domingo, 18 de abril de 2010

Uma Prenda de Primavera

Ela há dias de sorte: hoje Yvette Centeno faz-me chegar um poema que ofereceu a este blog. Antes de mais ele aqui está:


Cai a tarde
passam morcegos
no espelho da cidade
fogem da escuridão
atravessam as almas.

E agora o mais me impressionou nele. De um ponto de partida calmo, crepuscular e aparentemente tranquilo, gera-se o movimento e o prenúncio da noite, ou melhor, da Noite. O movimento cria-se pelo paradoxo dos morcegos não correrem para a escuridão mas sim dela fugirem; o prenúncio é dado pelo seu vôo que não só atravessa o ar mas fere as almas. E talvez seja este atravessamento que melhor sintetiza o ambiente do poema que sob uma capa quase bucólica, fala de uma improvável fuga à escuridão e de uma inexorável vulnerabilidade da alma.
É um texto muito denso na sua aparente simplicidade mas também outra coisa não seria de esperar da pena que o escreveu.
Muito obrigado, Yvette!

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