segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ferreira Gullar

Ferreira Gullar é Prémio Camões 2010. Este notável poeta brasileiro deu uma entrevista ao Jornal de Letras (22 Setembro) em que fala do seu processo criativo. Acho que o que ele diz tem muito a ver com a escrita de poesia haiku, sobretudo aquele "insight", o discernimento que se tem num dado momento. No Brasil dir-se-ia uma "sacada"...
Como Gullar diz que é assim que escreve poesia:

"Dá notícia do que acontece: um osso que bateu noutro ou, de repente, o cheiro a tangerina. O meu filho abre uma tangerina na sala, evidentemente muitas vezes senti esse cheiro na vida, mas nesse momento leva-me para um estado diferente e passa a ser qualquer coisa que não sei o que é. Aí, começo a refletir sobre o cheiro da tangerina, envolvo-me e o poema nasce. Não é uma explicação científica nem filosófica (...) O poeta é incoerente (...) pode revelar coisas que não sabia um minuto antes e muito do que o filósofo não sabe explicar. Às vezes até me pergunto se poesia é Literatura".