segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mestre José Marins: mais um texto.

A gente lê algumas vezes que o haicai proporciona ou é fruto


de um momento de iluminação, ou, numa linguagem ocidental,

um insight.



Eu tinha receio de dizer que nunca atingira esse estado de

iluminação na minha atividade de poeta do haicai. Até que

numa entrevista o haicaísta Ban´ya Natsuishi afirmou o

seguinte:



"Parece-me que no Ocidente enfatizam demasiado o satori e os



outros elementos budistas. Compor haicai é uma coisa, a iluminação é outra.

Bem separadas. Por mim escrevi mais de três mil haicais e, infelizmente,

nunca alcancei o satori. Penso, no entanto, que na escrita de um haicai pode

haver, escondido, algo semelhante ao estado de satori, mas de um modo menos

perceptível do que se julga entre vós. (...)"



Embora Natsuishi, com quem troco vez ou outra correspondência,

não seja um haicaísta preocupado com a tradição do gênero, pratica

o que chama de haicai contemporâneo, admite algum "estado de satori"

na prática do haicai.



Talvez ninguém mais pratique haicai como um "dô", um caminho.

Posso, mais uma vez, estar enganado.



O que percebo, todavia, é a existência de uma Educação Pelo Haicai.



Compreendo assim, haver alguns elementos da meditação na prática haicaística.

Por exemplo a contemplação da natureza, a educação dos sentidos para

observá-la,

o conhecimento de alguns aspectos das estações, a aceitação da impermanência.



Para mim, também, é uma meditação a sequência da realização do haicai:

vivência, haimi, escrita do haicai. (E incluo ainda as vivências

passadas, esse direito que cada poeta tem às suas memórias.)



A prática do haicai é uma meditação.



Um abraço,



ah, manhã de inverno

enquanto busco a quietude

agita-se o gato

-

josé marins



Seis haiku de Capacabana



olhos e antenas
apontados a invisíveis
diferentes.

depois de um beijo
o casal de andorinhas
cai três andares!

na cobertura
o pombo garante à pomba:
- Será aqui!

diz na Harley
que rebenta cem vezes por minuto:
- Deus é Paz!

A mãe para a filha:
-Não diga "nóis foi"
quando fala com o cachorro!

a borboleta amarela
sobrevoa a água turquesa:
Copacabana!

sábado, 26 de maio de 2012

O tamanho da vida

Todas as vidas são grandes - não em duração mas em dimensão. Se avaliassemos o tamanho que as vidas ocupam chegariamos certamente a valores muito parecidos. Assim: a ocupação de um casal de reformados, so aparentemente ´´e menos preenchida do a que um jovem casal com 3 filhos pequenos. As vidas são sempre preenchidas, sofridas, sonhadas, dececionadas, comprometidas, cheias e com ansia de se preencher. E quem não tem vidas assim, repretas com ocupações proprias... ´´e facil... preenche a sua vida a viver a vida dos outros. E assim se engana o vazio e se viaja borla no shuttle da vida.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Brasil

Vivo na margem de um grande rio. Na outra margem está o Brasil, igual e diferente, mais diferente que igual. no espelho a cara não parece minha - e só pode ser...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Poetas de Marte

Cristiano Amorim, poeta e haijin brasileiro é autor de um blog interessantíssimo chamado "Os Poetas de Marte". Cristiano Amorim entrou em contato comigo pedindo para eu participar numa entrevista que ele queria fazer sobre o meu trabalho. E a primeira parte já está publicada, com muita qualidade e sobretudo com uma audiência fantástica. Obrigado Cristiano!!! Quem quiser ver a primeira parte da entrevista pode ir a: http://poetasdemarte.blogspot.com.br/2012/05/haicais-de-alem-mar.html

Rede

vejo da rede um avião aos solavancos - e penso na vida. que silêncio canta no chilrear dos pássaros!

sábado, 12 de maio de 2012

Tomislav Maretic

As unespected as good news, I received the contact of Tomislav Maretic from Croatia. He was for a short time in Lisbon and he left me a present: the translation of one of my haiku into Croatian. Thank you my fellow haijin: we will keep in touch! na nebu rode lete sporo - vrapci u zurbi

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti

fica de ti a música leve densa e estendida fica de ti o tempo exato entre os acordes e a inevitabilidade daquela nota que como um gota de água na ponta da folha espera cair no lago fica de ti a elegância e as arestas arredondadas sem ti a música fica incompleta e nós também.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Tás à espera de quê?

Estou sempre à espera: à espera da chegada e da partida que venhas e que não venhas. Espero que chegue e que não chegue, que seja tarde e seja cedo. Espero que esteja longe e seja perto, que seja hoje e amanhã. Estou à espera que seja tudo e não seja nada, que seja óbvio e seja complexo. Tudo espero e nada me parece estranho tudo me parece estranho.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Feriado

dia feriado frente ao computador toda a família em casa. parece maior o espaço estre as coisas - dia feriado. hoje há mais pássaros? e mais nuvens? dia feriado.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pensei plagiar-me

Pensei plagiar-me: as ideias estão ralas e forma pesada como um cobertor molhado. !Aquela ideia nem estava má.. E se eu voltasse a ela..." há sempre algo de novo nos passeios pulidos pelos passos. Pensei em plagiar-me mas só pensei... logo a seguir deu-me uma pena imensa das coisas que nunca falei. E fiquei com pena não porque o meu falar as enriqueça mas porque ignorá-las é uma pequena morte numa pequena vida.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não há metáfora mais usada para falar da vida do que falar de uma viagem. E quem faz connosco esta viagem? É raríssimo que seja(m) a(s) mesma(s) pessoa(s). Há pessoas que caminham mais ou menos tempo connosco. Depois o seu destino diverge do nosso, o seu passo é mais rápido ou mais lento do que aquele com queremos fazer o caminho. E assim encontramos pessoas que só ao de leve partilham a nossa jornada e outras - normalmente a família e "aqueles" amigos - com quem nós caminhamos muito tempo juntos. às vezes temos até a ideia que caminhamos sozinhos e outras vezes queríamos caminhar sozinhos mas não é possível... É assim que o caminho se faz... ombro a ombro mais ou menos tempo com muita gente com quem sentimos que os nossos passos podem caminhar nem que seja uns poucos metros juntos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

É uma sabedoria não se deixar consumir pelo passado nem pela ambição ou o medo do futuro. Estar no presente como se só ele existisse, sabendo que este momento presente é irrepetível e único. "Não vivas a vida como se fosse um rascunho - podes não ter tempo de o passar a limpo!" canta o pardal sem saber o que vai comer amanhã.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Olá Instituto de Odivelas

Caras alunas no IO:

Foi um grande parazer ter estado convosco no workshop de haiku. Gostei da vossa atenção, das vossas perguntas, da vossa simpatia e sobretudo dos vossos haiku.
Como prometido aqui ficam alguns deles. E não se esqueçam de caminhar sempre perto da arte e da poesia - espero que tenham gostado desta manhã tanto quanto eu.
E aí vão os haiku (com alguns toquezinhos meus...):



uma bola de pêlo
preta e cinzenta -
e a felicidade foi com ela.


todas as palavras
são pequenas,
mas significam tudo.


árvore avó
a seiva de sangue negro
renasce em mim.


as gaivotas voam
planam como folhas
sobre a terra.


falas do tempo
mas as folhas caem
e tu nem sabes.


não existo:
só a natureza
é o meu conforto.


ao vento,
rompendo a tijoleira -
uma flor amarela!


das madeiras ocas
e das cordas vibrantes
sai o gesto de quem toca.


meio-dia
o sino da torre toca -
é hora de voar...


frente dos sinos:
abanam ramos
no mesmo lugar.


apertei a caneta,
assobiei para o alto...
a tinta não sai.


pelo céu cinzento
sopra o vento -
caem as folhas.


pequenas folhas
caem no silêncio -
a noite chegou.


sorriso bonito
no rosto calmo -
coração quente.


o canto da ave
rasga o crepúsculo
do pensamento.


duas árvores unidas:
vidas partilhadas
em tudo.


Vazio -
caminhos desconhecidos
e escuridão.


correm as folhas.
É o vento que as empurra:
ele precisa delas.


um som mecânico
invade o silêncio.
E a meditação?



Claro que queria agradecer também à Dra Carmo Dias e ao Director do IE o convite e a fidalguia da receção.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Fotos

Hoje comemoro o "anti betismo". Anti - betismo é um movimento mal afamado, caluniado e que basicamente rejeita os comportamentos que se mostramm para parecermos que somos mais do que aquilo que somos. Hoje comemoro as pessoas que convidam os outros para casa e não pedem desculpas, os que publicitam fotos tiradas na cozinha, os que usam ténis usados e roupa "de velho": larga e confortável, comemoro as pesoas que dizem o que queriam mesmo dizer mesmo que pareça ignorante, parolo ou vulgar. É que, como dizia o nosso Fernandinho, nem só as cartas de amor são ridículas: são ridículas também as pessoas que se maquilham com hábitos, roupas e cenários que não são os habituais mas sim aqueles que elas selecionaram para parecer - sem ser - melhores do que são.
Hoje comemoro a simplicidade e a verdade.


a comida era má.
à saída tu disseste:
- "Que bom era o vinho!".

terça-feira, 10 de abril de 2012

Instituto de Odivelas

No ano passado fiz um workshop sobre poesia haiku para as alunas do Instituto de Odivelas a convite da Profa Carmo Dias. Correu muito bem e postei neste blog não só as fotos mas também alguns excelentes haiku feitos pelas criativas participantes.
Este ano vamos começar tudo de novo (o que não é o mesmo que repetir...)
Dia 18 de Abril lá estarei e comprometo-me a compartilhar aqui os resultados desta viagem pela poesia, sempre inesperada mas com garantia que ninguém dará por mal empregue o tempo que nela gastar.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O de hoje...

um falcão no céu -
não tiramos os olhos dele.
eu e um coelho.

domingo, 8 de abril de 2012

4 Haiku de Páscoa

ecoa no vale
só um canto de cotovia.
O dia chega ao fim.


as núvens
dormiram entre os pinheiros.
De manhã: - Adeus!



cobre o bosque
um longo canto de rola.
só um.



vôam lentamente
as aves que voam alto -
os pardais têm pressa.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Oração

Álvaro de Campos não anda longe e Ruy Belo também não...


Vem Humanidade!
Sabemos que andas longe e andas perto
que estás perto mas sufocada e vives longe como num sonho.
E por isso temos que falar tanto de ti
de responsabilidade e de justiça.

Vem Humanidade!
Tu que ao mesmo tempo és todos nós
e o melhor de nós!
Vem-nos recordar que o poder da compaixão,
da solidariedade e do amor.

Aproxima-te de nós
e lembra-nos que somos melhores
que as iniquidades que criamos.
Diz-nos que os crimes que cometemos são involuntários
e irrepetíveis.


Surge-nos confiante.
Mostra que tens poder contra o Mal.
Mostra-te invencível para que te sigamos
e deixa que os bocados que temos de ti
se juntem aos bocados que de ti que têm os outros.


E tem pena de nós,
que só por um desvario pudemos planear
uma vida longe de ti,
e. até, que tu eras - como os afetos -
descartável e fraca.


E fica connosco
para que nos sintamos vulneráveis
à Primavera, às crianças, ao rir,
à compaixão e ao amor.
E que te respiremos doze vezes por minuto.


E não te vás embora, Humanidade!
trata-nos como crianças boas mas imprudentes
que caminham no fio da lâmina sem terem visto o cor do sangue.
E perdoa as nossas ofensas
como nós não temos perdoado a quem nos tem ofendido.

Chuva

está a chover
que saudaes eu tinha
daquelo som
ao mesmo tempo longuínquo e próximo
da água a correr nas sargetas
e da daquele rumor
fresco e constante.
está a chover:
finalmente sabemos
que nem a chuva é de graça.
Obrigado!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr da Vinci

A nossa cultura especializou-se, espartilhou-se, pulverizou-se, "balcanizou-se" tanto que tivemos que inventar um termo para definir os grandes criadores que navegam entre várias artes e várias ciências. Chamamos-lhes "Homens da Renascença".
Millôr Fernandes morreu. Era um "Homem da Renascença" e tinha a suprema classe de fazer reluzir tudo em que tocava. Não de ouro mas de graça, leveza, crítica, beleza.
Em homenagem ao grande Millôr aqui fica um dos seus haicais:

O hai-kai,
Descobri noutro dia,
É o orvalho da poesia.


Obrigado!

Sakura

vida inteira num ano!
um velho olha devagar -
cerejeira em flôr!


lifetime in a year!
an old man slowly looks -
cherry in bloom!




quem vai ver
esta cerejeira florida
na próxima Primavera?


who will see
this blossoming cherry tree
next Spring?

Senryu

em toda a parte
tudo se modifica:
é uma mundança.

domingo, 25 de março de 2012

Castanheiros

Enquanto os castanheiros
planeiam os seus ouriços
eu espero,
lisas e brilhantes,
as castanhas.
Eu e eles em silêncio
em segredo e com esperança.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Postes e ervas

dos postes erguidos
só olho a terra que os sustenta -
a eles e às ervas.

quarta-feira, 21 de março de 2012

21 de Março!

Que dia este: já não chegava entrar a primavera e ainda por cima é o aniversário do nascimento de J.S. Bach. E ainda por cima ainda, o dia mundial da poesia. Que dia!

o neto ao avô:
- Queres que te dê um relógio?
- Não. Quero horas!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Junto ao mar

frente ao mar
e quase do tamanho dele
se abrir os braços.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Raínha Santa

A santa que herdei da minha avó
olha-me lá de cima
da prateleira da sala.

Para ela,
a quem a idade já toldou a vista,
só o que está mais alto é visível.

Vê a minha cabeça enorme
com uma tiara de sapatos
que pulsa alternadamente quando caminho.

Ela vê, de certo, o que está certo:
uma cabeça feita balão mal sustentada
na terra. (É isso, Raínha Santa?)

terça-feira, 13 de março de 2012

A Porta

moro em frente à porta
onde se entra e se sai
sem saber o que está do outro lado.

uns encontraram pessoas
outros o mar: só romântico
quando bordejado de terra.

sair sem saber para onde
chegar sem saber onde...
uma fina lâmina de aço no coração.

e eu aqui...
frente à porta de onde só se vê o desconhecido
a procurar sentidos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ela está aí...

manhã de Primavera -
só vôos e chilreios
sob o sol quieto.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Submissão

a missão não é alta:
é baixa.
É uma submissão

com a submissão
desperdiçam-se duas vidas:
a do submissor e a do submetido.

é esta a vã glória da submissor:
- Não havemos de viver
enquanto eu quiser!

sub metidos nesta teia
a espera do click - só um click -
que solte a dança.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Água

Eu sei que o blog é sobre poesia. Mas...e a falta dramática de água que se verifica em Portugal à estrada de Março?
Entre o momento que ligo a água quente para tomar duche e o momento em que a água está suficientemente quente, caem 8 litros de água. Quer dizer 56 litros por semana, 392 por mês, 4.704 litros por ano. Isto só para um duche.
Ontem comprei um balde que recolhe esta água que ia "cano baixo" sem utilidade. Usu-a na sanita em lugar da água do autoclismo.
Ah, o balde custou 2 euros.

só há crepúsculo
para quem fica aqui.
Ou ali.

Basho forever!

"Furu ike ya
Kawazu tobi komu
Mizu no oto"

World Haiku 2012

Acaba de ser publicado o livro "World Haiku 2012".
Mais informações em:

http://www.cyberwit.net/publications/370

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sísifo

enorme e negro
o combóio
como sempre parece ter estado,
imóvel.

quem se interessa,
quem precisa,
quem é tão louco,
que pense que o pode mover?

e, no entanto,
fazem fila os que o querem empurrar
e, uns sós, outros em grupo,
tentam essa desiludida missão.

e de longe a longe,
muito de longe a longe,
as enormes rodas de aço
estremeçem nos carris enferrujados.

tanta é a enrgia para o mover
que nunca se pergunta
o que ou quem leva o combóio
para onde é o seu destino.

o que é preciso ´é empurrar
não que o combóio se mova.
e se mover...
- Quem é que construiu a linha?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dois workshops

Este é um post informativo ( e convidativo, of course...)

No dia 29 de Fevereiro vou fazer um workshop de poesia Haiku para alunas do 12º ano no Instituto de Odivelas. Já o ano passado lá estive e com muito gosto e bons resultados.
Este workshop é restrito mas, para as pessoas que gostassem de fazer uma oficina deste tipo deixo outra sugestão:


MUSEU do ORIENTE


O próximo workshop, HAIKU - UM GÉNERO POÉTICO JAPONÊS, terá lugar nos dias 20 e 27 Abril de Abril (sexta-feira) das 15.00 às 17.00
Formadora: Leonilda Alfarrobinha
Público-alvo: Adultos
Preço: € 15,00/duas sessões
Participantes: Mín.10

Uma das mais belas manifestações da cultura japonesa é a poesia, nomeadamente o género poético designado haiku ou haikai. O seu poder e encanto residem, em grande parte, na habilidade do poeta em transmitir a essência de algo num pequeno número de versos. O haiku é delicado e poderoso, preciso e fluido, concreto e vago. Apesar da concisão, abre-se um leque de sugestões e as palavras criam uma subtil ressonância em quem as lê. O haiku é um reflexo do mundo e da vida. Resulta de uma atenção emocional aos acontecimentos do quotidiano e, principalmente, aos fenómenos da Natureza. Este género poético é praticado, actualmente, por milhões de pessoas no Japão e por muitas outras em vários países do mundo.
Ficha de inscrição em : http://www.museudooriente.pt/1417/haiku---um-genero-poetico-japones--.htm

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Gaivota

De cima abaixo
a sombra de uma gaivota
risca o prédio.

ou

tardinha de inverno -
a sombra de uma gaivota
risca um prédio.

Sabe(o)res

ao sol de inverno
só o amanhã é escuro -
hoje o ar é leve.


este inverno -
uma primavera sem flores
nem borboletas.


só uma pétala -
assim mesmo, a camélia
com toda a nobreza.


à desfilada
um cão pela praia deserta
e o dono: Já! Aqui!


lá longe
correm ondas sobre a água:
o mar acaricia-se.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O ninho da garça . sempre

The heron's Nest e os melhores haiku deste ano!:





FAVORITE POEMS


Grand Prize: POEM OF THE YEAR (13 nominations, totaling 89 points)

a deceased friend
taps me on the shoulder -
plum blossoms falling
- Chen-ou Liu (June Issue)


First Runner-up: (12 nominations, totaling 84 points)

migrating geese -
the things we thought we needed
darken the garage
- Chad Lee Robinson (March issue)


Second Runner-up: (10 nominations, totaling 83 points)

how to dress her
for eternity -
blossom rain
- Carolyn Hall (March issue)


Third Runner-up: (11 nominations, totaling 67 points)

shanty town -
the jagged edges
of moonlight
- Sanjukta Asopa (September issue)

Construir e optar

Quando falamos de desenvolvimento da pessoas, queremos também dizer que os filhos alargam os horizontes dos pais. Os ambientes opressivos e de mediocridade enfatuada paracem morrer com os "velhos" e ser vencidos pelos "novos". Parecem...
"Oh tradição! Quantos crimes se cometeram em teu nome!?"
E mesmo aqueles que sofreram as arbitrariedades, sentem - mesmo sendo elas absurdas - que passar por elas é um tirocínio essencial. E assim se alimentam valores e práticas vergonhosas.

a mim?
Não admito!
Um pobre homem.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tempo

Subiram para a cara
as rugas
das impressões digitais,

O tempo que estava adiante
saltou por cima
e ficou lá atrás,

a gordura do bife
migrou do prato
para o abdomen.

Oxalá que o mundo
as ideias e os sonhos
ainda estejam lá, à frente.
.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Fevereiro 2012

Setenta e quatro
quinze e meio por cento
menos treze e meio
quase metade
passou do dobro
dezassete vírgula três
foram quase mil milhões
dez cêntimos a mais
setecentos e vinte euros a menos
trinta e cinco cêntimos por quilómetro
e vinte e três do IVA
dá vinte e dois euros a cada um
vinte e dois por cento da população


os números falam por si
eu falo por mim.
quando vão eles falar por mim?
e deixar-nos fora de si?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Brownies

nos teus olhos
boiam prazeres longuínquos
que só ao teu corpo sabem.

na fresta das pálpebras
escancaram-se segredos
que eu só adivinho.

inquietas, as pupilas,
iludem na sua paz
elas, que já viram todas as guerras.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Doença de Futuro

A doença do futuro
queima a boca com café quente
e dá escaras no assento
de tanto esperar pela gente.

A doença do futuro
dá pressa de chegar "lá"
mas o lá vai sempre andando,
o lá nunca chega cá.


A doença do futuro
dá cegueira do presente
vê por defeito o passado:
só vê o que está à frente.

A doença do futuro
é de natureza mortal:
passado de vez o passado
só o presente é real.

R a moralidade:

Quem quizer fugir ao fim
não corra para o futuro
finque os pés no presente
inteiro, puro e duro.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Sete anos - Homenagem a Jacob

Sete anos de suspiros
a andar sobre alfinetes
sete, ao todo sete,
a encostar devagar o portão
e a mandar calar o galo de madrugada.

engrossou na boca a saliva
e os lábios quase colaram
o olhar foi para o lado
e a coluna para baixo
sete anos... bem medidos.

clareia agora o nevoeiro
e o disco vê-se ao longe:
dentro do peito palpita
o coraçao e a liberdade
a liberdade de saber e de não saber!
Acabaram os sete anos!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um novo tempo

Tem sido muito discutido se a nossa estrutura biológica e sobretudo neuropsicológica é compatível com a avalanche de informação, interesses, tarefas, ocupações, compromissose pressas que atiramos para cima de nós. Eu acho que lá ser compatível é... mas deixa-nos num estado absolutamente lastimoso...



gosto de todos!
O meu amor
mede-se pela rapidez.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dragão

Aí vem o dragão!
Deitando fogo pelas fuças
aí vem o dragão!
De escamas reluzentes,
de olhos esgazeados,
aí vem o dragão!
ora corre ora voa
ora aquece, ora queima
ora defende, ora ataca.
aí vem o dragão!

levantamos os olhos para ele
esperamos que ele fale
e da boca enorme e chamuscada
saim palavras possíveis
compreensíveis e justas.

aí vem o dragão!

tem tudo o que não temos:
distância, tamanho, fogo
poder, couraça, força e astúcia.

Será que nos entorna a sopa
e tapa os caminhos de casa?

aí vem o dragão!

Inverno

estremece um galho -
acorda o pardal
na manhã de Inverno.

Empédocles

Tenho lido com assombro a "Antologia da Poesia Grega Clássica" - Portugália Editora. São revelações repetidas ao ler o que homens e mulheres tão distantes de nós no tempo pensaram e exprimiram com tanta beleza e profundidade. Hoje cito uma estrofe de Empédocles de Agrigento que, no sec. V antes de Cristo, escrevia assim:

Porque é impossível que alguma coisa possa
nascer do que não existe e nunca
se viu nem ouviu dizer que o que existe
deve desaparecer. O que existe
existirá sempre, onde quer que se apoie.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Oportunidades

Encorajamos as nossas crianças a tentar. Tentar mesmo errando. Seguindo aquela máxima de "errar, errar muito, errar cada vez melhor". No fundo, transmitimos a ideia que não é importante errar o importante é tentar (e tentar cada vez melhor). Mas o certo é que esta perspectiva só funciona em alguns domínios. Poder-se-à dizer isso a um cirurgião? A um engenheiro que constrói uma barragem?
Mas hoje queria refletir sobre o erro em Educação. Acredito que é importante que a criança tenha espaço para errar (e refletir sobre o erro) em Educação. Mas a Educação enquanto processo é igual a uma cirurgia: só se tem uma oportunidade. Nunca mais aquelas crianças voltarão a ser crianças; nunca mais a Educação poderá dizer: - "Desculpa lá, enganei-me!".Contemplar o erro é uma estratégia pedagógica não é um desígnio da Educação.

pedra no ar:
- Pára!
Tarde demais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Gulbenkián

Sempre gostei de biografias. Conhecer as pessoas por detrás da sua obra, por detrás que aquilo que eles quiseram que ficasse público da sua acção. Na verdade, sempre me apaixonou o dilema "o homem é maior que a obra" ou "a obra é maior que o homem".
Vem isto a propósito da exposição "Memória do Sítio" que está Gulbenkián e que mostra a casa da Avenue Iéna e alguns detalhes da vida do celebrado colecionador. Uma das partes que mais me interessou foi a entrevista em video em que o neto de Gulbenkián falava do quotidiano da casa. Enfim, ouvimos algumas bizarrias sobre a extraordinára meticulosidade do seu avô e ainda medidas estranhas que salvaguardavam a valiosa coleção. Por exemplo: só cinco amigos da filha de Gulbenkián podiam - depois de cuidadosamente examinados - entrar em casa; os outros encontravam-se com a filha nos bancos da rua onde o mordomo lhes ia levar as bebidas...
Quantas perguntas... Mas só uma: que valor para ele tinham as pessoas comparadas com as peças da sua coleção? Será que alguém alguma vez olhou nos olhos do experiente arménio e lhe disse: "Gostava que me tratasse com uma das sua peças mais queridas: mas sou só uma pessoa".

uma flor
um desenho de uma flor:
qual levo?

domingo, 15 de janeiro de 2012

Se... mente

a bolota no chão
sabia de cor o carvalho:
apodreceu na pedra.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Certo!

está escrito na areia
e também na água
que as tradições não acabm
e que o homem
há-de mudar.
Escorre pelo peito uma gora
turva e fumegante
ela, experiente em tudo,
apesar de nunca ter visto o sol.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ainda o mesmo tema...

Dizem que sou engenheiro
mas eu tinha dúvidas.
Pendurei na parede o meu diploma:
agora sim, sou engenheiro...

Será que o eu sou
é o que os outros acham que eu sou?
E o que valho
é o que os outros acham que eu valho?

São eles que estão certos?
Mas eles nem estão de acordo...
uns acham que sim
outros têm a certeza que não...

E eu? Que acho?
Afinal sou engenheiro,
sinto-me engenheiro
ou não?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Eduardo Lourenço

Já escrevi aqui neste blog uma reflexão sobre a justiça na avaliação dos méritos próprios. Na altura defendi que somos nós próprios os melhores avaliadores do que fazemos porque, em síntese, só nós conhecemos realmente e por dentro os motivos, as limitações, o conhecimento e as intenções como que cada um dos nossos actos é produzido.
Lendo há dias a interessantíssima entrevista que o JL publicou com Educardo Lourenço (28 de Dezembro de 2010) lá encontrei:"Não há ninguém para nos ler: nós somos leitores do nosso próprio mistério" Não poderia estar mais de acordo: nós somos lidos e leitores e isso dá-nos uma dupla dimensão que casa o humano com o natural: o que existe e o que é representado; enfim, o "meu eu" e o "meu outro".


antes de olhar para o céu
nunca tinha visto este azul -
pelo menos desde ontem.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fim

acabei o trabalho
ou foi o fim que me encontrou?
um longo cipreste...

da árvore ao chão
a primeira e última vez
que voa a folha.

Manoel de Barros

Há muito que a poesia de Manoel de Barros, poeta brasileiro nascido em 1916, me interessa por três razões: a primeira pela enorme liberdade que tem de abusar da língua levando-a até às portas do erro, em segundo lugar pela ligação que tem à natureza sobretudo aos animais de "ao pé da porta" e por fim pela filosofia "Caeiriana" que embebe os seus versos. É um poeta que sempre recompensa o seu leitor com a visão de uma aresta que ainda não foi limada pelo lugar comum.
E aqui deixo um pedaço que gostei particularmente:


-Para entender nós temos dois caminhos:
o da sensibilidade que é o entendimento do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento do espírito.
Eu escrevo com o corpo
Poesia não é para compreender mas para incorporar
Entender é parede: procure ser uma árvore


Manoel de Barros

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

2012

2012
tem um ar redondinho
o número deste vizinho:
simétrico e todo par
e uma dúzia para terminar.

Que fofinho vem no bojo!
Mas que trará no estojo?

Será uma escavadora
Feita mala de senhora?
Será que se fez par
para melhor nos escachar?
Ou será que nos quer dar um sinal
que afinal nada vai correr mal?

Ano Novo:
Que terá dentro o ovo?

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Málaga

ficou uma paleta de pintor
esquecida nesta terra...
e hoje o crepúsculo explodiu em cores:
vermelhos, verdes, azuis, cinzentos...
o céu é enorme e leva a todo o mundo.
Pablo: a tua terra era pequena para ti
e tu, apesar de tudo,
fizeste-a crescer

Natal 2

- Ainda dizem que os amigos são raros... eu estou farto de receber mensagens de Natal. E este ano ainda mais que o ano passado que já tinha sido bem bom. Até agora já me mandaram os desejos de calorosas, santas, felizes, fantásticas e prósperas festas um batalhão de amigos do peito. Cito só alguns para saberem: a EDP - Energia de Portugal, a Digal, a Worten, a Rádio Popular, o IKEA, o Corte Inglês, o Corte Fiel, o Giovanni Galli, o Continente, o Pingo Doce,... enfim já nem me lembro bem quantos mais.
Oxalá que não me cortem muito no salário... se mantiver o meu nivelzinho de vida posso continuar a consumir e, enquanto for consumidor, não me faltam amigos. Viva a cidadania pelo consumo! Com sumo?

desfeito o feito
tamborilo na mesa
um fado chinês.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

De hoje

levanta-se o sol -
também debaixo da concha
o caracol espreita.

O primeiro deste ano...

Todos os anos (e já lá vão quatro...) escrevo neste blog sobre o Natal. Quem poderá ficar indiferente a este conglomerado de emoções?...
Hoje vi uma imagem do Pai Natal ajoelhado em frente à manjedoura onde estava Jesus. Fiquei estarrecido com a cena! O Pai Natal (o da Coca -Cola) é colocado no estábulo de Belém, pedindo certamente a bênção de Jesus para o sucesso de vendas. É o paganismo mais grosseiro e o corte com qualquer referência ao Jesus histórico e simbólico.
Recebi há dias pela net a foto de uma linda mulher abundantemente despida mas ostentando alguns símbolos de Natal. A legenda era "ou você prefere aquele velho barbudo?". Não há dúvidas: eu fico com a menina e a resposta é óbvia: o que ela quer vender está à vista e não precisa de fazer o teatro de se ajoelhar à manjedoura...

lágrima viúva
ainda por detrás do sol
toca um clarim.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Senryu

sento-me para jantar -
o cinto de segurança
onde está?

lento o tempo -
é preciso rapidez
para acabar!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sentir de novo

Sentir de novo, etimológicamente seria, ressentir. "Estou ressentido contigo"... Hummmm ndada de bom!
Ressentimento será repetir um sentimento? Um sentimento passado, requentado, vivido, estafado, murcho? "Esta atitude é de ressentimento"... Hummmm nada de bom!
A etimologia parece explicar-nos que o sentir e o sentimento são bons quando são espontânenos, frescos, procurando o novo. Cada vez que queremos sentir o mesmo de antes, ter os mesmos sentimentos de antes, dá asneira... sai ressentimento...

o bom não cansa
tu não me cansas -
eu é que estou cansado.

domingo, 4 de dezembro de 2011

eusices

sentir ao lado quando todos sentem no meio,
olhar o caroço quando só se vêm cascas,
querer sair quando todos querem entrar,
mexer quando é para ficar quieto
pensar quando é para sentir...
voltear em emoções quando é preciso pensar...
Cheira a teimosia
mas talvez também insegurança ou vaidade.
Para mim é o oxigénio da liberdade.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Hairótico

no bolso das calças
vibra o telemóvel -
bem-vinda!

sábado, 26 de novembro de 2011

Haiku de Curitiba

tradinha de Outono -
pelas janelas o ônibus
desfila o mundo.


passa o ônibus:
de dentro e de fora
olhares curiosos.


todos estão a morrer:
uns depressa,
outros devagar.


ondas brancas
o êxtase do mar
chegando à praia


flor da duna:
só colhida
murchou.

Requinte

Re - quintar = levar à quintessência. Mas... onde está o requinte? Falando em gastronomia... O requinte estará num escultural prato de cozinha francesa ou numas favas com entrecosto deliciosas servidas numa tasca?
Todos diremos: na primeira opção. O requinte é o mais nos afasta do desejo, o que mais disfarça o desejo. O requinte encapota o que é a fome, a sensualidade. O requinte afasta-nos da natureza humana, do imediatismo da satisfação dos nossos desejos. No mundo do requinte não há urgência, quantidade, necessidade; tudo é diferido, qualitativo e opcional.
E o requinte popular? Aquele que sem querer ser o é?

Ah... a pétada da rosa!
Quase parece
a do malmequer!

sábado, 19 de novembro de 2011

São Paulo

abro a cortina:
uma janela no betão -
é dia em S. Paulo!

O dinheiro

Um tema sempre interessante é o que compra o dinheiro. Diz-se que não compra a saúde (mas ajuda muito), diz-se que não compra a felicidade (mas ajuda muito...).
Mas há coisas que o dinheiro dificilmente compra: as ausências. O dinheiro coipra presenças, coisas, matérias, serviços e objectos. Mas o dinheiro não foi feito para o nada, para a "não existência". Asim...

comprei uma aparelhagem
e afinal já tinha o silêncio,
comprei um quadro
e afinal já tinha olhado o céu
comprei uma viagem
e afinal já lá tinha estado....
todo este dinheiro
afastou-me mais do que eu queria
e pôs um biombo (mais um)
entre mim e a paz.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Eco

lá longe o eco -
não resta mesmo nada
do trovão.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Como as telhas

assim são as vidas. A nossa vida é protegida por um lado e proteje por outro. Só um bocado da telha vive por si: uma parte vive porque está coberta pela telha de cima; outra parte vive a cobrir a telha de baixo. Agora que a velhice se está a tornar quase tão longa como a infância finalmente podemos cobrir tanto quanto fomos cobertos. Mas a verdade é que quando nos cobriram foi sem condições ou retribuição; nem sempre é assim quando cobrimos...

a telha
desincaixou -
chove na casa.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desabafo com 170 anos

Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico ? [ ... ] cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. "

Almeida Garrett, in " Viagens na Minha Terra ", ( 1843 )

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nevoeiro

Manhã de nevoeiro -
passo a mão no espelho
para fazer a barba.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Diálogo no Porto

- Oh minha senhora: a minha filha está desempregada e com dois filhos. Eu nem durmo de consumida...
- Eu também não prego olho mas é por causa de uma gata branca que tenho e cisma em passar as noites na rua...


falta a chave:
e o imenso palácio
fica inútil!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Inverno...

mar de inverno -
polvilha o bolo de estrondo
o pio das gaivotas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Contrato Social

JJ Rousseau , o iluminista francês, teorizou o "contrato social". Em duas palavras o contrato que se celebrava entre a sociedade (os cidadãos) e o estado em que a sociedade abdicava de algumas liberdades e reconhecia autoridade ao estado em troca dos benefícios que dele podia receber.
Hoje o contrato social está muito adulterado: cada vez a sociedade abdica de mais e recebe menos do estado... E cada vez se fala mais das liberdades e das responsabilidades: liberdade para fazer o que é obrigatório fazer e responsabilidade para "tirar as castanhas do fogo" a quem as lá pôs...


um gota só
cai na água à noite:
- Quem é?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

How do things change?

A mudança - a paixão de seguir, compreender, influenciar as alterações de estalam dia e noite debaixo dos nossos pés. Porque mudam as coisas? Porque é que não ficam quietinhas a dar aos viventes um norte, uma estabilidade, uma certeza?
Mas a minha reflexão hoje é como é que elas mudam.
Quando era criança costumava ver nas feiras umas máquinas de diversão que consistiam em acrescentar moedas a um monte já existente. A ideia era, como todo o monte se encontrava perto de um buraco, fazer com que as moedas caíssem para nosso proveito. Esta imagem não me sai da cabeça quando penso nas constantes mudanças sociais, educacionais, de valores, etc. etc. Todos nós, os ingénuos jogadores, pensavamos que era aquela moeda que lançavamos com manha e ciência que ia desiquilibrar todo o edifício que lá estava. Mas se observassemos bem a dinêmica do monte, veríamos que quando caíam moedas essa queda era influenciada por micromovimentos em que todas as moedas pequenas e insignificantes tinham tanto protagonismo com aquela moeda que nós pensavamos que iria mudar tudo...
Eu diria para abreviar razões que o importante é não deixar de colocar moedas, mesmo sabendo que o seu efeito não é imediato. How do things change? Slowly and flowing... "Panta Rei".


caiu o pinheiro
mas só corria um ventinho -
finco os pés no chão.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sede

dá sempre saudade
quando o doce da água
desce pela garganta.

ou

fim da saudade -
o doce dss golos de água
pela garganta.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Viajar

Viajar sem sair de casa?
Ver para confirmar que já está tudo visto ou
olhar para o que é comum e diferente?
A grande viagem é sempre dentro de nós:
seja para alargarmos o conhecimento
ou a humanidade.
As viagens, como a vida,
são incessantes e só terminam
quando o bilhete expirar...


este céu
é quase igual
ao da minha terra.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Seguir o mestre ou...

A experiência que acumulamos ao longo da história é útil? Muita gente diria, sem hesitar: "Sim!". (Até se diz que a história serve exactamente para predizer o se vai passar no futuro...)
Mas...
Será que é mesmo útil?
Só duas reflexões:
1) Parece que não porque não vemos indícios de melhoria em qualidade humana nas nossas sociedades. Gestos de altruísmo sempre houve. Nunca a diferença entre ricos e pobres foi tão grande, nunca a conflitualidade humana foi tão mortífera como hoje...
2)Quem escolhe um mestre para seguir de certa forma encontra a certeza do caminho que segue (basta seguir). Não preciso procurar outro: este é "o" caminho. E porque não? Será que a nossa cabeça vale tanto que consegue no meio de tantas ideias e forças encontrar um caminho que nos sacie? Será que os mestres gostariam de ser seguidos ou eles próprios sentiram a angústia e a irrepetibilidade das suas escolhas?


calco as tuas pegadas
mas o teu passo é maior...
será por aqui?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Aprender

Sempre me interessou o tema da aprendizagem. O que é aprender? Como se aprende? O processo de aprender é diferente conforme as pessoas, os assuntos, as épocas da vida, etc.? E como é diferente? Há padrões? Há regras para aprender? E são universais?
Tantas perguntas e tão sedutoras.
Aqui fica uma reflexão concentrada sobre a aprendizagem:

torno meu o novo
sem escola ou manual,
caminho de cor.

domingo, 2 de outubro de 2011

ao longo e ao largo

A mesma ousadia que fez Prometeu roubar o fogo aos deuses é a mesma que nos guia para levarmos uma vida digna, honesta e decente. Para Prometeu: porque não viver sem fogo? Para nós: porque viver decentemente? Assim e de novo não procurar uma vidinha próspera e longa mas uma vida "que valha a pena ser vivida" ao longo e ao largo, isto é nas suas múltiplas dimensões.

uma bolota!
melhor
é impossível.

duas folhas rijas:
a semente do jacarandá
esconde o roxo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nélson Mendes

Cada um de nós se lembra do seu melhor professor. Aquele que pelas mais variadas razões nos marcou e todou a nossa forma de sentir e de actuar. Aquele de quem nos lembramos, ainda, das frases, das atitudes e dos ensinamentos.
O meu melhor professor foi o Nélson Mendes. Um homem com uma inteligência fulgurante, com uma persistente actitude de inovação e também com uma postura fraternal. O meu melhor professor faleceu no passado sábado e, eu que contactava com ele menos do que gostaria, fiquei admirado com a falta que ele me vai fazer.
É que cada vez as pessoas criativas são mais raras, cada vez a fraternidade é mais escassa, cada vez o exercício da inteligência é menos frequente.
Das numerosas frases que Nélson Mendes criava cito 3:

"Se houvesse dois narizes iguais, um estaria, de certo, a mais"
"A procura da feliz cidade"
"Se é para-normal de certo que é para mim que sou nornmal..."

Saudades, Nélson!


só o eco
sobra deste trovão -
está lá longe.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Esperança

Na filosofia cristã, pela mão de S. Paulo, a esparança é uma das três virtudes maiores ao lado da Fé e da Caridade (a Charitas que mais adequadamente se traduziria do grego por "amor").
Ter esperança é uma virtude na medida em quesem esparança (sem projecto, sem amanhã, sem expectativa de mudança) a Fé e o Amor ficam mirrados.
Hoje dedico o post à Esperança: que ela, mesmo pequena, nunca nos falte!!!


o cão olha sempre
com a trela na boca
para a porta.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Verão

Alentejo:
a luz do sol
vem das paredes.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Alzheimer

aos que me obrigam a ir a lugares onde nunca estive,
aos que me trocam as horas de deitar e de comer,
aos que mudam o meu programa à última da hora,
aos que duvidam as ideias que eu tomo por certas,
aos carros que me provam que dois minutos não são decisivos,
aos virus e bactérias que me mudam os planos,
à chuva que vem quando eu esperava sol,
a ti que que me pediste para te contar uma história,
a ti que me mostrate que o amor é lento e paciente...
Obrigado.


verde claro -
o lado jovem da árvore
vê-se com o vento.

ou


cheira a Outono -
nem o vento
faz as árvores jovens.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Galiza

Um mistura de sol, de verde, de românico e de afetos. A Galiza é uma terra que por estar longe, se inventou de encontro É lá que portugueses e espanhóis falam sem tradução, é lá que todos os peregrinos (os de Deus e os da vida) se cruzam. Terra de pontes em que o chão é mais parecido com o da nossa terra.
A vida aqui parece mais simples (eu sei que não é, mas parece).

pôr do sol no mar
o farol com dois mil anos
ainda ansioso...

mar oceano!
só o granito o enfrenta
e enlaçam-se.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Meia hora

cinco anos
cinco anos
de sorte e coragem
ajudaram o peixe
a chegar a adulto.
Depois foi pescado.
A seguir cozinhado.
Durante meia hora
foi comido
entre conversas mundanas.
Depois o que sobrou
foi para o lixo
e, peles e espinhas,
durarão uns bons 25 anos
até que se decomponham.
Vamos a contas:
30 anos / meia-hora...
dá 525.600 para 1
Ah... O mundo gira
à volta do umbigo humano.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Outono

Um haiku inspirado num terceto enviado pelo poeta José Guardado Moreira:

na palma da mão
a chuva abre o ouriço -
chega o outono.

(repararam no "outono" com letra pequena? O acordo ortográfico vai chegando...)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Numa aldeia

Diz-se que o haiku tem de ser completado pelo leitor. Não deve dizer tudo. Encontrar o ponto de equilíbrio entre o dizer tudo e escrever uma charada que ninguém entende. Enfim sugerir.
Aqui fica uma tentativa para sublinhar o carácter sugestivo e incompleto do haiku:

atrás da janela
a begónia e a mulher.
Os olhos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Coragem

Recebi uma apresentação por e-mail com frases de Fernando Pessoa. Todas falsas e a tresandar a livros baratos de auto-ajuda. Mas... até com estas frases falsas se pode aprender (se estivermos para aí virados, digo eu).
O tema fundamental era a esperança; a importância da esperança como antídoto ao envelhecimento. A esperança que há algo a fazer, alguma coisa a mudar, um passo a progredir, uma causa para nos convocar. E eis que vi a ligação desta esperança (quase sempre apresentada como seráfica e passiva) com a coragem (a força interior, a determinação). Afinal, para que serve uma sem a outra? (Coragem desesperançada? Esperança desencorajada?)
A esperança é o destino e a coragem o caminho para lá chegar. Mas cada passo do caminho precisa de esperança e é necessária a coragem para levantar os olhos para lá. Lá longe.

tudo caiu!
a criança recomeça
com um sorriso.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Coração

Quantas funções foram atribuidas a este músculo trabalhador que nos faz circular a energia no corpo. Apesar de hoje sabermos que há órgãos com uma essencialidade semelhante, o coração continua, pelo menos no nosso vocabulário a ser o centro (o "core") do nosso eu.
Queria hoje lembrar a palavra "coragem". Que vem de "coração". Ter coragem = ter coração. Não é uma questão de inteligência, de interacção ou de força física: ter coragem é ter a virtude do coração, aquela que nos faz superar o medo, assumir riscos (nem que seja o risco de remoer o tédio).

como ontem -
o pardal acordou
sem saber o que ia comer.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Brasil

Quando se sobe de avião no Brasil pode-se procurar S. Paulo olhando para cima (os mais místicos) ou olhando para baixo (os mais pragmáticos). Eu olhei, desta vez para o S. Paulo "lá de baixo" a partir de Congonhas para Uberlândia...


do alto da noite
linhas brancas e vermelhas
e o céu no chão.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Post Scriptum

Hoje, dia 16 de Agosto de 2011, depois de ouvirmos toda a retórica sobre a conservação da natureza, a poupança de recursos naturais, a pureza do ar, a exaustão dos recursos do planeta, as alterações climáticas, os gazes de efeito de estufa, a poluição, a iminência de catástrofes humanitárias e ecológicas devido à sobre utilização dos recursos dos combustíveis fósseis,.... depois de tudo isto...

1. Li os 3 maiores jornais do Brasil. Estão repletos de publicidade de página inteira aos novos SUV e outros automóveis e... NÃO HÁ UMA ÚNICA REFERÊNCIA AO CONSUMO DOS CARROS NEM AO CO2 QUE ELES LANÇAM PARA A ATMOSFERA.
2. Dizem-me que um destes SUV lançados recentemente (O "carro da moda") faz 4 km por litro, isto é 25 litros aos 100 km.

Estão mesmo a gozar connosco!!! Incrível, não é? É só para acreditarem mesmo naquela questão das linhas paralelas que falei no post anterior...

Brasil again 1

As linhas paralelas. As tais que nunca se encontram (só na nossa errada percepção confluem, lá no fundo). Linhas paralelas entre uma sociedade que fala de direitos, de cuidados, de respeito, consideração, de tratamentos preferenciais ,de dignidade, de humanização , de direitos inalienáveis, etc. Isto é uma linha. Na outra está a desigualdade, o egoismo, o preconceito, o trabalho quase escravo, a escola péssima ao lado da escola dos ricos, os gigantescos fossos entre as pessoas. Linhas que nunca se encontram. E até, apesar da boa vontade reconstrutiva das nossas imagens visuais, não se encontram. Cada vez se afastam mais.
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?
É o desenvolvimento? Que desenvolvimento?

sol no horizonte.
Perguntam-me:
Que estás a fazer?

Brasil again.

Hoje num parque urbano em Jundiaí, estive a dar de comer a saguis que andavam lá por cima de uns pinheiros num parque de merendas. E de repente, num cenário urbano aparece uma realidade tão estranha a um europeu que não deixamos de nos sentir exóticos. Como dizia Miguel Torga a respeitos dos alentejanos, é preciso ser uma pessoa de grande estatura para se enquadrar e dominar os grandes espaços. É isso que se sente nos brasileiros cuja simpatia e afabilidade não deve fazer esquecer a grande dimensão que têm para conseguir ocupar e habitar harmoniosamente espaços desta dimensão.


o sagüi
era a única coisa pequena
à vista.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os de hoje

no recreio da escola
o pinheiro tem as pontas
verdes, verdes.


O castanheiro
espalhou no chão o alarme
para o seu sono de Outono.

domingo, 31 de julho de 2011

José Marins é um dos estudiosos de poesia haiku mais dedicados e competentes. Ombeia com os grandes especialistas internacionais do tema.
José Marins (de Curitiba, Brasil) acaba de divulgar um texto que certamente será precioso para quem queira compreender e iniciar-se no haiku.
E aqui fica com o cumprimento e uma homenagem ao sutor:



Breve poética da leitura de haicai

Quem se interessa pelo haicai descobre que é um poema dedicado à natureza, ao meio ambiente (para usar uma expressão da atualidade).

O leitor de livros de haicai exigente procura saber mais do pequeno poema, conhece dele a estrutura (redondilhas menores e maior), a ausência de rimas, mas conta os sons na métrica, dispensa o título, privilegia a linguagem simples.

Nota que o poema traz um efeito, um sentido no leitor, nas leituras sugeridas, seja uma cena, uma ação, um gesto, um canto de pássaro, o zinir do vento, o prateado do orvalho.

O haicai é um diálogo.

O poeta já se foi e deixou um bilhete, o poema, aos olhos do leitor.
Captar o sentido que nem sempre está explícito, porque pode estar sugerido, é o deleite de sua leitura.

O poeminha não é feito de mínimo para alcançar o máximo. A pequenez de seus três versos busca a brevidade do instantâneo, o sucinto, o essencial. Ele não busca o máximo de sentidos, mas tão somente um número limitado de efeitos de si para quem o lê. Às vezes apenas aponta para um cisco na cena. Os grãos amarelos de pólen nas patas pretas da abelha.

A fulgor do haicai, que pode durar séculos, é a de uma estrela cadente, o piscar do pirilampo na escuridão, o som da rã ao mergulhar.

Quem quiser polissemia de palavras, múltiplos significados metafóricos, infinitas leituras, deve buscar outro tipo de poema. O haicai não existe para significar issos e aquilos, não há interpretação para se fazer, nem sentidos ocultos. O que temos para ler do poeminha está nele, brilhando como uma gota de orvalho que de súbito escorrega de cima de uma folha.

Se tivéssemos que conhecer todos os contextos, as cenas haicaísticas, os momentos, dos quais se capturaram os haicais, não poderíamos ser seus leitores.

O pertencimento a uma estação ou a outra é dado pelo kigo. O termo sazonal que nada explica, mas situa a vivência do poeta e a ecologia do poema. Mas ninguém é obrigado a saber a lista de termos de estação para ler haicai.

Um chavão entre os poetas do haicai, que soa como advertência, é: o haicai que precisa de explicação, não é um bom haicai.

Porém, confesso: como leitor eu gosto de explicações e histórias a respeito de haicais.
Assim, por exemplo, quando leio este haicai de Bashô:
-
vai-se a primavera –
os pássaros lamentam-se,
os peixes choram
-
O poema tem o suficiente, funciona sozinho e sustenta a minha leitura.
Mas é inegável haver nele uma atmosfera dramática. Seria o exagero uma antevisão do inverno que se avizinha?
Um tradutor espanhol (Fuente) escreveu: “O final da primavera entristece Bashô, que sente as aves e os peixes participarem de seu sentimento.” Pode ser.

Entretanto, este poema inaugura aquela que é considerada a mais importante viagem deste poeta peregrino. Quando está prestes a partir, ele sente tristeza e apreensão. Os amigos o acompanham em barcos até o início do caminho por terra. Ali ele se despede com “lágrimas de adeus”. Depois de anotar o poema, Bashô escreve no diário: “Este poema foi o primeiro de minha viagem. Pareceu-me que eu não avançava ao caminhar. Tampouco as pessoas que tinha ido se despedir de mim se afastavam, (...)”

Querer que o haicai seja outra coisa que não ele mesmo, com suas características técnicas e artísticas, é a pior forma de leitura que se faz, infelizmente do poema. Compará-lo, por exemplo, à arte plástica para dizer que o haicai é muito “figurativo” e pouco “abstrato”, é uma forma de ignorar a riqueza de sua linguagem. Ou não teríamos um haicai, por exemplo, como este de Bashô:
-
escurece o mar –
a voz dos patos selvagens
vagamente branca
-
Aqui o poeta contrasta o escuro do mar com o branco dos gritos dos patos, ou seja, utiliza da sinestesia, um recurso sofisticado da linguagem.

Não estou dizendo que o haicai tenha que ter sofisticação. Sua afirmação como poema específico na poesia universal é secularmente definida. Sua linguagem continua sendo simples, nossas leituras é que precisam ser aprimoradas.
-
noite de invernia –
o silêncio por pouco
sem o som do rio
-
josé marins

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O sobreobjectivo

"Sobreobjectivo" é uma palavra que inventei para designar aquilo que está "por cima" do "objectivo". Chamar às nossas ideias sobre o mundo "subjectivas" é uma grande falta de respeito por elas.

O que se pensa
tem um princípio e um fim,
uma categoria
e pode ser avaliado
por qualquer pessoa
que nem conheça o assunto.
Mas o que se imagina...
bem... tudo é possível,
desliza como gelo sobre gelo.
É impermanente, voa, viaja
e faz da Física um anacronismo.
Ah! E só se pode julgar no afecto.