarias estão a desaparecer. Cada vez mais e cada vez mais depressa, em progressão geométrica. A Amazon vendeu este Natal mais livros electrónicos do que impressos... "Tás a ver a picture?". O Jornal "Courier International" escrevia há pouco um curioso artigo: "Podem as democracias sobreviver sem jornais?". Diríamos "Pode a literatura sobreviver sem livros?". Pergunta idiota ou pertinente?
O certo é que nós, os que lemos livros e produzimos coisas para serem lidas em papel estamos em vias de substituição. Substituição pelo quê? Há quem diga que os blogs têm os dias contados... agora fashion é mesmo o facebook e o twitter...
Só mais uma pergunta: e para onde vai a reflexão, a sofisticação a profundidade dos sentimentos das pessoas? Sim , porque isto não significa que as pessoas são superficiais. A questão é: para onde vai a sua profundidade? (Como um lago...)
ondinhas de luz -
escuridão lá no fundo
e silêncio.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Neve
a urina a bater no esmalte do penico
e o pensamento se fico
a rosa no seu aroma submersa
pensando que é um gato persa
um barco sem som rumo ao mar alto
passa a ponte de Rialto
uma pele quente na nossa barriga
a fazer da pele madeira de Riga
um copo a mais do que se deve
pés decididos a entrar na neve.
e o pensamento se fico
a rosa no seu aroma submersa
pensando que é um gato persa
um barco sem som rumo ao mar alto
passa a ponte de Rialto
uma pele quente na nossa barriga
a fazer da pele madeira de Riga
um copo a mais do que se deve
pés decididos a entrar na neve.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Ainda o valor (1)
Regresso ao valor... Este tema tem inúmeras pontas por onde pegar.
Uma outra é que para aquilatar o nosso valor ou o valor dos outros é essencial destrinçar o que é da natureza e o que é o trabalho. Esta polémica ainda está hoje viva, e nos EEUU foi chamada de "nature-nurture".
O valor da pessoa afinal onde está? No génio hereditário, no talento? Ou pelo contrário no esforço, na educação, no aprimoramento? Talvez cada um de nós tenha posturas bem diferentes sobre estes dois componentes do "valor": para uns vale o génio, a predestinação, a centelha de talento, o jeito. Para outros o valor reside no trabalho, na persistência, na aposta em se transcender pela determinação. Onde está o valor? Nos dois dirão os mais conciliadores...
Antero de Quental dizia que a prova final do nosso valor se vê depois da nosso morte. Permito-me discordar: quantas génios morreram no esquecimento e quantos "não-génios" em glória...
Quem reconhece? Eu acho que é mesmo a pessoa. Mesmo enganando-se, sub ou sobrevalorizando-se, é ao próprio criador que cabe a palavra mais isenta sobre a sua própria produção. Ele engana-se? Claro que sim. Mas os outros enganam-se também. E pelo menos há uma vantagem: quando alguém se engana sobre o seu próprio valor, só está a julgar o próprio valor, ao passo que quem se engana sobre o valor do outro engana-se certamente por motivos que não têm a ver com a análise objectiva do valor da obra.
o pinhão já sabe
o que o engenheiro
ainda vai aprenedr.
Uma outra é que para aquilatar o nosso valor ou o valor dos outros é essencial destrinçar o que é da natureza e o que é o trabalho. Esta polémica ainda está hoje viva, e nos EEUU foi chamada de "nature-nurture".
O valor da pessoa afinal onde está? No génio hereditário, no talento? Ou pelo contrário no esforço, na educação, no aprimoramento? Talvez cada um de nós tenha posturas bem diferentes sobre estes dois componentes do "valor": para uns vale o génio, a predestinação, a centelha de talento, o jeito. Para outros o valor reside no trabalho, na persistência, na aposta em se transcender pela determinação. Onde está o valor? Nos dois dirão os mais conciliadores...
Antero de Quental dizia que a prova final do nosso valor se vê depois da nosso morte. Permito-me discordar: quantas génios morreram no esquecimento e quantos "não-génios" em glória...
Quem reconhece? Eu acho que é mesmo a pessoa. Mesmo enganando-se, sub ou sobrevalorizando-se, é ao próprio criador que cabe a palavra mais isenta sobre a sua própria produção. Ele engana-se? Claro que sim. Mas os outros enganam-se também. E pelo menos há uma vantagem: quando alguém se engana sobre o seu próprio valor, só está a julgar o próprio valor, ao passo que quem se engana sobre o valor do outro engana-se certamente por motivos que não têm a ver com a análise objectiva do valor da obra.
o pinhão já sabe
o que o engenheiro
ainda vai aprenedr.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Natal
Que azáfama! Passei cinco dias a comprar coisas. Comprei roupa para a neve; luvas, ceroulas, calças impremeáveis, uma camisola polar, uma malha, um casaco de neve , um gorro. Para a família comprei semelhante: fato de neve, trenós, creme para a pele, etc., etc. depois foram os presentes: nem descrevo tudo o que comprei, quantas vezes percorri com ar perdido as lojas cheias de coisas que não me interessavam... E depois foi a comida: antes de mais o bacalhau das águas frias da Noruega, couves galegas de repolho, pencas, cebolas, batatas, cenouras, ovos. O azeite, oh sim o azeite ! Extra virgem (extra?) como convém e a cheirar ao fruto... E por falar em fruto também os frutos secos: avelãs, nozes, damascos secos, pinhões, figos pingo de mel, figos com nozes dentro, amendoas, peras cristalizadas, ameixas pretas, de Elvas, .... Os doces: o bolo rei: o tradicional (com a dimensão de uma roda de camião) e o especial feito de chila. As rabanadas, a aletria, os bolinhos de bolina e mais isto e aquilo. Às 4 da tarde do dia 24 ainda fui em emergência ao supermercado vizinho comprar umas coisinhas que tinham escapado à memória... Uffff !!! Às 7 e meia preparei-me para cozinhar o bacalhau para a família. A logistica pronta: as panelas enormes alinhadas como numa formatura com a água a ferver e à espera de cumprir a sua fiel missão anual. Estava tudo a postos... tinha valido a pena esta correria de compras de Natal... Estava tudo comprado e previsto! Mas...
"Eh pá! Onde está o sal?" Não há? Ninguém comprou?. Era isso, não havia em casa sal para cozinhar...
E lembrei-me de Jesus (outra vez ele). "Vós sois o sal da Terra. E se o sal não salgar?" (Fica tudo sem sabor?).
Neste Natal havia tudo menos o sal. Por fim, inventamos que o sal de mesa fino substituiria o sal de cozinha grosso.... e funcionou...
Prometo não me esquecer do sal para o ano: mesmo que não tenha tempo para comprar aquelas pantufas (iguais às do Noddy) para a minha mãe (e que ela talvez não vá usar).
Prometo!
na consoada
só faltou o sal -
Natal de agora.
"Eh pá! Onde está o sal?" Não há? Ninguém comprou?. Era isso, não havia em casa sal para cozinhar...
E lembrei-me de Jesus (outra vez ele). "Vós sois o sal da Terra. E se o sal não salgar?" (Fica tudo sem sabor?).
Neste Natal havia tudo menos o sal. Por fim, inventamos que o sal de mesa fino substituiria o sal de cozinha grosso.... e funcionou...
Prometo não me esquecer do sal para o ano: mesmo que não tenha tempo para comprar aquelas pantufas (iguais às do Noddy) para a minha mãe (e que ela talvez não vá usar).
Prometo!
na consoada
só faltou o sal -
Natal de agora.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Ainda o valor
Retomo um post que escrevi no início de Dezembro. Quem pode aquilatar o valor do que uma pessoa qualquer faz? Cinco pontos (como os dedos da mão):
1. Avaliar é só o que a pessoa faz e não o que a pessoa é. Creio que grande maioria (a grande maioria mesmo) das pessoas é humana e rege-se por valores de não fazer mal ao próximo. Uma minoria desta maioria segue mesmo o princípio "FAZ aos outros o que gostarias que te fizessem a ti". A voz do povo tornou este "FAZ" em "NÃO FAÇAS"...
2. O que a pessoa faz tem diferentes constrangimentos. Antes de mais o do tempo. O que se faz pode ter significado num momento e deixar de o ter noutro. Um artista submerso em aplausos pode não voltar a ouvir o reconhecimento do seu trabalho. "Já fui valorizado mas agora não sou...". Também há o valor temporal voltado para o futuro: "Algum dia me reconhecerão!". O tempo é pois enganador.
3. Depois o do espaço: ser valorizado onde? No ciclo restrito da profissão, dos amigos? ao nível de uam região, nacional, internacional, mundial? Qual é o certo?
4. E ainda "por quem?".Parece que não há reconhecimentos unanimes. Sempre haverá alguém que ao lado dos elogios diga por exemplo "não fez mais do que devia", "só olhou pela sua vida", "nada de original", etc. etc. Quem dá valor? Que valor têm as críticas? E os elogios?
5. Certamente que não somos nós próprios que damos a dimensão mais objectiva ao nosso valor. (Se desvalorizassemos o que fazemos não o teríamos feito...). Na verdade não podemos confiar no nosso juízo, não podemos confiar no dos outros, não podemos confiar no tempo nem no espaço.
Enfim o que valemos? Valemos certamente o que podemos lucidamente extrair desta amálgama de informações erradas. Se calhar valemos só aqueles fugazes prazeres que conseguimos dar aos outros. É isso: valemos o que damos. nem mais nem menos!
1. Avaliar é só o que a pessoa faz e não o que a pessoa é. Creio que grande maioria (a grande maioria mesmo) das pessoas é humana e rege-se por valores de não fazer mal ao próximo. Uma minoria desta maioria segue mesmo o princípio "FAZ aos outros o que gostarias que te fizessem a ti". A voz do povo tornou este "FAZ" em "NÃO FAÇAS"...
2. O que a pessoa faz tem diferentes constrangimentos. Antes de mais o do tempo. O que se faz pode ter significado num momento e deixar de o ter noutro. Um artista submerso em aplausos pode não voltar a ouvir o reconhecimento do seu trabalho. "Já fui valorizado mas agora não sou...". Também há o valor temporal voltado para o futuro: "Algum dia me reconhecerão!". O tempo é pois enganador.
3. Depois o do espaço: ser valorizado onde? No ciclo restrito da profissão, dos amigos? ao nível de uam região, nacional, internacional, mundial? Qual é o certo?
4. E ainda "por quem?".Parece que não há reconhecimentos unanimes. Sempre haverá alguém que ao lado dos elogios diga por exemplo "não fez mais do que devia", "só olhou pela sua vida", "nada de original", etc. etc. Quem dá valor? Que valor têm as críticas? E os elogios?
5. Certamente que não somos nós próprios que damos a dimensão mais objectiva ao nosso valor. (Se desvalorizassemos o que fazemos não o teríamos feito...). Na verdade não podemos confiar no nosso juízo, não podemos confiar no dos outros, não podemos confiar no tempo nem no espaço.
Enfim o que valemos? Valemos certamente o que podemos lucidamente extrair desta amálgama de informações erradas. Se calhar valemos só aqueles fugazes prazeres que conseguimos dar aos outros. É isso: valemos o que damos. nem mais nem menos!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Jesus e Janus
São mesmo parecidos: um o deus dos cristãos o outro o deus romano. Janus é um dos deuses mais interessantes para lembrar nas comemorações como é esta do Natal. Janus é representado com duas cabeças: uma a olhar para a frente e outra a olhar para trás, uma para o passado e outra para o futuro. Janus assume o que todos os deuses gostariam de ser: uma referência e uma inspiração. Outra coisa interessante que eu acho de Janus é ele não ter uma terceira cabeça para o presente: na verdade, o presente não existe e é só uma débil e ingénua tentativa que fazemos de parar o fluir do tempo.
a flor de ontem
não parou de murchar
até hoje.
a flor de ontem
não parou de murchar
até hoje.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Natal (outra vez?)
Ainda não gastamos as prendas do ano passado e já aí está, pertinho, o Natal de 2009! Nada de muito novo: as alegrias esperadas (mas sempre boas), tristezas do costume, as promessas habituais... Como toda a gente que eu conheço acho que o Natal anda às avessas e trocamos uma data de valores (como todos) discutíveis, por outros (ainda mais) discutíveis.
A ver: trocamos a história do nascimento de Jesus por um velho obeso, vestido de vermelho que não consta que saiba fazer mais nada senão dar prendas, trocamos o tempo para estar com os amigos por ansiosas incursões em repletos centros comerciais, trocamos a festa do nascimento pela festa do consumo. Não deixo de me enternecer com a eterna história do nascimento de Jesus: um deus num estábulo, um deus que nasce rejeitado e termina assassinado, com uma vida ao lado do poder e do dinheiro e tão fortemente sintetizou e guiou a vontade de transcendência dos homens. Será que a história de pobreza e humildade não era suficinetemente inspiradora para as pessoas que querem ser os senhores das suas vidas?
É Jesus sem dúvida que vale mais (a grande surpresa) neste Natal.
geada de Inverno
sobre os campos
um fumo.
A ver: trocamos a história do nascimento de Jesus por um velho obeso, vestido de vermelho que não consta que saiba fazer mais nada senão dar prendas, trocamos o tempo para estar com os amigos por ansiosas incursões em repletos centros comerciais, trocamos a festa do nascimento pela festa do consumo. Não deixo de me enternecer com a eterna história do nascimento de Jesus: um deus num estábulo, um deus que nasce rejeitado e termina assassinado, com uma vida ao lado do poder e do dinheiro e tão fortemente sintetizou e guiou a vontade de transcendência dos homens. Será que a história de pobreza e humildade não era suficinetemente inspiradora para as pessoas que querem ser os senhores das suas vidas?
É Jesus sem dúvida que vale mais (a grande surpresa) neste Natal.
geada de Inverno
sobre os campos
um fumo.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Comunicação
Para as pessoas que estudam a comunicação o que eu vou escrever a seguir pode ser uma evidência infantil. Mas como eu não estudo a comunicação, transmito esta ideia com a espontaneidade de quem achou interessante uma ideia que lhe fulgiu no espírito...
Comunicar é dividir, é estabelecer campos. O silêncio é unificador e ambíguo mas a comunicação quando se manifesta traça linhas, estabelece categorias e, crie ela unidades ou diferenças, força a tomar partido nem que seja num discreto e subtil processo mental.
(Será por estes riscos que se fala e se escreve cada vez mais e se comunica cada vez menos?...)
Comunicar é dividir, é estabelecer campos. O silêncio é unificador e ambíguo mas a comunicação quando se manifesta traça linhas, estabelece categorias e, crie ela unidades ou diferenças, força a tomar partido nem que seja num discreto e subtil processo mental.
(Será por estes riscos que se fala e se escreve cada vez mais e se comunica cada vez menos?...)
sábado, 12 de dezembro de 2009
Portugal, 2009
Ontem, uma colega minha, professora universitária, falava-me do seu neto de 7 anos. Uma criança adorável, criativa, viva e cheia de vida. Mas... negra. Que diferença faz "isto" em Portugal no ano de 2009? Muita, diz ela. O neto sofre na escola: há crianças que o atormentam com insultos, monosprezo, chacota e agressões. Este menino chora quando chega a casa e tem pesadelos pelas noites atormentadas. Pertence a um grupo de música e quando a mãe lhe disse que não podia ir a um ensaio deste grupo ele disse "Não faças isso. Este ensaio faz-me esquecer que sou negro!".
Portugal? 2009? Oh suprema vergonha! Mil vezes maldita a história que alicerça esta prática anti-humana e que faz tantas vítimas: as da segregação como é este menino e as vítimas da estupidez como são os seus agressores. Portugal, 2009. Eu pensei que "isto" já não existia...
tantas flores no campo
nenhuma abana igual
ao sopro do vento.
Portugal? 2009? Oh suprema vergonha! Mil vezes maldita a história que alicerça esta prática anti-humana e que faz tantas vítimas: as da segregação como é este menino e as vítimas da estupidez como são os seus agressores. Portugal, 2009. Eu pensei que "isto" já não existia...
tantas flores no campo
nenhuma abana igual
ao sopro do vento.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Partidas...
Mais uma amiga que partiu antes do tempo...
"uma mulher
que durante a sua curta vida
sempre creu na eternidade".
"uma mulher
que durante a sua curta vida
sempre creu na eternidade".
Dois haiku
à flor da água
a gaivota segue
a sua sombra.
no gume da faca
passeia a formiga -
ah! A leveza...
a gaivota segue
a sua sombra.
no gume da faca
passeia a formiga -
ah! A leveza...
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Balanço
Sempre interessante a polissemia da língua portuguesa: balanço é ao mesmo tempo "equilíbrio" e "avaliação". Talvez queira dizer que fazer um bom balanço, uma avaliação, implica necessáriamente que se tenha um bom equilíbrio entre todos os factores que devem ser considerados para que essa avaliação possa ser considerada justa, fiável e útil.
Fim do ano: tempo de avaliações. Mas não esqueçam... com equilíbrio. Não vale olhar só para o que não se fez... nem só para o que se fez... nem só para o que correu bem... mas também para o que correu mal.
Que energia e lucidez metemos em cada coisa? E o que recebemos em troca? E o que demos?
cada vez mais devagar -
o baloiço para trás
e para a frente.
slower and slower -
the swing backwards
and forward.
Fim do ano: tempo de avaliações. Mas não esqueçam... com equilíbrio. Não vale olhar só para o que não se fez... nem só para o que se fez... nem só para o que correu bem... mas também para o que correu mal.
Que energia e lucidez metemos em cada coisa? E o que recebemos em troca? E o que demos?
cada vez mais devagar -
o baloiço para trás
e para a frente.
slower and slower -
the swing backwards
and forward.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Dezembro
O céu cinzento de chumbo e de água parece ir desfazer-se em chuva a qualquer instante. Pressentindo a chuva, o vento começa a ficar mais forte e mais rasteiro. As árvores parecem suspirar quando a ventania lhes açoita os ramos. No parque infantil...
Céu de chuva -
só estremece os baloiços
o vento.
Céu de chuva -
só estremece os baloiços
o vento.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Cavalos Lusitanos /Lusitanian horses
Some days ago I visited in Alentejo a farm wher "lusitanian" horses are raised. There they create the more "perfect" horses of this kind. Our visit were done by an expert. Someone asked: "Finnaly, what to do you consider the best horse in the world?» The answer coming from an expert was astonishing: "They are all good. There are not such thing as "bad horses". What we have to do is find its qualities: some are good to run, other to jump, other to pull,...".
(There are not bad horses? Please sent this information to the TV news. We need it desperately)
a horse
looks eternal
when gallops.
Há alguns dias visitei, numa gloriosa tarde de Outono, a Coudelaria de Alter no Alentejo. Lá se criam e apuram os mais perfeitos cavalos a que se decidiu chamar "lusitanos". Tivemos visita guiada e os turistas acidentais podiam ir colocando perguntas. A certa altura alguém perguntou: "Mas afinal qual é o melhor cavalo?". A resposta, vinda de alguém que busca incessantemente a excelência da raça, foi surpreendente: "Bons são todos. Não há cavalos maus. Nós temos é que descobrir em que é que cada cavalo é bom: uns para atrelar, outros para correr, outros para saltar, outros para ensino, outros porque têm um andamento suave,..."
Que excelente notícia: não há cavalos maus! (Dava, por favor, para pôr esta notícia a abrir o telejornal? Aqueles que falam dos ciganos e dos tiros na Cova da Moura?)
um cavalo -
parece eterno
quando galopa.
(There are not bad horses? Please sent this information to the TV news. We need it desperately)
a horse
looks eternal
when gallops.
Há alguns dias visitei, numa gloriosa tarde de Outono, a Coudelaria de Alter no Alentejo. Lá se criam e apuram os mais perfeitos cavalos a que se decidiu chamar "lusitanos". Tivemos visita guiada e os turistas acidentais podiam ir colocando perguntas. A certa altura alguém perguntou: "Mas afinal qual é o melhor cavalo?". A resposta, vinda de alguém que busca incessantemente a excelência da raça, foi surpreendente: "Bons são todos. Não há cavalos maus. Nós temos é que descobrir em que é que cada cavalo é bom: uns para atrelar, outros para correr, outros para saltar, outros para ensino, outros porque têm um andamento suave,..."
Que excelente notícia: não há cavalos maus! (Dava, por favor, para pôr esta notícia a abrir o telejornal? Aqueles que falam dos ciganos e dos tiros na Cova da Moura?)
um cavalo -
parece eterno
quando galopa.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Reminiscências
Coisas da memória (que os neuropsicólogos dizem ser a coisa mais afectiva que existe...). A minha memória atribui a Jesus a seguinte frase (mais ou menos...): "pensando bem, que poderá acrescentar um centímetro que seja ao seu tamanho?"
Nestes tempos em toda a gente anda em bicos de pés, de tacões, em cima de bancos (de Bancos...), a "fazer peito", a "empinar o nariz", enfim a fazer os impossíveis para parecer maior do que é, lembrei-me desta frase tão sábia e tão misericordiosa para com os garnizés a querer fingir de perús (é tempo de Natal, não esqueçam, senhores perús...)
à lareia
o gato já não lembra
o pêlo molhado.
Nestes tempos em toda a gente anda em bicos de pés, de tacões, em cima de bancos (de Bancos...), a "fazer peito", a "empinar o nariz", enfim a fazer os impossíveis para parecer maior do que é, lembrei-me desta frase tão sábia e tão misericordiosa para com os garnizés a querer fingir de perús (é tempo de Natal, não esqueçam, senhores perús...)
à lareia
o gato já não lembra
o pêlo molhado.
domingo, 15 de novembro de 2009
Prenda de anos...
(Clique na foto para a tornar maior)
Desculpem se é "too personal" mas este blog também é... Fiz anos há pouco tempo e, há cinco anos atrás, recebi uma prenda inigualável: a minha filha Melissa nasceu no mesmo dia que eu!
E aqui estamos nós neste dia de Novembro, com a gloriosa Pousada da Flor da Rosa atrás das costas, a celebrar gostarmos tanto um do outro...
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
O tamanho interessa?
Pelo menos os pequenos dizem que sim. Já Boris Vian dizia que "le probléme de la bombe c'est où elle tombe...".
Sobre o tamanho lembrei-me do seguinte:
Quer aumentar o tamanho da sua sala?
Varra-a com uma escova de dentes!
(É tudo relativo, nicht vahr?)
Amen!
Sobre o tamanho lembrei-me do seguinte:
Quer aumentar o tamanho da sua sala?
Varra-a com uma escova de dentes!
(É tudo relativo, nicht vahr?)
Amen!
sábado, 7 de novembro de 2009
Gaza
It was in one of those long waiting periods in an airport. "It would be nice to publish a booklet with my 21 haiku about Gaza..." Not bad... I took some small sheets of paper from the hotel I slep in the previous night and staredt to dream how the book would be like... the first page... the second page...
When my flight was announced, the book was ready on my head. Then it was necessary to make it real. Luis Rodrigues an outstanding designer and Alan Stolerov a poet which native language is English, gave me a hand.
Yesterday I book came to my hands and I looked it as a father touching the son he imagined.
Of course the book is not for me: it's for you dear friend (mine was ready already in the airport).
Here the cover:
Foi numa daquelas esperas que parecem intermináveis num aeroporto à espera de um vôo de ligação... E se eu publicasse os meus 21 haiku sobre Gaza? Talvez... Peguei em pequenas folhas de papel e sonhei o livro... como seria a primeira página... a segunda...
Quando me chamaram para o avião o livro estava já acabado na minha cabeça. Depois foi a concretização: contei com a ajuda competentíssima do Luis Rodrigues que é um gráfico "de mão cheia" e com o Alan Stolerov que retocou o meu inglês de estrangeiro.
E o livro saiu ontem: lancei-lhe um olhar de um pai que sonhou o filho e que agora, entre o feliz e o felicíssimo, o sente nas mãos.
Claro que o livro não é para mim (o meu já estava feito no aeroporto) este é para ti, leitor.
Aqui fica a capa:
Etiquetas:
ueur é um gráfico "de mão cheia"
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Festival de Druskininkai
Quando o grupo de poetas convidados chegou, vindo de Vilnius, a Druskininkai deparou-se com uma cena insólita e comovente: alguns dos poemas estavam pintados num muro mesmo em frente ao hotel. Este trabalho foi feito por alunos das escolas locais. Confesso que fiquei "entalado" quando vi, tão longe de Portugak um poema meu escrito na parede. Aqui fica o testemunho.
Recordações
Lembro-me de ti
como um cego se lembra
das imagens da infância
em que ainda via.
Não sei
se nestes sonhos és real,
só sei que o que era sentido
deu em emoção.
Não te vejo: sinto que te vejo
como um raio
que quase sempre
queima mais do que ilumina.
como um cego se lembra
das imagens da infância
em que ainda via.
Não sei
se nestes sonhos és real,
só sei que o que era sentido
deu em emoção.
Não te vejo: sinto que te vejo
como um raio
que quase sempre
queima mais do que ilumina.
domingo, 1 de novembro de 2009
Veneza...
Um video super amador para ver como estava Veneza em Junho lá do alto da torre da Praça de S. Marcos... Vale ou não vale um haiku?
Nobel Saramago
Não sei se foi para arranjar publicidade ao livro "Caim" mas lá que as declarações de Saramago sobre a Bíblia ajudaram as vendas, lá isso ajudaram...
Não vou dizer nada de novo mas... não resisto...
Quando Saramago diz que só se pode ler a Bíblia de modo literal porque a linguagem simbólica é para os teólogos acho que está a cometer um simplismo infantil (não ingénuo). Este simplismo é óbvio: ninguém lê um texto literalmente: todos interpretamos enquanto lemos e essa interpretação pessoal - e portanto única - é na sua essência simbólica e representacional. Dizer que quem não for teólogo só se pode ler a Biblia literalmente é economizar neuróneos (se eu tivesse oitenta e tal anos se calhar também os economizava que eles já não são muitos...)
arrepio
só de falar
do frio do Inverno
Não vou dizer nada de novo mas... não resisto...
Quando Saramago diz que só se pode ler a Bíblia de modo literal porque a linguagem simbólica é para os teólogos acho que está a cometer um simplismo infantil (não ingénuo). Este simplismo é óbvio: ninguém lê um texto literalmente: todos interpretamos enquanto lemos e essa interpretação pessoal - e portanto única - é na sua essência simbólica e representacional. Dizer que quem não for teólogo só se pode ler a Biblia literalmente é economizar neuróneos (se eu tivesse oitenta e tal anos se calhar também os economizava que eles já não são muitos...)
arrepio
só de falar
do frio do Inverno
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Na próxima semana...
... sai o meu livrinho "Gaza: 21 haiku". É fruto de um sentimento repetido e impotente de quem lê as notícias daquela nesga de terra encravada entre o mar e um muro, assolada por fanatismos e repressões. Que é ser um cidadão de Gaza? Quais são os seus sonhos? E cicatrizes? Deixo aqui ficar um dos 21 haiku:
previsão do tempo -
alguém sabe do futuro
em Gaza.
previsão do tempo -
alguém sabe do futuro
em Gaza.
domingo, 25 de outubro de 2009
Videos
Um poeta japonês gravou as apresentações de haiku no Festival de Outono de Druskininkai. Aqui fica a amostra com os meus agradecimentos.
(Só uma nota: no Japão é costume ler duas vezes cada haiku. Acho uma excelente prática que nos ajuda a entender o sentido mais profundo do texto)
Aqui fica:
http://www.youtube.com/watch?v=-fw3QzDj22Y
(Só uma nota: no Japão é costume ler duas vezes cada haiku. Acho uma excelente prática que nos ajuda a entender o sentido mais profundo do texto)
Aqui fica:
http://www.youtube.com/watch?v=-fw3QzDj22Y
terça-feira, 13 de outubro de 2009
No photos
Tenho fotos tão boas de Druskininkai mas não consigo (vá-se lá saber porquê) colocar as fotos no blog. Por agora estamos sem a componente visual o que nos deixa sempre indecisos sobre se uma imagem vale mais que mil palavras ou se uma palavra vale mais que mil imagens...
Para já fica então este haiku:
sonhei que era surdo
a minha mulher pediu
que ressonasse em língua gestual.
Para já fica então este haiku:
sonhei que era surdo
a minha mulher pediu
que ressonasse em língua gestual.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Druskinikai 1
Vou publicar algumas fotos e algumas reflexões do encontro de Druskininkai. Não é que falte assunto, é que temo que se não escrever todas estas boas recordações fiquem reduzidas a "vagas lembranças"... "Mas isto aconteceu mesmo?".
sentado na cama
luar nos meus pés nus -
Outono em Druskininkai
sentado na cama
luar nos meus pés nus -
Outono em Druskininkai
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Druskininkai - Lituânia
Caros amigos:
Regressei ontem do Festival de Poesia "Outono em Druskininkai". Quando me convidaram para participar eu não sabia o que era um Festival de Poesia mas agora já sei (mais ou menos). Antes de mais é o encontro. Desta vez 47 poetas de treze nacionalidades. Depois é a partilha: quando se aprende nas sessões de leitura! E ainda os resultados: foi publicado um lindo livro com os poemas dos participantes. Os poemas de alguns dos participantes (entre os quais eu) foram publicados na revista "Literatura & Menas". Voltarei com fotos e mais detalhes. Mas estou de alma cheia...
sentado na cama
o luar nos meus pés -
Outono em Druskininkai.
Regressei ontem do Festival de Poesia "Outono em Druskininkai". Quando me convidaram para participar eu não sabia o que era um Festival de Poesia mas agora já sei (mais ou menos). Antes de mais é o encontro. Desta vez 47 poetas de treze nacionalidades. Depois é a partilha: quando se aprende nas sessões de leitura! E ainda os resultados: foi publicado um lindo livro com os poemas dos participantes. Os poemas de alguns dos participantes (entre os quais eu) foram publicados na revista "Literatura & Menas". Voltarei com fotos e mais detalhes. Mas estou de alma cheia...
sentado na cama
o luar nos meus pés -
Outono em Druskininkai.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sábado, 26 de setembro de 2009
Futuro
empurrado pelo futuro
olho o presente
como uma vertingem.
o fututo nas costas
o passado na frente -
que pôr-do-sol!
olho o presente
como uma vertingem.
o fututo nas costas
o passado na frente -
que pôr-do-sol!
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Geografias emocionais
Foi este o nome que um investigador canadiano deu aos estudos que desenvolveu de forma a melhor conhecer as teias de emoções, de relações, de inter-relações que existiam numa sala de aula. Conhecer que está mais perto de quem e porquê, em que circunstâncias, com que solidez, é , sem dúvida, um desafio que procura desocultar as origens da controversa, instável e por vezes paradoxal "vida em sociedade".
Todos temos a nossa geografia emocional e procuramos de certo cultivá-la de modo a que à nossa volta não fiquem montanhas inóspitas mas sim planícies com rios generosos e florestas benignas. Que tal (às escondidas, é claro!) desenharmos a nossa geografia emocional?
Aquele deserto
esteve sempre ali
ou moveu-se?
Todos temos a nossa geografia emocional e procuramos de certo cultivá-la de modo a que à nossa volta não fiquem montanhas inóspitas mas sim planícies com rios generosos e florestas benignas. Que tal (às escondidas, é claro!) desenharmos a nossa geografia emocional?
Aquele deserto
esteve sempre ali
ou moveu-se?
sábado, 19 de setembro de 2009
Fios
Era bem curioso que pudessemos ver (ver mesmo) os fios (os fios mesmo) afectivos que nos ligam às coisas e às pessoas. Um espécie de cordoaria afectiva. E aí veriamos quantos fios cada um de nós tem, qual a sua espessura, quais as suas cores, qual o material de que são feitos... Esta geografia de afectos pensando bem, é melhor que continue a existir só no engodo das palavras... Seria quase insuportável (e inútil ?) ter esta "prova dos nove".
entre as rochas
o mar procura o caminho -
ai as palavras...
entre as rochas
o mar procura o caminho -
ai as palavras...
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Outono / Autumn
no chão já frio
folhas torradas -
crepúsculo de Outono.
on the cold ground
roasted leafs -
Autumn twilight.
folhas torradas -
crepúsculo de Outono.
on the cold ground
roasted leafs -
Autumn twilight.
Um pássaro / A bird
o pássaro
atravessou a tua cabeça -
de longe, sorriste.
the bird
passed through your head -
from far away, you smiled.
atravessou a tua cabeça -
de longe, sorriste.
the bird
passed through your head -
from far away, you smiled.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
O acaso e a necessidade
Muitas pessoas se lembrarão do livro com este título da autoria de Jacques Munod. O tema é muito aliciante: qual o motor da evolução? (E por extensão, qual o motor da criação?) Será o acaso que vai permitindo responder e acertar nas necessidades ou são as necessidades que dão sentido ao acaso?
Sobre a evolução não me pronuncio "por falta de cacifo" mas gostaria de comentar o processo de criação.
Nada vem por acaso: alguma ideia que se assome e que pode parecer fortuita é só uma recombinação inédita de material (anterior, presente ou sonhador) de que dispomos. Por isso é tão importante "pensar al revés" como se diz em Espanha: ao pensar do avesso chamamos novo material, novas representações, novas realidades que nos podem trazer alguma originalidade. Assim eu acho que o acaso serve as nossas necessidades. Tenho dito!
a girafa
tem o pescoço curto
para chegar às folhas.
Sobre a evolução não me pronuncio "por falta de cacifo" mas gostaria de comentar o processo de criação.
Nada vem por acaso: alguma ideia que se assome e que pode parecer fortuita é só uma recombinação inédita de material (anterior, presente ou sonhador) de que dispomos. Por isso é tão importante "pensar al revés" como se diz em Espanha: ao pensar do avesso chamamos novo material, novas representações, novas realidades que nos podem trazer alguma originalidade. Assim eu acho que o acaso serve as nossas necessidades. Tenho dito!
a girafa
tem o pescoço curto
para chegar às folhas.
sábado, 12 de setembro de 2009
Lilian
Na minha recente viagem à Colombia conheci uma professora da Universidade de Illinois (EUA) com quem tive mais conversas que o costume em congressos científicos. Lilian é uma amante de arte, de toda a arte, mas em particular de música clássica da qual é uma excelente conhcedora. Quando falmos de passagem em religião, ela disse-me que não segue nenhuma e que se considera uma "breathtakist". Poderíamos, numa penosa tradução, dizer que é um estado em que a pessoa fica sem fôlego frequentemente. Não sei se "isto" é uma religião mas já somos dois: eu também sou um "breathtakist"!
montanha azul
bordada de sol poente
chegou o Outono.
montanha azul
bordada de sol poente
chegou o Outono.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Druskininkai
Druskininkai é um lugar lindo na Lituânia. É um lugar de férias cheio de hoteis, esplanadas, parques, fontes e imensos relvados. Quando visitei pela primeira vez foi por causa de um museu impressionante que guarda as recordações da época soviética e que fica muito próximo. Documentos de repressão, de ocultação de violência simbólica e de todas as outras violências sobre as pessoas. Visitei este museu com duas colegas lituanas que viveram a época e que mal se conseguiam rir... o sofrimento foi muito. Como a noite do dia, ao lado, existe Druskininkai o lugar da eterna felicidade, do sol, da despreocupação.
Em Outubro vai-se realizar o Festival de Poesia do Outono, o evento maior nesta vila. Cerca de 40 poetas de haiku de treze países do mundo: o Japão à frente em número logo seguido da Lituânia.
E eu.
O único de língua portuguesa.
Não me vou esquecer que não sou só eu: são os muitos e bons poetas que escrevem haiku na língua de Wenceslau de Moraes.
Lua cheia no mar:
a lua olha o reflexo
e o reflexo a Lua.
Em Outubro vai-se realizar o Festival de Poesia do Outono, o evento maior nesta vila. Cerca de 40 poetas de haiku de treze países do mundo: o Japão à frente em número logo seguido da Lituânia.
E eu.
O único de língua portuguesa.
Não me vou esquecer que não sou só eu: são os muitos e bons poetas que escrevem haiku na língua de Wenceslau de Moraes.
Lua cheia no mar:
a lua olha o reflexo
e o reflexo a Lua.
De Cuba
O interesse pela poesia haiku é um fenomeno mundial. Desde que se procure bem, encontramos em todos os países que escreva, leia e se interesse por poesia haiku.
Desta vez deixo aqui o site de um poeta cubano - Jorge Bráulio - que é um valioso lugar onde se escreve, traduz e comenta poesia haiku. O site chama-se "En clave de haiku" e o endereço é este:
http://www.jorgebraulio.wordpress.com/
Desta vez deixo aqui o site de um poeta cubano - Jorge Bráulio - que é um valioso lugar onde se escreve, traduz e comenta poesia haiku. O site chama-se "En clave de haiku" e o endereço é este:
http://www.jorgebraulio.wordpress.com/
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
domingo, 6 de setembro de 2009
sábado, 5 de setembro de 2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
As grandes e as pequenas razões:
Há gente que se rege por pequenas razões e gente que se rege por grandes razões. Exemplos das grandes: "Não cheguei a tempo por causa da política do Governo" (houve uma manifestação); "Não almocei por causa do José Sócrates" (o meu subsídio de refeição está atrasado). Mas também há as pequenas "Perdi o emprego por causa de uma bolha" (cheguei atrasado à entrevista"; "Não creio em Deus por causa do padre da minha terra" (o homem vivia como... homem"
As grandes e as pequenas razões...
o caminho
sobe e desce
e eu com ele.
As grandes e as pequenas razões...
o caminho
sobe e desce
e eu com ele.
Fim do dia
Sete árvores, um renque de sete árvores ainda jovens plantadas a distâncias regulares. O sol projecta para norte as sombras finas dos seus troncos. Ao meio dia as sombras estão longe umas das outras mas, à medida que o dia avança, elas vão-se deitanto no chão e cada vez mais inclinadas pelo sol poente, ficam mais juntas.
sombra das árvores
só à tarde as alcanço
com os meus passos.
sombra das árvores
só à tarde as alcanço
com os meus passos.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Um texto sobre terminologia...
Um participante da lista de discussão virtual haicai-l - André Bessa - postou um texto que me parece interessante e que aqui transcrevo, citando a fonte e com a devina vénia:
Apenas um pequeno adendo no que concerne a origem da palavra haiku.Muito já se foi escrito neste particular, porém, a maioria dasfontes – tanto orientais quanto ocidentais – concorrem nosentido de que o termo haiku surgiu em fins do século XIX,provavelmente inventado pelo escritor japonês Masaoka Shiki((1867-1902) a partir da palavra hokku. Esta designa a primeira estrofede um renga, que mais tarde derivou em renku, chamado também dehaikai no renga. O hokku, como poemeto independente, foi a formautilizada por Bashô, à qual incorporou-se uma combinação deprosa (haibun) e de pintura (haiga). No entanto, o termo haiku é hojeaplicado de forma retroativa a todos hokku que aparecem de formaindependente, ou seja, não ligadas a um renku ou a um renga.No Ocidente, foi através do artigo "Uma Proposta aos PoetasAmericanos" publicada na revista Reader de fevereiro de 1904, escritopelo poeta japonês Yone Noguchi (1875-1947) que se deve a primeiraaparição desta forma poética deste lado do mundo, chamada ainda dehokku neste artigo. Sómente pouco mais de um ano depois, é quesurgiram os primeiros haiku em francês pela mão do poeta efilósofo Paul-Louis Couchoud (1879-1959). Fato curioso,diferentemente das traduções inglesas, que adotaram a grafia hokku(já anacrônica) de Noguchi, Couchoud utilizou o nome haikai quandoeste poemeto era já então conhecido em todo o Japão pelo nomede haiku! Couchoud esteve por pouco tempo no Japão (de setembro 1903a maio 1904) e é pouco provável que tenha aprendidosuficientemente a língua nipônica a ponto de fazer traduçõesliterárias, como o querem certas fontes francesas.A primeira publicação de haicai (ou haiku) em francês se deuatravés do livro anónimo "Au fil de l'eau" (julho de 1905) –um pequeno formato de 15 páginas e impresso a trinta exemplaresapenas – e que contém 72 haikai (na grafia de P-L Couchoud).Estes foram compostos durante um cruzeiro em barcaça (péniche),feito poucos meses antes, através de canais na França, porPaul-Louis Couchoud e dois de seus amigos, o escultor Albert Poncin e opintor André Faure. Não se sabe bem o porque de Couchoud ter usadoo nome de haikai ao que já era então conhecido como haiku noJapão, e hokku nos países ocidentais de língua inglesa.Na verdade, haikai (que em japonês quer dizer cômico,excêntrico) é o nome dado a todo gênero poético que seencontra dentro da estética do haikai no renga, e que inclue formastais como o haiku, o haibun, o renku, o haiga e o senryu. Haikai (que setornou haicai em português do Brasil) é também usado com aforma abreviada de haikai no renga.
Um abraço,
André Bessa
Apenas um pequeno adendo no que concerne a origem da palavra haiku.Muito já se foi escrito neste particular, porém, a maioria dasfontes – tanto orientais quanto ocidentais – concorrem nosentido de que o termo haiku surgiu em fins do século XIX,provavelmente inventado pelo escritor japonês Masaoka Shiki((1867-1902) a partir da palavra hokku. Esta designa a primeira estrofede um renga, que mais tarde derivou em renku, chamado também dehaikai no renga. O hokku, como poemeto independente, foi a formautilizada por Bashô, à qual incorporou-se uma combinação deprosa (haibun) e de pintura (haiga). No entanto, o termo haiku é hojeaplicado de forma retroativa a todos hokku que aparecem de formaindependente, ou seja, não ligadas a um renku ou a um renga.No Ocidente, foi através do artigo "Uma Proposta aos PoetasAmericanos" publicada na revista Reader de fevereiro de 1904, escritopelo poeta japonês Yone Noguchi (1875-1947) que se deve a primeiraaparição desta forma poética deste lado do mundo, chamada ainda dehokku neste artigo. Sómente pouco mais de um ano depois, é quesurgiram os primeiros haiku em francês pela mão do poeta efilósofo Paul-Louis Couchoud (1879-1959). Fato curioso,diferentemente das traduções inglesas, que adotaram a grafia hokku(já anacrônica) de Noguchi, Couchoud utilizou o nome haikai quandoeste poemeto era já então conhecido em todo o Japão pelo nomede haiku! Couchoud esteve por pouco tempo no Japão (de setembro 1903a maio 1904) e é pouco provável que tenha aprendidosuficientemente a língua nipônica a ponto de fazer traduçõesliterárias, como o querem certas fontes francesas.A primeira publicação de haicai (ou haiku) em francês se deuatravés do livro anónimo "Au fil de l'eau" (julho de 1905) –um pequeno formato de 15 páginas e impresso a trinta exemplaresapenas – e que contém 72 haikai (na grafia de P-L Couchoud).Estes foram compostos durante um cruzeiro em barcaça (péniche),feito poucos meses antes, através de canais na França, porPaul-Louis Couchoud e dois de seus amigos, o escultor Albert Poncin e opintor André Faure. Não se sabe bem o porque de Couchoud ter usadoo nome de haikai ao que já era então conhecido como haiku noJapão, e hokku nos países ocidentais de língua inglesa.Na verdade, haikai (que em japonês quer dizer cômico,excêntrico) é o nome dado a todo gênero poético que seencontra dentro da estética do haikai no renga, e que inclue formastais como o haiku, o haibun, o renku, o haiga e o senryu. Haikai (que setornou haicai em português do Brasil) é também usado com aforma abreviada de haikai no renga.
Um abraço,
André Bessa
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
Ajiaco
Ajiaco bogotano é uma sopa feita com três tipos de batatas diferentes, galinha, milho e servida com creme de leite, abacate e alcaparras. Estava a comer uma destas num restaurante popular em Zipaquirá quando vi uma menina de 4 anos a ser arrastada pelos cabelos pelo pai. Ela tinha ido para a rua. O ajiaco estava bom mas perdi o apetite...
estranho...
a árvore cresce para o céu
é preciso pará-la.
estranho...
a árvore cresce para o céu
é preciso pará-la.
Zipaquirá
É uma cidade perto de Bogotá. A 2700 metros de altitude, por dentro de uma montanha, uma antiga mina de sal convertida numa enorme catedral. Leva quase duas horas a percorrer esta sacralização dos espaços onde por muitos anos, a duríssima vida de mineiro teve cenário.
Se não é só por oportunismo é interessanta que os cristãos rezem a Deus noas profundezas da Terra, mais perto de onde, a mitologia cristã colocou a morada do Diabo.
na mina de sal
já não há picaretas
só gregoriano.
Se não é só por oportunismo é interessanta que os cristãos rezem a Deus noas profundezas da Terra, mais perto de onde, a mitologia cristã colocou a morada do Diabo.
na mina de sal
já não há picaretas
só gregoriano.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Medellin 5
"Fué un plazer"
"Fué un infinito plazer"
"Con mucho gusto"
"Es un gran plazer"
"Que Diós le bendiga"
Ouvem-se estas frases centenas de vezes por dia nesta contraditória Colômbia: um dos países mais pobres da AL mas com um bom nível de alfabetização. As contradições estão latentes, prontas a saltar; depois de vencidas as resistências do medo (!!!!) as pessoas falam, por exemplo, de política com amargura e determinação.
água de côco -
o mais mode
depois do duro.
"Fué un infinito plazer"
"Con mucho gusto"
"Es un gran plazer"
"Que Diós le bendiga"
Ouvem-se estas frases centenas de vezes por dia nesta contraditória Colômbia: um dos países mais pobres da AL mas com um bom nível de alfabetização. As contradições estão latentes, prontas a saltar; depois de vencidas as resistências do medo (!!!!) as pessoas falam, por exemplo, de política com amargura e determinação.
água de côco -
o mais mode
depois do duro.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Medellin 4
Um murro no estômago, ou se quizerem um nó húmido na garganta.. Nas ruas centrais de Medellin um rapaz com talvez doze anos, sujíssimo, deitado no chão, talvez a pedir dinheiro. Tinha disquinésia (um tipo de Paralisia Cerebral) e olhava com os olhos fugidios mas significativos o movimento de pessoas no passeio. Estava sozinho, com as unhas enormes, cabelo inenarrável... um farrapo. Perguntei-lhe algo, não respondeu. Uma vendedora de rua ao lado disse "Dejelo... es un indigente". Talvez seja indigente mas porque o impediram de ser só "gente"? Às vezes a realidade devia vir embrulhada em algodão em rama... E ando eu práqui a pregar inclusão...
"pedras das calçadas -
estilhaços de sonhos
espalhados no chão"
"pedras das calçadas -
estilhaços de sonhos
espalhados no chão"
Medellin 3
Nas ruas de Medellin, ao meio dia, o sol está a pique, a prumo sob a nossa cabeça com toda a sua opulência e desdenhando as vãs protecções que intrepomos entre ele e nós. Lasca bem em cima e, a esquina, parece-me ver a própria re-encarnação de Aknathon (ou será Montesuma?)
não faço sombra -
como estarão
os girassóis?
não faço sombra -
como estarão
os girassóis?
Medellin 2
Fartei-me de treinar sem saber para chegar aqui: li o Garcia marquez, bebi café da Colômbia, dancei com a Xaquira, conheci as esculturas do Brotero... enfim e finalmente aquie stou a cerzir todos estas peças. É verdade sim, que se nota uma força telúrica nesta terra. Colombo um navegador de competência duvidosa não se merecia ter tanta e tão linda terra evocando o seu nome...
Por favor:
coca
cola.
Por favor:
coca
cola.
Medellin
vale de Aburra
prédios como formigas
no tronco dos pinheiros
acima das casas
e das nuvens
as montanhas.
prédios como formigas
no tronco dos pinheiros
acima das casas
e das nuvens
as montanhas.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Respeito
Nos anos 60 do século passado Otis Reading um fantástico intérprete de música "soul" cantava uma música chamada "Respect". O refrão (espelhando a época de luta pelos direitos civis que então se vivia) era "Give some respect". Era um negro a gritar aos quatro ventos o que queria.
Mas...
O respeito pode-se pedir? Pode-se dar? Eu acho que não.
O respeito é como o ar. não se dá por ele excepto quando ele deixa de ser "normal". "Que ar tão puro!", "Que ar tão poluído", "Que ar tão enovoado" "Precisamos de ventilação"...
O respeito é como o ar porque quando se fala dele é porque ele já não é o que era, ou melhor o que devia ser... natural. O respeito faz parte da pessoa e quando alguém pede respeito é porque já (irremediávelmente) o perdeu. Quando se diz que se tem respeito por alguém é porque se acha que talvez não se devesse (ou fosse possível) não o ter.
"Give me some respect", I don't have to give it to you. It's your's or... you lost it for good...
Que rosa!
não
cheira.
Mas...
O respeito pode-se pedir? Pode-se dar? Eu acho que não.
O respeito é como o ar. não se dá por ele excepto quando ele deixa de ser "normal". "Que ar tão puro!", "Que ar tão poluído", "Que ar tão enovoado" "Precisamos de ventilação"...
O respeito é como o ar porque quando se fala dele é porque ele já não é o que era, ou melhor o que devia ser... natural. O respeito faz parte da pessoa e quando alguém pede respeito é porque já (irremediávelmente) o perdeu. Quando se diz que se tem respeito por alguém é porque se acha que talvez não se devesse (ou fosse possível) não o ter.
"Give me some respect", I don't have to give it to you. It's your's or... you lost it for good...
Que rosa!
não
cheira.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Vida e água
Sempre ouvi esta associação "água é vida". Sempre a associei à produção da vida (a floresta versus o deserto). A água era a produtora da vida. Tudo bem!
Mas a água também é um parábola sobre a gestão da vida. Explicando: quando usamos para explicar o que fizemos, fazemos ou iremos fazer imagens, razões e interpretações que são fruto da nossa imaginação, isso quer dizer que estamos a encontrar caminhos para lidar com uma realidade que nos é incompreensível ou insuportável. E assim, a imaginação procura caminhos improváveis, impossíveis e criativos para encontrar uma lógica e uma razão para viver coerentemente.
A vida é pois como a água, sempre disposta a passar por cima, por baixo ou pelo lado qualquer obstáculo. O importante é a vigaem, é a força de viver. A realidade... bom... isso interessa menos do que esta força a seguir o seu caminho...
o chão
ficou empapado
dos dois lados da pedra
Mas a água também é um parábola sobre a gestão da vida. Explicando: quando usamos para explicar o que fizemos, fazemos ou iremos fazer imagens, razões e interpretações que são fruto da nossa imaginação, isso quer dizer que estamos a encontrar caminhos para lidar com uma realidade que nos é incompreensível ou insuportável. E assim, a imaginação procura caminhos improváveis, impossíveis e criativos para encontrar uma lógica e uma razão para viver coerentemente.
A vida é pois como a água, sempre disposta a passar por cima, por baixo ou pelo lado qualquer obstáculo. O importante é a vigaem, é a força de viver. A realidade... bom... isso interessa menos do que esta força a seguir o seu caminho...
o chão
ficou empapado
dos dois lados da pedra
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
O Porto
E que dizer desta religião laica é "ser do Porto" ou "fazer as coisas à moda do Porto"? D. António Ferreira Gomes um dos mais eminentes habitantes do Porto dizia que os burgueses do Porto não são contra o rei a favor do bispo ou contra o bispo e afavor do rei são contra ou a favor de todos quando se trata de defender os seus interesses (cit: Helder Pacheco, Rev. Notícias, 16.8.09) É esta talvez a raíz do "bairrismo" que só é globalizado porque o tempo obriga senão o melhor pão do mundo continuaria a ser o que era vendido na loja da esquina. Um amigo meu (um bilhete postal do Porto) dizia quando a equipa de futebol de Portugal jogava que isso lhe era quase indiferente, mas quando jogava o FCP...
"Fazer as coisas à moda do Porto" tem muito a ver com olhar antes de mais os interesses da família, da cidade, dos "partisans", de quem nos ajudou ou pode vir a ajudar. E sobretudo gritar bem alto sobre as tradições democráticas e de imparcialidade da cidade...
corre a água
nos regos do quintal:
que seca, hem?
"Fazer as coisas à moda do Porto" tem muito a ver com olhar antes de mais os interesses da família, da cidade, dos "partisans", de quem nos ajudou ou pode vir a ajudar. E sobretudo gritar bem alto sobre as tradições democráticas e de imparcialidade da cidade...
corre a água
nos regos do quintal:
que seca, hem?
domingo, 16 de agosto de 2009
O caminho estreito para o longínquo Norte...
Bashô escreveu o livro com este título onde recolheu as impressões da sua peregrinação poética pelo Japão ao longo de mais de 2.000 quilómetros.
A "National Geografic" publicou um artigo sobre "A senda de Bashô" e Michael Yamashita, fotógrafo, ilustrou o artigo com fotos fantásticas.
Podem ver estas fotos em:
http://ngm.nationalgeographic.com/2008/02/bashos-trail/yamashita-photography.html
(Esta indicação recebi-a do haijun brasileiro José Marins. Obrigado)
Podem encontrar este artigo e as fotos na revista National Geografic (edição portuguesa) de Fevereiro de 2008. O artigo chama-se "No rasto de um fantasma" (p.60).
A "National Geografic" publicou um artigo sobre "A senda de Bashô" e Michael Yamashita, fotógrafo, ilustrou o artigo com fotos fantásticas.
Podem ver estas fotos em:
http://ngm.nationalgeographic.com/2008/02/bashos-trail/yamashita-photography.html
(Esta indicação recebi-a do haijun brasileiro José Marins. Obrigado)
Podem encontrar este artigo e as fotos na revista National Geografic (edição portuguesa) de Fevereiro de 2008. O artigo chama-se "No rasto de um fantasma" (p.60).
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Falar
"Quem muito fala pouco acerta..." É um risco que correm as pessoas como eu. Falo tanto que a média do que eu digo é baixa em impacto, credibilidade, pertinência, etc. No fundo eu creio na palavra: no efeito apaziguador, de entendimento, de compreensão, de relação e pedagogia da palavra. Não necessáriamente da minha... Mas "da palavra".
Isto porque cada vez que se fala mostra-se o que somos, o que pensamos, o que tememos e como vemos o mundo. Isso é (quase sempre) útil aos outros porque a identidade que construímos é a custa da constatação das diferenças. E como se vêem as diferenças? Muito pela palavra.
Ainda que não reconhecendo que é necessariamente uma qualidade, vou continuar a falar demais...
meio-dia de Verão -
canta o melro desde a alba
só agora o ouvi
Isto porque cada vez que se fala mostra-se o que somos, o que pensamos, o que tememos e como vemos o mundo. Isso é (quase sempre) útil aos outros porque a identidade que construímos é a custa da constatação das diferenças. E como se vêem as diferenças? Muito pela palavra.
Ainda que não reconhecendo que é necessariamente uma qualidade, vou continuar a falar demais...
meio-dia de Verão -
canta o melro desde a alba
só agora o ouvi
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Espelho
Andar no mundo é como andar sobre a água: cada passada provoca um impacto que se (conforme o estado da água) se alarga em círculos de pequenas ondas.
É portanto grande a responsabilidade de existir: o que se faz e o que não se faz reprecute inexoravelmente para além da passada. Somos responsáveis e imputáveis. E "a ignorância da lei não justifica o seu não cumprimento"....
sete círculos
fez o meu pé na água -
eh pá! Tantos...
É portanto grande a responsabilidade de existir: o que se faz e o que não se faz reprecute inexoravelmente para além da passada. Somos responsáveis e imputáveis. E "a ignorância da lei não justifica o seu não cumprimento"....
sete círculos
fez o meu pé na água -
eh pá! Tantos...
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Tempos
O tempo é (com o espaço) um dos grandes organizadores da acção. Agir a "destempo" (antes ou depois) retira a pertinência e a utilidade à acção.
O livro de Qohéleth ou "O Eclesiastes", Salomão (cap. 3) fala do tempo como ele o via 1000 anos antes do nascimento de Jesus...
1
¶ Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
2
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
6
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
7
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Há tempo para tudo mas é a cada pessoa que compete julgar se "este" é o tempo de "juntar ou espalhar pedras".
De um e de outrou António Gideão dizia "... todo o tempo é de poesia"
quem me dera
agora ao meio-dia
o fresco da noite.
O livro de Qohéleth ou "O Eclesiastes", Salomão (cap. 3) fala do tempo como ele o via 1000 anos antes do nascimento de Jesus...
1
¶ Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
2
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
6
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
7
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Há tempo para tudo mas é a cada pessoa que compete julgar se "este" é o tempo de "juntar ou espalhar pedras".
De um e de outrou António Gideão dizia "... todo o tempo é de poesia"
quem me dera
agora ao meio-dia
o fresco da noite.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
10 de Agosto
Todos os dias podem ser marcos. Até podem ser "o vigésimo terceiro dia antes de acontecer alguma coisa " ou "11 dias depois de ter acontecido algo". Todos os dias podem ser marcos porque os marcos não estão nos dias mas nas pessoas.
Hoje 10 de Agosto de 2009 é para mim um marco. Estou certo que me movo, tal como as plantas para a luz, para a minha felicidade e para a dos que me rodeiam. E quanto ao resto... quem´somos para previsões?
Salvé dia 10 de Agosto de 2009!!!!!!!!!
levantei a pedra
e não vi nada debaixo dela -
só depois...
Hoje 10 de Agosto de 2009 é para mim um marco. Estou certo que me movo, tal como as plantas para a luz, para a minha felicidade e para a dos que me rodeiam. E quanto ao resto... quem´somos para previsões?
Salvé dia 10 de Agosto de 2009!!!!!!!!!
levantei a pedra
e não vi nada debaixo dela -
só depois...
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Tamanho
Ai o nosso tamanho.... em centímetros e em minutos. Pequenino, ínfimo, insignificante, mesmo. Como ampliar, dar grandeza, perenidade ao insignificante? Tantas as tentativas! A mitologia, a religião, a filosofia, mesmo a história nos procura dar a ideia que somos muito mais do que o "aqui e agora". E somos? Antes de responder... mas afinal quem é que vai dar a resposta? Se é o próprio... é suspeito, juiz em causa própria... se é outro... quem é esse outro? Portanto a resposta está inquinada mas mesmo assim, aí vai...
Somos mais do que o "aqui e agora" porque o "aqui e agora" são insignificantes que não valem o trabalho de um castanheiro a fazer uma castanha. Somos mais se conhecermos a insignificância. (Continuamos a ser insignificantes mas ao saber isso saímos da insignificância porque voamos além da biologia).
(Eh pá! Isto hoje está mesmo insignificantemente filosófico...)
a flor do castanheiro
já é um cacho de castanhas
só que não sabe.
Somos mais do que o "aqui e agora" porque o "aqui e agora" são insignificantes que não valem o trabalho de um castanheiro a fazer uma castanha. Somos mais se conhecermos a insignificância. (Continuamos a ser insignificantes mas ao saber isso saímos da insignificância porque voamos além da biologia).
(Eh pá! Isto hoje está mesmo insignificantemente filosófico...)
a flor do castanheiro
já é um cacho de castanhas
só que não sabe.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Luazona
A mítica Lua Cheia de Agosto... Foi ontem... A Carmen, uma amiga do Brasil que dormiu em casa, olhou pela janela o Tejo com ondas de metal e a grande Lua. Saudou-a: " Enquanto olhar para mim eu vou olhar pra você, Lua maravilhosa!".
tudo se vê
e está encoberto -
Lua de Agosto.
tudo se vê
e está encoberto -
Lua de Agosto.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Adrede
Mario Benedetti (1920-2009) publicou no fim da sua profíqua vida literária um livro de textos curtos com saborosas reflexões sobre o dia-a-dia. Intitulou este livro "Vivir Adrede" (2007, Santillana).
Confesso que a primeira coisa que fiz quando comprei o livro foi procurar saber o que queria dizer em espanhol "adrede". Descobri que quer dizer "de propósito", "expressamente". Fiquei foi surpreendido quando li que a mesma palavra existia e queria dizer o mesmo em português! Quer dizer, viajei via espanhol para conhecer mais uma palavrinha preciosa do infindável tesouro que é lingua que recebi de presente quando nasci.
adrede para te ver
por ruas desconhecidas
sem rumo.
Confesso que a primeira coisa que fiz quando comprei o livro foi procurar saber o que queria dizer em espanhol "adrede". Descobri que quer dizer "de propósito", "expressamente". Fiquei foi surpreendido quando li que a mesma palavra existia e queria dizer o mesmo em português! Quer dizer, viajei via espanhol para conhecer mais uma palavrinha preciosa do infindável tesouro que é lingua que recebi de presente quando nasci.
adrede para te ver
por ruas desconhecidas
sem rumo.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
O livro das caras
Queres ser meu amigo?
Tá bem!
Mas só se não te puder ver!
(Podes pôr a foto de outra pessoa).
Vou-te pôr
No meu livro das caras
Tás a ver?
"Livro das caras"
É só pra disfarçar...
A tua cara ao fim e ao cabo
não interessa muito...
O que me interessa
É ter-te a comunicar comigo
Quantas vezes?
Quantos contactos?
"Give me five!" "Tudo em cima!"
Eh pá que fixe!
Os meus outros amigos...
Eu gosto deles... mas...
Ás vezes é uma seca
Atrasam-se, chateiam-me,
andam chateados, andam "em baixo"...
Mas no livro das caras
No meu Face Book
Estão todos (e tantos!!!) lindos
bem-dispostos, disponíveis
Todos "up!"!
Mas hoje lembrei-me...
Que faces, quantas faces
terá o meu book
quando vier o frio?
Tá bem!
Mas só se não te puder ver!
(Podes pôr a foto de outra pessoa).
Vou-te pôr
No meu livro das caras
Tás a ver?
"Livro das caras"
É só pra disfarçar...
A tua cara ao fim e ao cabo
não interessa muito...
O que me interessa
É ter-te a comunicar comigo
Quantas vezes?
Quantos contactos?
"Give me five!" "Tudo em cima!"
Eh pá que fixe!
Os meus outros amigos...
Eu gosto deles... mas...
Ás vezes é uma seca
Atrasam-se, chateiam-me,
andam chateados, andam "em baixo"...
Mas no livro das caras
No meu Face Book
Estão todos (e tantos!!!) lindos
bem-dispostos, disponíveis
Todos "up!"!
Mas hoje lembrei-me...
Que faces, quantas faces
terá o meu book
quando vier o frio?
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Um sonho
era uma pedra com o tamanho formidável um monolito enorme como um gigantesco iceberg pousado numa imensa e deserta planície a pedra estava abraçada por uma teia de cabos de aço que partiam em todas as direcções do horizonte fiquei a olhar sem entender para este cenário esmagador e desolado de repente senti a presença de outra pessoa e quando me voltei vi uma criança que não teria mais de sete anos parecia um rapaz e estava vestido com uma túnica azul cobalto logo entendi que ele sabia o que era "aquilo" e perguntei sabes-me dizer o que é esta pedra e porque é que estão todas estas cordas amarradas a ela sem se saber onde terminam não é nada complicado disse ele com um sorriso os cabos vão para todo o mundo e estão sempre a ser puxadas por todas as forças que em cada lugar se encontrem: homens , mulheres, animais, máquinas toda a gente quer mover a pedra toda a gente pensa que pode mover a pedra na sua direcção mas como todos puxam muito e incessantemente anulam-se e a pedra quase nunca se move só às vezes quando todo um conjunto de cabos relaxa o se consegue um estremecimento da pedra o meu avô disse-me que numa noite de lua cheia já a viu mover-se cinco metros mas isso foi há muito tempo eu só ouço o ranger só vejo a tensão inútil destes milhares de cabos se as pessoas que os puxam ao menos vissem a pedra se eles ao menos pudessem falar uns com os outros se ao menos eles olhassem a lua quando ela está cheia
a última folha
caiu de árvore -
ventinho de nada
a última folha
caiu de árvore -
ventinho de nada
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Vigotski e a amizade
Lev Vigotski (1896-1934) foi um grande psicologo russo que iluminou a psicologia e a educação até hoje. Uma das suas criações teóricas mais geniais foi a Área de Desenvolvimento Potencial (ADP) que, numa rapidíssima definição, nos diz que a pessoa não é só aquilo que mostra numa determinada situação: depende de com quem está e se estiver com alguém que a possa incentivar e guiar na aquisição do conhecimento essa pessoa mostra o seu potencial, a tal ADP.
Enfim, lembrei-me do inspirador Vigotski a propósito da amizade. Como os nossos amigos expandem aquilo que somos! Como quando estamos com eles a nossa ADP fica enorme. A amizade é uma expansora da personalidade. Spazibo, Lev!
fica um galo
o pombo quando faz a corte
à pomba.
Enfim, lembrei-me do inspirador Vigotski a propósito da amizade. Como os nossos amigos expandem aquilo que somos! Como quando estamos com eles a nossa ADP fica enorme. A amizade é uma expansora da personalidade. Spazibo, Lev!
fica um galo
o pombo quando faz a corte
à pomba.
domingo, 26 de julho de 2009
Amigos
mas o que são afinal os amigos quando recebemos um banho com gente à nossa volta que nos exprime amizade ficamos a pensar mas afinal quem são os amigos eles são muitas vezes o nosso porto de abrigo as pessoas que dizem bem de nós quando os outros são indiferentes quando eles encontram para os nossos actos fins nobres onde o outros vêem calculismo ou até perversão também são expansores da nossa personalidade aquelas pessoas com as quais nós somos capazes de ir mais além de falar mais do que pensavamos que eram as nossas opiniões mas hoje eu queria falar do que são os amigos quando encorajam e sustentam o que nós somos e o que queríamos ser que se alegram com os nossos pequenos sucessos grande e por isso mesmo vulnerável é a amizade o único sentimento não exclusivo que junta em si o melhor que nos separa dos animais
campo de girassóis.
Até ao rio, só eles.
E a lua ao meio dia.
campo de girassóis.
Até ao rio, só eles.
E a lua ao meio dia.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Dois haiku em Coimbra
vento de Verão
levanta a saia rodada -
saia justa
seda na mão -
ou será só
a tua pele?
levanta a saia rodada -
saia justa
seda na mão -
ou será só
a tua pele?
terça-feira, 21 de julho de 2009
A viagem
de todas as metáforas sobre a vida a mais comum é certamente a da viagem a vida como peregrinação jornada caminho hoje acordei com esta metáfora no pensamento mas com um olhar particular para os caminhos com que se faz a viagem que se sempre na mesma direcção para as terras frias do Norte pensei sobretudo nos caminhos que usamos para lá chegar há sendas auto-estradas caminhos a descer caminhos a subir caminhos que nos fazem andar às voltas, caminhos com vistas maravilhosas túneis enfim caminhos de todas as configurações dificuldades e velocidades pensei de como nunca usamos um caminho só vamos saltando de uns para os outros e assim a viagem da vida parece às vezes difícil outras sem sentido outras rápida é também interessante o que é que nós quando estamos num caminho pensamo das pessoas que fazem a viagem noutros caminhos o que pensamos dos que vão rápido quando vamos lento o que pensamos de quem vai no túnel quando a nossa vista é boa o que pensamos de quem vai directo quando andamos às voltas é bom pensarmos que os caminhos não são sempre os mesmos e que já andamos em muitos e outros ainda nos esperam
do cimo da montanha
não se vê o amanhã -
fim de tarde...
do cimo da montanha
não se vê o amanhã -
fim de tarde...
domingo, 19 de julho de 2009
Partida
atesto a memória
e deixo o cais -
vou com as gaivotas
ou como se diria no Brasil...
completo a memória
e deixo o cais -
vou com as gaivotas
e deixo o cais -
vou com as gaivotas
ou como se diria no Brasil...
completo a memória
e deixo o cais -
vou com as gaivotas
quinta-feira, 16 de julho de 2009
O Poste
Das sessenta mil pessoas que se sentavam naquele estádio de futebol uma tinha uma preocupação certamente diferente de todas as outras. O Américo Santos estava sentado na parte das bancadas mais próxima do relvado e logo por detrás de uma das balizas. Na última semana tinha estado a trabalhar na estrutura daquela baliza. A fixação do poste ao solo tinha cedido e o Américo Santos fruto da sua fama de pedreiro competente e de confiança tinha sido chamado para resolver o problema. “Mas olhe, que isso tem de ficar bem e pronto depressa!” – disse-lhe o responsável do clube – “No próximo Domingo recebemos o nosso grande rival...”.
O Américo trabalhou o melhor que pode: diagnosticou a situação, preparou uma sólida base de betão, consolidou o solo e na quinta-feira tinha o trabalho pronto.
E ali estava ela no grande dia: estádio cheio, bandeiras, faixas, cânticos, mil cores e sons. E ele a olhar para a trave. Sabia que o trabalho estava bem feito mas...o solo seria suficientemente firme? O betão teria já secado? Os parafusos que tinha aplicado seriam suficientemente fortes? Sentia uma turvação só de pensar na vergonha e embaraço que seria a baliza cair a meio do jogo... nem queria pensar nisso...
Começou o jogo e com ele o sofrimento para o Américo. Parecia que todos os lances eram junto da “sua” baliza: Foi um forte remate ao poste... e a baliza abanou e aguentou... depois, na marcação de um canto, dois defesas encostaram-se ao poste... “Cuidadinho!” pensava o Américo. Já na segunda parte o guarda-redes sofreu um golo. Foi buscar a bola ao fundo da baliza e zangado deu um forte pontapé no poste. O Américo saltou da cadeira de olhos arregalados: “Que isso pá, tas parvo?”. Ao lado alguém ao lado respondeu “Olhe que o homem não teve culpa no golo”. O Américo olhou para o lado como se desse conta pela primeira vez que estava a ver um jogo de futebol.
E foram sobressaltos atrás de sobressaltos até ao fim do jogo. Até um defesa decidiu ir bater as chuteiras no poste para tirar a relva que lá tinha ficado presa... e quase no fim do jogo um defesa lançado em corrida agarrou-se ao poste para melhor travar.
O árbitro apitou finalmente para o fim do jogo. O Américo caiu pesadamente sobre a cadeira, suado, exausto pela tensão que tinha vivido e absolutamente alheado da exuberância que o rodeava. Deu conta que não sabia qual tinha sido o resultado do jogo. “Eh pá, não fique chateado!” – brincou um espectador ao lado –“Prá semana há mais...”. O Américo não respondeu mas pensou “Mas pelo menos já tenho a certeza que o cimento está seco!”.
O Américo trabalhou o melhor que pode: diagnosticou a situação, preparou uma sólida base de betão, consolidou o solo e na quinta-feira tinha o trabalho pronto.
E ali estava ela no grande dia: estádio cheio, bandeiras, faixas, cânticos, mil cores e sons. E ele a olhar para a trave. Sabia que o trabalho estava bem feito mas...o solo seria suficientemente firme? O betão teria já secado? Os parafusos que tinha aplicado seriam suficientemente fortes? Sentia uma turvação só de pensar na vergonha e embaraço que seria a baliza cair a meio do jogo... nem queria pensar nisso...
Começou o jogo e com ele o sofrimento para o Américo. Parecia que todos os lances eram junto da “sua” baliza: Foi um forte remate ao poste... e a baliza abanou e aguentou... depois, na marcação de um canto, dois defesas encostaram-se ao poste... “Cuidadinho!” pensava o Américo. Já na segunda parte o guarda-redes sofreu um golo. Foi buscar a bola ao fundo da baliza e zangado deu um forte pontapé no poste. O Américo saltou da cadeira de olhos arregalados: “Que isso pá, tas parvo?”. Ao lado alguém ao lado respondeu “Olhe que o homem não teve culpa no golo”. O Américo olhou para o lado como se desse conta pela primeira vez que estava a ver um jogo de futebol.
E foram sobressaltos atrás de sobressaltos até ao fim do jogo. Até um defesa decidiu ir bater as chuteiras no poste para tirar a relva que lá tinha ficado presa... e quase no fim do jogo um defesa lançado em corrida agarrou-se ao poste para melhor travar.
O árbitro apitou finalmente para o fim do jogo. O Américo caiu pesadamente sobre a cadeira, suado, exausto pela tensão que tinha vivido e absolutamente alheado da exuberância que o rodeava. Deu conta que não sabia qual tinha sido o resultado do jogo. “Eh pá, não fique chateado!” – brincou um espectador ao lado –“Prá semana há mais...”. O Américo não respondeu mas pensou “Mas pelo menos já tenho a certeza que o cimento está seco!”.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Egos
tanto trabalho nos deu a construir que não queremos largar o nosso ego por nada deste mundo assim falamos de forma enfática nos meus valores na honestidade que devo a mim mesmo nos valores que sempre me nortearam ou até no prosaico eu cá sou assim mesmo o interessante é ver que estas afirmações que parecem só dizer respeito a quem as profere são afinal uma arma de arremesso uma distinção pela superioridade para quem escuta ou de quem se fala é que a minha impoluta posição só faz sentido se cotejada com outras que são bem menos sérias honestas e autênticas ai os egos tanto tempo levaram a construir que vamos dispôr do mesmo tempo para os apagar
o pescador
tanto olhou a linha
que não viu a onda.
o pescador
tanto olhou a linha
que não viu a onda.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Mais 3 Fulgurantes...
frondosos braços -
todos os cantos dos pássaros
cabem lá.
contra a roupa justa:
libertem os prisioneiros!
corpo suado
cheira a sal
e lateja.
todos os cantos dos pássaros
cabem lá.
contra a roupa justa:
libertem os prisioneiros!
corpo suado
cheira a sal
e lateja.
Partida
crepúsculo de inverno -
escamas de sombra no rio
e o vento norte
winter dawn -
shadow's scales on the river
and the North wind
escamas de sombra no rio
e o vento norte
winter dawn -
shadow's scales on the river
and the North wind
segunda-feira, 13 de julho de 2009
3 Fulgurantes
Se o prazer foi todo seu
o que foi aquilo?
Que mulher discreta:
apertava a mão, dizia "Muito prazer!"
E não se notava mais nada...
Sentir é alma e pele
(ou será a mesma coisa?)
o que foi aquilo?
Que mulher discreta:
apertava a mão, dizia "Muito prazer!"
E não se notava mais nada...
Sentir é alma e pele
(ou será a mesma coisa?)
domingo, 12 de julho de 2009
Esqueci a tradução...
A tradução do haiku que vai ser publicado no "The Heron's Nest":
vagueando pela praia -
a onda recolhe e larga
os reflexos do sol.
vagueando pela praia -
a onda recolhe e larga
os reflexos do sol.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
The Heron's Nest
Já aqui tinha feito referência à superlativa qualidade da Revista americana "The Heron's Nest" - o ninho da Garça - na edição e crítica da poesia haiku.
Um dos haiku que o número de Setembro vai publicar é da minha autoria e escreve-se assim:
beachcombing . . .
a wave picks up and drops
the sun’s reflection.
David Rodrigues
Um dos haiku que o número de Setembro vai publicar é da minha autoria e escreve-se assim:
beachcombing . . .
a wave picks up and drops
the sun’s reflection.
David Rodrigues
sábado, 4 de julho de 2009
Sol
mil grãos flutuam
no primeiro raio de sol -
lá fora o bem-te-vi.
ou então...
frincha de sol
em silêncio mil grãos flutuam-
lá fora o bem-te-vi.
no primeiro raio de sol -
lá fora o bem-te-vi.
ou então...
frincha de sol
em silêncio mil grãos flutuam-
lá fora o bem-te-vi.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Farol
e nas sociedades contemporâneas há uma reverência acrescida pelos faróis quando tudo são dúvidas possibilidades alternativas caminhos prováveis o farol aparece convicto alto sólido e inexorávelmente certo que a costa está ali e que as indicações que dele provêem são inquestionáveis talvez por isso o "farolismo" religião que tem por deuses os faróis esteja tão em expansão através de pinturas, fotografias, textos e de uma admiração que passa rapidamente de estética para ética eu também gosto de faróis mas
asas de gaivota
quando passa a luz do farol
de novo a noite
asas de gaivota
quando passa a luz do farol
de novo a noite
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Crise II
Disse Jose Zapatero: "na crise, aterra como puderes".
Vamos levar isso em conta quando nos convidarem para voar...
atabalhoado
um pombo aterrou na pomba:
- Desculpe. É a crise...
Vamos levar isso em conta quando nos convidarem para voar...
atabalhoado
um pombo aterrou na pomba:
- Desculpe. É a crise...
terça-feira, 23 de junho de 2009
Crise...
A forma de escrita de haiku é por vezes muito desconcertante para pessoas que não estão habituadas a ler este tipo de poesia.
Um colega meu ao folhear o meu último livro e vendo o quão pequenos eram os textos em cada uma das páginas, disse meio a brincar meio a sério: "Em tempo de crise já viste quanto papel está aqui desprediçado?"
É verdade... mas eu prefiro pensar em quanta tinta eu economizei...
Um colega meu ao folhear o meu último livro e vendo o quão pequenos eram os textos em cada uma das páginas, disse meio a brincar meio a sério: "Em tempo de crise já viste quanto papel está aqui desprediçado?"
É verdade... mas eu prefiro pensar em quanta tinta eu economizei...
quarta-feira, 17 de junho de 2009
sábado, 13 de junho de 2009
Haibun de Veneza
na Bienal de Veneza uma exposiçao de arte contemporânea está determinada em mostrar outras escalas para os coisas do quotidiano formigas e louva-a-deus enormes parecem dinossauros olhos do tamanho de pneus de camião, patas como árvores deitadas uma menina puxa pela mão do pai vem ver vem ver e o pai resiste agora não vem ver insiste só um bocadinho o pai acede meio contrafeito e é guiado e arrastado pelo corpo de quatro anos vês e apontou para o chão não vejo nada olha bem olha melhor vês vês o pai agachou-se e no chão havia um bicho de conta
a menina
quando o navio se afasta
olha os peixinhos
a menina
olha a alga no mar
a menina
quando o navio se afasta
olha os peixinhos
a menina
olha a alga no mar
domingo, 7 de junho de 2009
Estrelinha
As coisas que se aprendem nas viagens... Calhou em conversa com um colega russo falar do ultra-poderoso e ultra-odiado Joseph Stalin. E não sei como veio à baila o significado de Stalin. Stalin em russo quer dizer "Estrelinha". É isso: o Senhor José Estrelinha!!! Foi este que liquidou, deportou e oprimiu milhões de pessoas? Com um nome destes? "Senhor Estrelinha" podia ser o nome do senhor que tem uma barbearia na esquina da rua mas nunca o do "Pai dos Povos" e o comandante do Exército vencedor de Hitler.
Estrelinha...ele há cada uma!!!
Estrelinha...ele há cada uma!!!
sábado, 6 de junho de 2009
Novosibirsk
A esquina da fachada do CityBank, uma placa de 1950 mostra dois soldados russos com os olhos no futuro a assegurar que o capitalismo nao passara.
Os pardais (oh, sempre os pardais) andam atarefados na relva do parque enquanto um musico improvisado canta a marcha nupcial para um casal de noivos dancar para os numerosos fotografos. Logo ao lado montam=se as bancas de uma festa do Partido Comunista cheia de bandeiras vermelhas, daquele vermelho. Tocam cantos revolucionarios num compact da Sony.
pardais indecisos
entre o verde
e o verme;lho.
Os pardais (oh, sempre os pardais) andam atarefados na relva do parque enquanto um musico improvisado canta a marcha nupcial para um casal de noivos dancar para os numerosos fotografos. Logo ao lado montam=se as bancas de uma festa do Partido Comunista cheia de bandeiras vermelhas, daquele vermelho. Tocam cantos revolucionarios num compact da Sony.
pardais indecisos
entre o verde
e o verme;lho.
domingo, 31 de maio de 2009
Jacarandá
jantar na Primavera -
flores de jacarandá
caem na mesa.
dinner in Spring
jacaranda flowers
fall on the table.
flores de jacarandá
caem na mesa.
dinner in Spring
jacaranda flowers
fall on the table.
sábado, 30 de maio de 2009
Aos punhos apontados para o céu
Hoje queria falar dos punhos apontados para o céu. Os punhos daquelas pessoas a que sofreram uma ofensa irreparável e injusta e que na agonia da injustiça apontam para o grande e impassível céu os seus infimos e desesperados punhos. Que esperar de quem se sentiu trespassado por uma injustiça que já está feita e para a qual não há remédio (um assassinato, um genocídio, uma calúnia, um crime ambiental, enfim, tantas...tantas...) ? E o punho apontado para o céu mostra a desproporção de forças, a formiga a levantar o punho para o elefante...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Pedir
Pedir é apelar para as emoções da pessoa a quem se pede. É por isso que não se pede justiça (essa deveria ser racional e positiva) nem se deve pedir respeito. Pede-se carinho, atenção, generosidade. misericórdia, compaixão... pede-se uma oportunidade que pode não ser dada...
Pedir é de certa forma perguntar: "Está certo que está a ser humano e justo?" E perguntar não ofende (talvez até mobilize outras energias para tomar uma boa decisão).
Pedir é de certa forma perguntar: "Está certo que está a ser humano e justo?" E perguntar não ofende (talvez até mobilize outras energias para tomar uma boa decisão).
terça-feira, 26 de maio de 2009
Haibun
Definição da Haiku Society ofAmerica.
Definition of the Haiku Society of America as adopted at the Annual Meetingof the Society, New York City, 18 September 2004
A haibun is a terse, relatively short prose poem in the haikai style,usually including both lightly humorous and more serious elements. A haibunusually ends with a haiku.
Parece deprender-se que haikai é um estilo de escrita que pode exprimir-sede múltiplas formas (haiku, haibun, renga, tanka, etc.). A temática é muito alargada mas parece que temas do quotidiano e da viagem são os mais populares (e que foram extensivamente cultivados por Bashô). A este respeito pode-se consultar "Contemporary HaibunOnline" que tem uma boa e grande selecção de poetas contemporâneos.
Definition of the Haiku Society of America as adopted at the Annual Meetingof the Society, New York City, 18 September 2004
A haibun is a terse, relatively short prose poem in the haikai style,usually including both lightly humorous and more serious elements. A haibunusually ends with a haiku.
Parece deprender-se que haikai é um estilo de escrita que pode exprimir-sede múltiplas formas (haiku, haibun, renga, tanka, etc.). A temática é muito alargada mas parece que temas do quotidiano e da viagem são os mais populares (e que foram extensivamente cultivados por Bashô). A este respeito pode-se consultar "Contemporary HaibunOnline" que tem uma boa e grande selecção de poetas contemporâneos.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
João Benard da Costa
O que é a arte para além do imediato, da experiência presencial e instantânea, da fruição, do prazer ou da emoção do momento? O que é um livro além do momento, além do tempo, em que se lê? E uma pintura para além do que olha? E uma música para além do que se ouve?
Um possível resposta está nos sublimes cometários que JBC faz ao cinema, actualmente uma das mais efémeras formas de arte. Nas suas palavras o cinema adquire uma dignidade semelhante às grandes contribuições da arte e uma perenidade inesperada para quem corre a 16 imagens por segundo.
Obrigado JBC por ter acolhido o ciclo "As Imagens e as Pessoas com Deficiência" na sua Cinemateca. E vou sempre ler as suas palavras sobre cinema. Cinema com amor. "With eyes wide open".
Um possível resposta está nos sublimes cometários que JBC faz ao cinema, actualmente uma das mais efémeras formas de arte. Nas suas palavras o cinema adquire uma dignidade semelhante às grandes contribuições da arte e uma perenidade inesperada para quem corre a 16 imagens por segundo.
Obrigado JBC por ter acolhido o ciclo "As Imagens e as Pessoas com Deficiência" na sua Cinemateca. E vou sempre ler as suas palavras sobre cinema. Cinema com amor. "With eyes wide open".
terça-feira, 19 de maio de 2009
Mario Benedetti
Morreu Mário Benedetti. Há quatro anos atrás li a sua compilação "Inventário Uno" (poesia 1950-1985) um volume de 600 páginas e apreciei cada momento que passei a lê-la.
E a melhor homenagem a um poeta? Ler e abrir o coração aos seus versos. Como ele dizia:
Arte Poética
Que golpee y golpee
hasta que nadie
pueda ya hacerse el sordo
que golpee y golpee
hasta que el poeta
sepa
o por lo menos crea
que es a él
a quien llaman.
E a melhor homenagem a um poeta? Ler e abrir o coração aos seus versos. Como ele dizia:
Arte Poética
Que golpee y golpee
hasta que nadie
pueda ya hacerse el sordo
que golpee y golpee
hasta que el poeta
sepa
o por lo menos crea
que es a él
a quien llaman.
domingo, 17 de maio de 2009
"Cinquenta Xiaoling"
Hoje falamos dos vizinhos... não do Japão mas dos seus poderosos e inspirados vizinhos chineses.
Acabei de ler o livro de Zhang Kejiu (Ed. Campo de Letras) com o título "Cinquenta Xiaoling" tradução para português do poeta Albano Martins.
É um livro de uma poesia belíssima que, apesar de escrita no princípio do século XIV, mantém todo o seu viço e nos continua a emocionar pela sua humanidade e lirismo.
Deixo aqui um destes poemas com uma vénia ao autor e ao tradutor:
De leste a oeste partem e chegam os barcos, combate de formigas/
Bater de palmas, a dama mongol está embriagada/
Do poente chegam rumores de canções/
Uma núvem solitária atravessa a sombra dum pagode/
Vento de lótus na noite fresca, o céu é como água.
E um haiku meu (d'aprés Zhang Kejiu :
noite de Maio -
uma brisa de rosas
no meio da avenida.
Acabei de ler o livro de Zhang Kejiu (Ed. Campo de Letras) com o título "Cinquenta Xiaoling" tradução para português do poeta Albano Martins.
É um livro de uma poesia belíssima que, apesar de escrita no princípio do século XIV, mantém todo o seu viço e nos continua a emocionar pela sua humanidade e lirismo.
Deixo aqui um destes poemas com uma vénia ao autor e ao tradutor:
De leste a oeste partem e chegam os barcos, combate de formigas/
Bater de palmas, a dama mongol está embriagada/
Do poente chegam rumores de canções/
Uma núvem solitária atravessa a sombra dum pagode/
Vento de lótus na noite fresca, o céu é como água.
E um haiku meu (d'aprés Zhang Kejiu :
noite de Maio -
uma brisa de rosas
no meio da avenida.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Uma rua de Alfama / A street in Alfama
o Tejo -
no fim da sombra da rua
um muro de luz azul.
the Tagus-
in the end of the street's shadow
a wall of blue light
no fim da sombra da rua
um muro de luz azul.
the Tagus-
in the end of the street's shadow
a wall of blue light
terça-feira, 12 de maio de 2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Ainda Adriana Lisboa...
Um parágrafo do livro Rakushisha (pg. 121, ed. Quetzal):
(trata-se uma empregada de uma loja no Japão a fazer um embrulho de presente ("puresentu" em japonês):
"Ela parecia empenhada numa manifestação de origami. Haruki se perguntava o que sairia dali. Uma estrela. Uma cigarra. Um capacete de samurai. Quando o número de dobras e de vincos no papel se mostrou suficiente à moça de mãos magras, ela pegou o livro e o acomodou sobre ele de banda. Então continuou com as dobraduras, rapidamente mas aparentando calma, eficientemente mas aparentando concentração, gentilmente mas aparentando segurança. Um tanto quanto mecanicamente, mas aparentando afeto".
Estão a ver porque é que vale a pena ler o livro para sorver estes "relances da alma japonesa"?
(trata-se uma empregada de uma loja no Japão a fazer um embrulho de presente ("puresentu" em japonês):
"Ela parecia empenhada numa manifestação de origami. Haruki se perguntava o que sairia dali. Uma estrela. Uma cigarra. Um capacete de samurai. Quando o número de dobras e de vincos no papel se mostrou suficiente à moça de mãos magras, ela pegou o livro e o acomodou sobre ele de banda. Então continuou com as dobraduras, rapidamente mas aparentando calma, eficientemente mas aparentando concentração, gentilmente mas aparentando segurança. Um tanto quanto mecanicamente, mas aparentando afeto".
Estão a ver porque é que vale a pena ler o livro para sorver estes "relances da alma japonesa"?
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