terça-feira, 1 de junho de 2010

Haibun

encontrei este experiente engenheiro naval pela sua mesa de trabalho tinham passado inúmeros planos de barcos de passageiros, cargueiros, petroleiros e até um pequeno navio de guerra para patrulhar a costa era um homem já idoso com olhos mansos e com umas mãos ao mesmo tempo musculadas e delicadas o homem dos barcos disse-me ele o que mais me encanta num navio é a forma como a ele corta a água como se formam aquelas efémeras colinas de água e espuma quando a proa avança na água aí se vê a elegância do barco aí se vê se ele é hamonioso e se está bem construído e sabe ao longo destes anos aprendi muito e sobretudo uma lição um dia planeei um barco e sofistiquei o desenho do casco e da proa para ele ter um corte de água perfeito e consegui mas o barco não durou muito tempo as limitações do desenho que eu tinha feito afectaram a sua funcionalidade e mesmo a sua velocidade em breve foi desmantelado ficou tão perfeito neste detalhe que eu esqueci que a foma como a proa afasta a água é a consequência de toda a natureza do navio e não deve ser vista um fim em si mesmo hoje olho as proas e adivinho o barco nunca mais desde aí falei em proas perfeitas e deficientes


a proa abre a água
uma fonte
no mar.

1 comentário:

Luz disse...

Escolhas... consequências...
Sorte?
Duvido.
Que venham as águas.