quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Fabricação" de um haiku

Alguns amigos têm-se mostrado incrédulos sobre a possibilidade de resumir um texto longo num haiku. Eu não diria que TODOS os textos se podem resumir a haiku. Longe disso: acho que cada texto tem a sua forma e o haiku não é a mais perfeita delas - é uma mais.
Mas também é certo que me acontece (realço a primeira pessoa do singular) gostar de reduzir textos a haiku. Compartilho uma destas experiências:

Estou numa estância de desportos de Inverno para umas curtas férias e ontem escrevi o seguinte texto:

queria que o silêncio
se colasse aos meus passos
e que, ao olhar para trás,
não visse as minhas pegadas
nem à frente
se me acenassem destinos.
Só a neve.
Como se eu tivesse caído do céu
e dali só saísse
sugado por ele.


Hoje, procurei fazer um haiku a partir deste texto. Eis o resultado:

no meio da neve,
sem pegadas nem destinos
olho o céu.


Que acham?

6 comentários:

  1. Gostei dos dois textos, mas o haiku deixa mais possibilidades para nossa imaginação!

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  2. Caros:

    Diz-se que o haiku não deve ser uma charada, um mistério mas que deve conter alguma ambivalência que permita que o leitor se aposse dele através da sua experiência mesmo que ela não seja (óbviamente) igual à do autor.
    Bom que gostaram!

    David

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  3. Luiz Gustavo:

    Mas que torrente de haiku. E muitos deles bons. Estou a ver que, como eu, ficou "apanhado" por esta estética. Vá aparecendo que eu vou visitando.
    Um abraço,

    David

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