Álvaro de Campos não anda longe e Ruy Belo também não...
Vem Humanidade!
Sabemos que andas longe e andas perto
que estás perto mas sufocada e vives longe como num sonho.
E por isso temos que falar tanto de ti
de responsabilidade e de justiça.
Vem Humanidade!
Tu que ao mesmo tempo és todos nós
e o melhor de nós!
Vem-nos recordar que o poder da compaixão,
da solidariedade e do amor.
Aproxima-te de nós
e lembra-nos que somos melhores
que as iniquidades que criamos.
Diz-nos que os crimes que cometemos são involuntários
e irrepetíveis.
Surge-nos confiante.
Mostra que tens poder contra o Mal.
Mostra-te invencível para que te sigamos
e deixa que os bocados que temos de ti
se juntem aos bocados que de ti que têm os outros.
E tem pena de nós,
que só por um desvario pudemos planear
uma vida longe de ti,
e. até, que tu eras - como os afetos -
descartável e fraca.
E fica connosco
para que nos sintamos vulneráveis
à Primavera, às crianças, ao rir,
à compaixão e ao amor.
E que te respiremos doze vezes por minuto.
E não te vás embora, Humanidade!
trata-nos como crianças boas mas imprudentes
que caminham no fio da lâmina sem terem visto o cor do sangue.
E perdoa as nossas ofensas
como nós não temos perdoado a quem nos tem ofendido.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Chuva
está a chover
que saudaes eu tinha
daquelo som
ao mesmo tempo longuínquo e próximo
da água a correr nas sargetas
e da daquele rumor
fresco e constante.
está a chover:
finalmente sabemos
que nem a chuva é de graça.
Obrigado!
que saudaes eu tinha
daquelo som
ao mesmo tempo longuínquo e próximo
da água a correr nas sargetas
e da daquele rumor
fresco e constante.
está a chover:
finalmente sabemos
que nem a chuva é de graça.
Obrigado!
quarta-feira, 28 de março de 2012
Millôr da Vinci
A nossa cultura especializou-se, espartilhou-se, pulverizou-se, "balcanizou-se" tanto que tivemos que inventar um termo para definir os grandes criadores que navegam entre várias artes e várias ciências. Chamamos-lhes "Homens da Renascença".
Millôr Fernandes morreu. Era um "Homem da Renascença" e tinha a suprema classe de fazer reluzir tudo em que tocava. Não de ouro mas de graça, leveza, crítica, beleza.
Em homenagem ao grande Millôr aqui fica um dos seus haicais:
O hai-kai,
Descobri noutro dia,
É o orvalho da poesia.
Obrigado!
Millôr Fernandes morreu. Era um "Homem da Renascença" e tinha a suprema classe de fazer reluzir tudo em que tocava. Não de ouro mas de graça, leveza, crítica, beleza.
Em homenagem ao grande Millôr aqui fica um dos seus haicais:
O hai-kai,
Descobri noutro dia,
É o orvalho da poesia.
Obrigado!
Sakura
vida inteira num ano!
um velho olha devagar -
cerejeira em flôr!
lifetime in a year!
an old man slowly looks -
cherry in bloom!
quem vai ver
esta cerejeira florida
na próxima Primavera?
who will see
this blossoming cherry tree
next Spring?
um velho olha devagar -
cerejeira em flôr!
lifetime in a year!
an old man slowly looks -
cherry in bloom!
quem vai ver
esta cerejeira florida
na próxima Primavera?
who will see
this blossoming cherry tree
next Spring?
domingo, 25 de março de 2012
Castanheiros
Enquanto os castanheiros
planeiam os seus ouriços
eu espero,
lisas e brilhantes,
as castanhas.
Eu e eles em silêncio
em segredo e com esperança.
planeiam os seus ouriços
eu espero,
lisas e brilhantes,
as castanhas.
Eu e eles em silêncio
em segredo e com esperança.
sexta-feira, 23 de março de 2012
quarta-feira, 21 de março de 2012
21 de Março!
Que dia este: já não chegava entrar a primavera e ainda por cima é o aniversário do nascimento de J.S. Bach. E ainda por cima ainda, o dia mundial da poesia. Que dia!
o neto ao avô:
- Queres que te dê um relógio?
- Não. Quero horas!
o neto ao avô:
- Queres que te dê um relógio?
- Não. Quero horas!
segunda-feira, 19 de março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
Raínha Santa
A santa que herdei da minha avó
olha-me lá de cima
da prateleira da sala.
Para ela,
a quem a idade já toldou a vista,
só o que está mais alto é visível.
Vê a minha cabeça enorme
com uma tiara de sapatos
que pulsa alternadamente quando caminho.
Ela vê, de certo, o que está certo:
uma cabeça feita balão mal sustentada
na terra. (É isso, Raínha Santa?)
olha-me lá de cima
da prateleira da sala.
Para ela,
a quem a idade já toldou a vista,
só o que está mais alto é visível.
Vê a minha cabeça enorme
com uma tiara de sapatos
que pulsa alternadamente quando caminho.
Ela vê, de certo, o que está certo:
uma cabeça feita balão mal sustentada
na terra. (É isso, Raínha Santa?)
terça-feira, 13 de março de 2012
A Porta
moro em frente à porta
onde se entra e se sai
sem saber o que está do outro lado.
uns encontraram pessoas
outros o mar: só romântico
quando bordejado de terra.
sair sem saber para onde
chegar sem saber onde...
uma fina lâmina de aço no coração.
e eu aqui...
frente à porta de onde só se vê o desconhecido
a procurar sentidos.
onde se entra e se sai
sem saber o que está do outro lado.
uns encontraram pessoas
outros o mar: só romântico
quando bordejado de terra.
sair sem saber para onde
chegar sem saber onde...
uma fina lâmina de aço no coração.
e eu aqui...
frente à porta de onde só se vê o desconhecido
a procurar sentidos.
sexta-feira, 9 de março de 2012
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