quarta-feira, 30 de junho de 2010

Já saiu!!!


Caros amigos:


Como tinha anunciado há uns dias atrás, já está publicado o livro "Do outro lado do Mundo". Este livro tem 52 haiku sendo 26 de crianças portuguesas e 26 de crianças da Nova Zelândia. É um projecto muito bonito e em que se aprende que "os braços e as vozes das crianças, ainda que pareçam pequenos e frágeis, são maiores do que a Terra quando querem abraçar e cantar juntos". (Da introdução)
Há uns poucos exemplares para distribuir pelos afectos ao blog. Manifestem-se!

E vejam a capa!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ai os políticos

Desta vez, este "ai" não é decepção ou de desencanto: é de surpresa. A política e a literatura já se cruzaram muitas vezes com poetas e escritores a desempenhar funções políticas. Umas vezes se dão bem outras (talvez a maioria) não tão bem...
É menos comum que pessoas que fizeram uma carreira política se deixem levar pela literatura e sobretudo tenham a ousadia de publicar o que escrevem.
O holandês Herman Van Rumpuy, presidente da Comissão europeia, acaba de publicar um livro de haiku. UAU!!!!!!!
Deixo aqui ficar dois dos seus poemas em inglês. (Eu acho que ele sabe mesmo do ofício...)


Around six,
birds ushering in the morning
audible spring.


The cold of frost
chiselsfine shoe-
tracks in the clay.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Concurso Internacional de Haiku

Em primeira mão: a Associação de Amizade Portugal - Japão, vai organizar um Concurso Internacional de Haiku. Os detalhes serão informados durante Setembro mas já podem ir afiando o lápis... Os poemas serão apresentados em inglês e em português.
"FAPJ International Haiku Contest", soa bem?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O ano da morte de José Saramago

É inevitável falar hoje da morte do escritor José Saramago. Eu não me encontro entre os indefectíveis admiradores da sua prosa e mesmo de algumas das suas ideias. Disse-o várias vezes e até neste blog.
Mas a morte, tal como a noite, envolve a realidade numa aura de recato, de distância, de respeito, de pausa. E era assim que eu queria celebrar a morte de Saramago: lembrando com distância e véu o tanto que ele fez pela Língua Portuguesa, pela Literatura Portuguesa e o tanto que ele nos estimulou a pensar (mais do que a sonhar...).
Saramago disse um dia que Deus não tinha feito nada antes da criação do mundo, trabalhou 6 dias e depois voltou a não fazer rigorosamente mais nada. Eu, que não creio num Deus criador, não usaria esta metáfora trabalhista. Mas eu, que creio num Deus amalgamado do Bem, espero que este Deus tenha hoje feito alguma coisa: que tenha abraçado a tua alma, José, como se fosses um menino.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sol e sombra

Alguém que me viu de noite
disse que sofria.
De quê, não disse
Só que sofria.
De certo da doença de viver
que é sempre mortal
mesmo que a incubação seja longa.

Alguém que me viu de dia
disse que eu vivia
e com gosto.
De quê, não disse
só que vivia com gosto.
Sem a doença de morrer
que atrapalha a vida
sobretudo se a incubação é longa.

Slam poetry

Saberão o que é: uma poesia para ser declamada, ligada ao quotidiano e que não pode durar mais do que 3 minutos... o mesmo número dos versos do haiku... Sob todas as diferenças temos este ponto em comum: procuramos menos palavras e mais densidade. A slam poetry e o haiku procuram "densificar" as palavras: dar-lhes peso sem retirar a leveza (como os grandes tintos que para além do corpo não podem perder a fruta (a alma...).

que bem embutido
está o olho da serpente!
e a minha pele descola.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Junho

Primavera -
Ao fim da tarde, a relva
espera o céu.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Haibun

encontrei este experiente engenheiro naval pela sua mesa de trabalho tinham passado inúmeros planos de barcos de passageiros, cargueiros, petroleiros e até um pequeno navio de guerra para patrulhar a costa era um homem já idoso com olhos mansos e com umas mãos ao mesmo tempo musculadas e delicadas o homem dos barcos disse-me ele o que mais me encanta num navio é a forma como a ele corta a água como se formam aquelas efémeras colinas de água e espuma quando a proa avança na água aí se vê a elegância do barco aí se vê se ele é hamonioso e se está bem construído e sabe ao longo destes anos aprendi muito e sobretudo uma lição um dia planeei um barco e sofistiquei o desenho do casco e da proa para ele ter um corte de água perfeito e consegui mas o barco não durou muito tempo as limitações do desenho que eu tinha feito afectaram a sua funcionalidade e mesmo a sua velocidade em breve foi desmantelado ficou tão perfeito neste detalhe que eu esqueci que a foma como a proa afasta a água é a consequência de toda a natureza do navio e não deve ser vista um fim em si mesmo hoje olho as proas e adivinho o barco nunca mais desde aí falei em proas perfeitas e deficientes


a proa abre a água
uma fonte
no mar.