domingo, 28 de fevereiro de 2010

Se não acreditasse, não via.

Ai as provas... nós que andamos atolados em triliões de informações contraditórias sobre se "o Governo quis", "se o primeiro ministro mentiu", etc. etc., somos tentados a fazer um juizo final e definitivo sobre o que realmente se passou... Tentação que só aceitamos se formos ingénuos. E porquê? Porque não se julgam factos; fala-se de emoções, de interesses e de estratégias que não estão claramente postos em cima da mesa.
Esta "comissão de inquérito" vai tentar desfazer o "nó górdio" de provar pelos factos se o governo teve essas intenções: "ver (provar) para acreditar!!!".Mas o assunto não é esse: não é ver para crer.
O que se passa aqui, como em tantos âmbitos da vida pública e privada, é: "Acreditar para ver". Conforme o que acreditamos, vemos "coisas" e que até (ai de nós...) nos parecem óbvias. Quem terá legitimidade para dizer que estamos certos ou errados?
Ah este difícil contrato social...


restos de nespresso
batalhões no chão da sala -
já ouço clarins.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Solidão

A jornalista Sara Roy acaba de publicar um artigo sobre Gaza. E termina com estas dramáticas palavras: "O povo da Gaza sabe que foi abandonado. Algumas pessoas disseram-me que só sentiam esperança quando estavam a ser bombardeadas: assim pelo menos alguém lhes daria atenção".
Até uma bomba faz companhia contra a solidão do cárcere... (Quando é que "isto" acaba?)

previsão do tempo -
enfim alguém sabe
o futuro, em Gaza.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Coluna

Vertebral. Um traço que corre de Norte a Sul: de cima a baixo (e também do direito à esquerda, do frente e do atrás). Ter coluna = ter valores, orientação. Não pensar que vale tudo, não agir como se o certo não existisse. O certo existe: pode não ser perene mas existe e aprecio as pessoas que no meio de tanto nevoeiro e ventos contrários empurram o corpo e a coluna para o estreito caminho (Basho...) que acreditam que está certo.

no vendaval
os ramos quase a partir -
mas não.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quaresma

o vazio puxa-me o olhar.
Sem cores nem formas,
com luz parada e mortiça,
penso na noite impensável
como se não acreditasse no mar
com ele a bater
nos meus pés nus..

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Valentim

tomei banho
como a primeira vez fosse -
São Valentim

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Andar à pesca...

Existe uma expressão em língua inglesa que acho muito curiosa: "fishing for compliments". Diz-se que anda à pesca de cumprimentos a pessoa que faz "tudo e mais um par de botas" para receber algo que lhe assegura que fez alguma coisa de bom. Esta pesca pode penosa de se assistir: há pessoas que, em lugar de ver o cumprimento como uma consequência, o vêem como um objectivo. Como se fossem as borbulhas que provocam o sarampo e não o virus do sarampo que provoca as borbulhas...
É bom quando sabemos quantos centímetros temos de altura e quantos não temos. Andar nesta volátil pesca denota, antes de mais, que a pessoa não confia no mérito do que fez: mais depressa faz fé num elogio de circunstância do que numa análise mais objectiva.
Andar à pesca de cumprimentos... com cana ou rede é sempre um bocadinho deprimente de ver... (e vê-se muito...)

primeiras flores:
a Primavera chega devagar
mas inevitável.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Passado

Passado. Passado é aquela parte do tempo que nós (ou alguém) já percorreu com os seus passos. Passado, caminhado, percorrido. Mas também há passos para dar: nem todos os passos são passos/passados. Hoje brindo aos passos que passam (avançam) para o amanhã.

o que andei passou
dou passos para o que vem aí -
como o caranguejo?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Fevereiro


(Clique na foto para a tornar maior)
Neste Fevereiro frio, já espreita a Primavera: as "azedas" - as vibrantes flores dos trevos - enchem os campos de um amarelo vibrante. Hoje mesmo vi ao lado da estrada duas árvores ainda nuas de folhas mas já cobertas de flores brancas. É isso!!! Toca a chamar a Primavera!

Aí vai uma foto (do abençoado quintal da Ivany) para ajudar as árvores a lembrar o que é ter as folhas a fazer cócegas nos ramos...Huuuuummmmm...



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

a gate left open


Alice Frampton has been coordinator of Haiku' Canada's pacifi-kana region and Asssociate Editor of "The Heron's Nest".

She wrote a delicate and rich book named "a gate left open". It'a a book marked by an acute observation of Nature and a refined humor. It's a book where education is present together with a humanistic view of that complex process of bending the knees to teach someting to someone.

Thank you, Alice!



Alice Frampton tem sido a coordenadora da região do Pacífico da Sociedade Haiku Canadá e Editora Associada da revista "The Heron's Nest".

Escreveu um livro rico e delicado chamado "a gate left open". É um livro marcado por uma observação pertinente da Natureza e um humor refinado. É um livro onde a Educação está presente e acompanhada por uma visão humanista daquele processo que nos leva a dobrar os joelhos para ensinar algo a alguém.

Obrigado, Alice!


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Movimento

O movimento está em todo o lugar, As coisas que convencionamos chamar "paradas" e "inertes" estão em movimento. O problema é que a nossa efemeridade não nos permite ver este movimento. Duramos tão pouco que só muito dificilmente conseguimos ver que a vida é um filme e não uma fotografia. Ver movimento nas coisas (pessoas, montanhas, plantas, ...) paradas... Ora aqui está um bom ponto de observação para pensar em haiku...

corre luz no telhado -
reflexos dos carros ao sol
penteiam as telhas.


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