sábado, 28 de junho de 2008

O Haiku é sempre no presente?

O poeta e linguista Paulo Franchetti, lançou uma dúvida numa lista de discussão sobre haiku (haikai-l) se o haiku deveria sempre ter os verbos no presente. Mandei para a lista esta contribuição que compartilho com os meus leitores:~


Paulo e amigos do haiku –l:
Fico centrado na pergunta (ao mesmo tempo estimulante e sapiente) de PauloFranchetti, e segue a minha contribuição:
1. Na sua exacta dimensão temporal, o haiku nunca é presente: é sempreuma reminiscência de um passado. Mesmo que tivessemos um papel e uma canetasempre à mão...O haiku tem sempre algo de “arqueologia de sentimento e deemoções”. Claro que para lhe dar mais verosimilhança o fazemos desfilar numcenário presente mas um presente que à semelhança do tempo verbal se deveriachamar “pretérito presente”.
2. Parece-me que o “pathos” do haikai é o de “um” momento.Pessoalmente é-me irrelevante se foi um momento passado ou se simula ser(porque nunca é) imediato.
3. O processo de “arquivamento” destas emoções, (tal como a sua“reactivação”) contextualiza-as e necessariamente lhes retira a algumaespontaneidade (vemos isto bem nas emendas que fazemos aos nossos haikais).Eu até já escrevi haikai de emoções que nunca senti e só imaginei...
Um abraço para todos.

4 comentários:

Daterra disse...

Caro David,

Tenho visitado este blog com alguma regularidade.

Aprecio com admiração os haikus que aqui encontro.

Estou interessado em aprofundar este tema e gostaria de saber se me pode indicar alguma bibliografia!ou outros..

Reparei que tem um livro publicado - "Estações sentidas", correcto?

Ainda é possível encontrá-lo?

Ficaria também muito contente se pudesse comentar os haikus que vou laborando. Nada melhor para aprender do que recorrer a quem tem já mais experiência.

Grato pela atenção
Lécio Ferreira

Anónimo disse...

David, o excerto publicado diz tudo. O haiku é intemporal.

David Rodrigues disse...

Lécio:

1. Antes de mais obrigado pela sua referência aos meus haiku. É uma experiência muito boa sentir que eles rocaram outras sensibilidades.
2. Como sabe bibliografia há imensa. Correndo o risco de ser óbvio citava-lhe os sites brasileiro (Caqui) e espanhol (El rincón del haiku). Pode também encontrar dados interessantes no site da World Haiku Association. Livros são inúmeros mas há um chamado "Haikai" de Paulo Franchetti editado pela editora da UNICAMP que é excelente.
3. O meu último livro "Estações Sentidas" esteve a vender na FNAC do Norteshopping e noutros locais. Talvez ainda o encontre (Bertrand ?). Se não o encontrar diga-me que eu lhe farei chegar um.
4. Agora que sei o caminho irei ao seu blog e comentarei os seus haiku. O que vi hoje é muito estimulante: fina ironia e um agudo sentido de observação. O haiku tem momento, sentimento e natureza (ambiente).
5. Dia 8 de Outubro vou fazer com a Leonilda Alfarrobinha um workshop de haiku na semana de haiku de Lisboa. Ponho mais informação no blog mais tarde.
Um abraço do

David Rodrigues

Daterra disse...

muito obrigado Dinis,

vou ver o que encontro cá pelas livrarias do Porto...

espero poder ler outros comentários.

abraço amigo

Lécio